O Paraná e seus mistérios, por Requião Filho

Por Requião Filho*

O curioso caso do Estado que vendeu sua estratégica empresa e passou a comprar os seus serviços.

Caro leitor, lanço hoje os seguintes questionamentos: você venderia sua galinha dos ovos de ouro e passaria a comprar os ovos dela? Você venderia sua fábrica para, no dia seguinte, começar a comprar sua própria produção? Em plena pandemia, momento na qual a tecnologia se tornou o bem mais valioso, você a entregaria para terceiros? Você passaria todo seu conhecimento técnico e depois contrataria o serviço que você mesmo prestava com excelência?

Ficam ainda mais curiosas as indagações acima se você acrescentar o dado de que o comprador sequer efetuou o pagamento pela compra. Ou seja, o vendedor, sem receber, paga para aquele que não o pagou. Difícil, né?

Mas, por mais ilógico que possa parecer, não se trata de um conto, ou de um roteiro de filme, é fato e aconteceu no Paraná. Explico:

O atual governo resolveu entregar para a iniciativa privada a Copel Telecom, empresa que desenvolvia uma estratégica função social, ligando via fibra ótica todos os municípios do Estado. Além disso, era uma empresa que se colocava como uma excelente opção para o mercado.

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A Copel Telecom democratizou as escolas públicas do Estado, levando internet de alta qualidade a todos os estudantes, gratuitamente. Ligou hospitais, laboratórios, centros de pesquisas, órgãos públicos e o próprio Governo do Estado aos 399 municípios paranaenses. Esta empresa tão estratégica, tão importante, foi vendida e agora somos obrigados a comprar os seus serviços.

Você poderia me perguntar se era uma empresa deficitária, e que sua venda teria se dado na vã tentativa de encontrar alguma lógica… mas eu tenho que te responder que não. A Copel Telecom era um sucesso em qualidade de serviço e retorno social. Uma empresa que jamais poderia ter sido retirada dos paranaenses.

Sua avaliação era lucrativa, prestava um dos melhores serviços do Brasil, apresentando lucro de 97,5 milhões no primeiro trimestre de 2020. Com grande estrutura, possuía 33 mil quilômetros de fibra ótica, 260,2 mil acessos de banda larga fixa no Paraná e estava presente nos 399 municípios paranaenses. E assim, sem explicação plausível, o Paraná a entregou para a iniciativa privada. Uma empresa com enorme potencial para a chegada de nova tecnologia 5G e que, sem dúvida, traria competitividade e atrairia investimentos ao Estado.

Ainda não se pode deixar de dizer que os compradores da Copel Telecom seguirão pagando pela aquisição da empresa por um longo período, enquanto isso, o Estado pagará à vista os serviços por ela prestados. Ou seja, o próprio Paraná arcará com parte da compra da sua ex-empresa.

A conclusão é óbvia: a venda da Copel Telecom é absurda e o Paraná, mais uma vez é escanteado e o interesse público esquecido.

*Requião Filho, advogado, é deputado estadual pelo MDB do Paraná.