Argentina suspeita de trama maior para assassinar Cristina Kirchner: dados do telefone de brasileiro foram apagados pela polícia

Poderia parecer uma teoria da conspiração, mas os últimos acontecimentos indicam que a trama pode ser maior do que supunha inicialmente. Os argentinos suspeitam que “forças ocultas” atuaram para assassinar Cristina kirchner. Dados do telefone do brasileiro foram apagados pela polícia, o que corroboram com a tese.

A juíza María Eugenia Capuchetti e o promotor Carlos Rívolo dedicaram grande parte do domingo para entender o que aconteceu com o telefone do homem que queria assassinar Cristina Fernández de Kirchner depois que o Página/12 revelou que o aparelho havia chegado formatado —como se tivesse saído da fábrica— à sede da Polícia de Segurança Aeroportuária (PSA), onde foi preciso extrair dados que permitissem entender com quem ele se comunicava antes da tentativa de homicídio e em quais redes estavam. 

Apesar das críticas lançadas por diferentes referentes do partido governista  —apontando que evidências-chave podem ser perdidas para desvendar se Fernando Sabag Montiel faz parte de uma trama maior—, em “Comodoro Py” [endereço da Justiça Federal em Buenos Aires] eles estão confiantes de que existe a possibilidade de recuperar a informação.

O número de telefone de Sabag Montiel é uma evidência importante, mas está longe de ser o único em um caso em que o agressor e a arma foram identificados desde o início. O celular é essencial porque pode abrir uma porta para o mundo daquele homem de 35 anos: quais eram seus vínculos ou se ele tinha vínculos com grupos políticos determinados a atacar a vice-presidente até que tentassem matá-la.

Na sexta-feira, o tribunal de Capuchetti intimou a Polícia Federal Argentina (PFA) a tentar extrair informações por meio de um programa israelense chamado UFED. A extração falhou porque o telefone estava bloqueado e a senha de Sabag Montiel não estava disponível, que também não concordou em fornecê-la quando foram investigá-lo na sede da PFA na rua Cavia, onde está detido. A Polícia de Segurança Aeroportuária (PSA) informou ao tribunal que dispunha de uma versão mais moderna do que a da PFA, que poderia ajudar a contornar o bloqueio. O telefone chegou às mãos da força liderada por José Glinski sob custódia do juiz Capuchetti e em um envelope aberto, o que gerou algum tipo de alarme. Quando a perícia foi avançada, apareceu um aviso dizendo que o telefone foi redefinido para o status de fábrica. Quer dizer, como novo.

No que foi um domingo atípico para o Comodoro Py, no tribunal de Capuchetti eles tomaram declarações tanto dos especialistas da PFA que inicialmente queriam extrair os dados quanto daqueles do PSA que receberam o dispositivo de reinicialização. Os investigadores ouviram com interesse o depoimento de Camila Serén, técnica da PSA que examinou o telefone. O especialista disse basicamente que o código de erro que foi gerado no desbloqueio não pode ter sido devido a um erro manual – como se alguém estivesse manipulando o telefone – mas que deveria ocorrer quando o celular estava conectado ao computador para executar o Programa UFE.

Economia

A outra questão é por que o telefone foi zerado. As explicações podem ser agrupadas em dois conjuntos: ocorreu um erro no momento da extração – ou seja, no momento inicial de utilização do programa – ou pode haver um apagamento remoto caso esteja configurado. No caso de uma exclusão remota, poderia ser feita através de uma conta Google associada ao telefone ou se, por exemplo, Sabag Montiel tivesse configurado que o telefone fosse formatado após tantas tentativas frustradas de inserir o código de acesso – o que não parecia ser o caso. É claro que Sabag Montiel não poderia fazê-lo através do Google porque estava preso. A questão é se mais alguém fez.

A empresa que comercializa o UFED está analisando o que deu errado, comentaram fontes judiciais. As mesmas fontes estão otimistas de que esta informação estará finalmente acessível. Das memórias do celular eles conseguiram extrair dados que estão sendo analisados.

Nem o tribunal nem a promotoria acreditam que o ocorrido tenha sido responsabilidade da PFA e, como o Pagina/12 conseguiu reconstituir, não foi o teor em que os peritos da PSA testemunharam. No entanto, há quem se pergunte se a força policial deveria ter intervido na extração do telefone quando Capuchetti e Rívolo indagam se a guarda – formada por membros da PFA – foi negligente no momento do ataque à vice-presidente na porta de seu apartamento no bairro Recoleta.

“A perícia do telefone, segundo os especialistas nesse tipo de análise, deve ser feita com cuidados iniciais: assim que houver contato com o telefone, ele deve primeiro ser desligado e depois colocado em uma bolsa chamada faraday, o que impede que ele limpe remotamente o conteúdo do telefone. Se isso não fosse feito, o que aconteceu poderia acontecer”, alerta a ex-ministra da Segurança Sabina Frederic.

Questionado pelo Página/12 sobre se a PFA deveria fazer parte da investigação, Frederic sugeriu que não. “Recomendo não. A PFA fez parte das circunstâncias. Eu sei que há um resumo que começou. É claro que o cenário não foi previsto e que há uma série de questões que não ocorreram”, explica Frederico.

A outra questão é por que o gabinete do Ministério Público não foi utilizado para estes casos, a Direção-Geral de Investigações e Apoio Tecnológico à Investigação Criminal (DATIP) – criada por Alejandra Gils Carbó quando se avançava na implementação de um processo código que colocaria os promotores à frente das investigações judiciais e os juízes para controlar que as garantias não sejam violadas. A Rívolo, em geral, intervém ao DATIP para realizar análises, mas não extrações. Segundo fontes da Procuradoria-Geral da República, a versão do UFED do DATIP é menos sofisticada do que a das forças de segurança que intervieram, o que também pode ter influenciado a decisão.

A formatação do celular caiu como um balde de água fria para o círculo mais próximo do CFK. Seu advogado Gregorio Dalbón alertou que “todos que o tocarem terão consequências“. Espera-se que a vice-presidente compareça no caso, algo que não foi formalizado até o momento. 

Na mesma linha de Dalbón, falou o deputado Rodolfo Tailhade, presidente da Comissão de Justiça da Câmara dos Deputados. “O procedimento falhou porque eles queriam que ele falhasse. O juiz e o promotor estão determinados a garantir a impunidade do ato, o encobrimento dos autores intelectuais ou de todos aqueles que estão relacionados. Não se pode entender como em um caso de tal magnitude não mantiveram as precauções mínimas. Mostraram absoluta apatia independentemente da responsabilidade que as forças de segurança ou os intervenientes possam ter”, reclamou Tailhade.

Página 12, com acréscimo.

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