Câmara dos Deputados avança na votação de um projeto descrito como redução de penas, mas que opera como anistia velada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e reorganiza a disputa presidencial em benefício direto do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), nome preferido da Faria Lima para enfrentar Lula (PT) nas eleições de 2026.
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), decidiu levar ao plenário a proposta que suaviza as condenações impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) aos envolvidos na tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023. O relator, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), confirmou que seu texto libera todos os presos do atentado contra a democracia e reduz a pena de Bolsonaro para dois anos e quatro meses.
A movimentação tem endereço político definido. Nos bastidores, dirigentes reconhecem que Tarcísio depende de um Bolsonaro menos radioativo para herdar o núcleo duro da direita radical e, ao mesmo tempo, manter apoio do grande capital. É nesse ponto que entra a Faria Lima, que vê no governador paulista a única candidatura capaz de unificar conservadores, empresariado e setores militares numa frente anti-Lula e anti-PT.
O cálculo do mercado é pragmático. Um Bolsonaro condenado e preso fragiliza o bloco de direita e empurra Tarcísio para uma disputa interna desgastante. Um Bolsonaro parcialmente reabilitado pelo Congresso reorganiza o campo conservador, oferece narrativa de vitimização útil ao bolsonarismo e entrega ao governador paulista uma plataforma mais limpa para projetar sua candidatura nacional.
Paulinho da Força afirma que a redução é geral, mas o efeito político é concentrado. A extrema direita recupera tração, o clã Bolsonaro ganha narrativa, e Tarcísio se fortalece como alternativa preferencial para investidores e articuladores que desejam um antagonista competitivo para Lula em 2026.
A sessão ocorre em clima de tensão democrática. A Câmara atravessa semanas de conflito interno, censura a jornalistas e tentativas de enquadrar parlamentares críticos, como Glauber Braga (PSOL-RJ), o que amplia receios de retrocesso institucional. Motta insiste que a pauta é técnica, mas o movimento tem impacto direto na correlação de forças da disputa nacional.
O relator defende que o país precisa virar a página, porém, segundo o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), a página que se tenta virar contém o maior ataque ao Estado Democrático de Direito desde a ditadura.
Segundo os governistas, a votação não apenas revisa condenações, mas redesenha alianças e reforça o projeto político de Tarcísio e da Faria Lima, que trabalham para impor nova hegemonia no campo da direita.
Para o Palácio do Planalto, o plenário decide em tempo real se reafirma a democracia ou se normaliza a indulgência aos responsáveis pelo ataque às instituições.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.




