A base do governo Lula assumiu a presidência da CPI do Crime Organizado no Senado e pode convocar os governadores Claudio Castro, do PL do Rio de Janeiro, e Tarcísio de Freitas, do Republicanos de São Paulo, após o avanço de facções criminosas e matanças registradas nos dois estados. O senador Fabiano Contarato, do PT do Espírito Santo, foi eleito presidente do colegiado que investigará organizações, milícias e lavagem de dinheiro.
O movimento representa uma virada estratégica. Setores conservadores articulavam o comando para usar a comissão como palanque contra o governo federal, mas o bloco governista atuou para assegurar o controle político e técnico da investigação.
O senador Alessandro Vieira, do MDB de Sergipe, assumiu a relatoria. O general Hamilton Mourão, do Republicanos do Rio Grande do Sul, ficou com a vice-presidência. A votação foi apertada, seis a cinco.
A comissão pretende ouvir especialistas, autoridades federais e governadores de estados sob forte influência do crime organizado. A lista inclui dirigentes das unidades mais seguras e também Rio e São Paulo, onde ações policiais recentes reacenderam o debate sobre letalidade e abusos.
A fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, explicitou o desconforto do Planalto com o massacre no Rio. Lula classificou a megaoperação que deixou 121 mortos como “matança” e defendeu que legistas da Polícia Federal integrem a apuração independente sobre as mortes. Segundo ele, a ordem judicial era para prisões, não para execuções.

A CPI deve avaliar a operação fluminense, celebrada pelo governador Claudio Castro como “sucesso”, mas apontada por defensores de direitos e por ministros de Estado como um desastre humanitário. Tarcísio de Freitas também está sob pressão após ações violentas da polícia paulista em periferias, avanço do PCC e execuções na Baixada Santista.
A comissão vai investigar lavagem de dinheiro com criptomoedas e setores lícitos como combustíveis, bebidas, garimpo e imóveis. O colegiado examinará rotas de armas e drogas, integração de forças federais e estaduais, sistema prisional e corrupção.
A base bolsonarista ensaiou protesto. O senador Eduardo Girão, do Novo do Ceará, acusou o governo de “tomar de assalto” a CPI. Já Randolfe Rodrigues, do PT do Amapá, rebateu afirmando que o governo federal lidera a repressão financeira às facções, citando a Operação Carbono Oculto da Polícia Federal.
O presidente defende o endurecimento legal contra facções, com o projeto “antifacção” e a PEC da Segurança Pública. O governo contabiliza aumento histórico de operações e apreensões de drogas. O STF acompanha o caso do Rio e garantiu acesso da Defensoria às provas para impedir destruição de evidências.
A expectativa é de que o colegiado concentre holofotes e pressione governadores. O país vive o maior debate sobre segurança em anos, com a disputa narrativa entre combate ao crime e garantias constitucionais, justiça e direitos humanos.
A chance de um inquérito técnico, sob uma liderança progressista que prometeu independência, expõe a disputa real: enfrentar facções com inteligência e Estado de Direito, ou seguir na trilha da violência indiscriminada que multiplica vítimas civis e erosiona a democracia.
A CPI nasce sob tensão e holofotes. Ao assumir seu comando, o campo democrático assume também a responsabilidade histórica de desmontar o crime organizado sem alimentar um Estado punitivista e sem freios. O Brasil precisa de segurança pública com lei, ciência e humanidade, não de licença para matar. Continue acompanhando os bastidores da comissõa de investigação pelo Blog do Esmael.


Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.





