Trabalhadores empurram fim da escala 6×1 no Senado

A mobilização organizada dos trabalhadores do país quebrou resistências históricas e empurrou o Senado a aprovar na CCJ o fim da jornada 6×1 e a redução progressiva da carga semanal para 36 horas, sem corte salarial, em uma vitória política rara no mundo do trabalho. A pressão vinda das ruas, dos sindicatos e das redes sociais transformou o tema numa pauta nacional que o Congresso já não consegue ignorar.

A Comissão de Constituição e Justiça aprovou a PEC 148/2025, de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS). O relator, senador Rogério Carvalho (PT-SE), conduziu o texto que reduz imediatamente a jornada máxima de 44 para 40 horas no primeiro ano e, nos quatro anos seguintes, corta uma hora por ano até chegar ao limite civilizatório das 36 horas semanais.

O avanço da PEC reflete o que trabalhadores vêm dizendo em pesquisas recentes: a jornada 6×1 destrói saúde, afasta famílias, aumenta acidentes e rouba qualidade de vida. A própria Paraná Pesquisas, em estudo entregue à UGT e debatido pela ministra Gleisi Hoffmann, mostrou que a maioria absoluta percebe impactos diretos da jornada exaustiva na vida, no descanso e na saúde.

As redes sociais transformaram o debate em mobilização permanente. O Movimento Vida Além do Trabalho, citado no parecer de Rogério Carvalho, sintetiza a insatisfação de milhões que reivindicam dois dias reais de descanso semanal, um equilíbrio básico entre vida e trabalho e a superação de um modelo considerado desumano pela maioria da classe trabalhadora.

A votação extra-pauta provocou protesto do senador Eduardo Girão (Novo-CE), que disse ter sido impedido de pedir vista. O presidente da CCJ, senador Otto Alencar (PSD-BA), rebateu lembrando que houve audiências públicas e que o colegiado tinha compromisso de votar ainda neste ano.

A Câmara dos Deputados, por sua vez, tenta puxar o freio. O relator da subcomissão especial, deputado Luiz Gastão (PSD-CE), rejeitou o fim da escala 6×1 e propôs apenas a redução para 40 horas semanais, sob o argumento de risco econômico. O texto divergiu da proposta original da deputada Erika Hilton (Psol-SP), que previa justamente a jornada de 36 horas e o fim da escala.

A mobilização sindical, no entanto, cresceu. A ministra Gleisi Hoffmann vem articulando o tema em encontros no Paraná e no país, reforçando que a mudança é política de Estado. Além dela, o ministro Guilherme Boulos defende publicamente o fim do 6×1 como questão civilizatória, apoiada por mais de 70% da população segundo pesquisas internas.

A batalha agora vai para o plenário do Senado. Se aprovada, a PEC seguirá para a Câmara, onde trabalhadores e sindicatos já se organizam para impedir retrocessos. O clima é de virada histórica: depois de décadas de resistência patronal, a pauta do descanso semanal e da redução da jornada ganhou vez, voz e força.

O Brasil pode enfim sair do século XX no mundo do trabalho.

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