‘Ciro Gomes mostrou profunda ignorância na questão das reservas internacionais’, diz economista

O jornalista e economista J. Carlos de Assis, em artigo especial, afirma que o ex-governador Ciro Gomes (PDT) mostrou “profunda ignorância” ao defender o uso de reservas internacionais para retomar a economia do Brasil.

Segundo o articulista, o ex-candidato à Presidência da República pelo PDT está envenenado pela ideologia nesses tempos de pandemia de coronavírus. “É com certa decepção que constato a vulnerabilidade também de Ciro.”

J. Carlos de Assis explica para Ciro e demais economistas a estibordo e a bombordo: “O Banco Central não precisa de comprar dólar para emitir real. É um emissor soberano, sem lastro. Pode fornecer real para a economia sem mexer nas reservas em dólar.”

Leia a íntegra do artigo:

Não se usam reservas para fazer investimento interno

J. Carlos de Assis*

Economia

A ideologia é um veneno poderoso que atua sobretudo em tempos de crise. Recente entrevista do ex-governador Ciro Gomes, sustentando que se deveria usar as reservas internacionais do país para financiar a retomada da economia, é fruto da profunda ignorância sobre relações financeiras que está envenenando as mentes mais vulneráveis da economia política brasileira. É com certa decepção que constato a vulnerabilidade também de Ciro.

Ele fala também em quantidades: acha que não precisamos mais de 250 bilhões de dólares em reservas. Supostamente, os cerca de 150 bilhões de dólares restantes, em relação a menos de 400 bilhões de dólares atuais, poderiam ser investidos. Entretanto, Ciro não explica como se faz essa mágica. Como gastar um milhão de dólares das reservas? Não é tão simples como parece. A moeda corrente no Brasil é o real, não o dólar. Isso dificulta tudo.

Para usar em investimento interno um milhão de dólares das reservas, é preciso que o Banco Central converta esses dólares em reais. Para isso, terá que emitir real. Entretanto, emitir real é da rotina diária do Banco Central. Seu impacto monetário na economia se esgota na emissão. O Banco Central não precisa de comprar dólar para emitir real. É um emissor soberano, sem lastro. Pode fornecer real para a economia sem mexer nas reservas em dólar.

Como se explica isso? O motivo é muito simples. Quando entra dólar na economia por conta de uma exportação, o Banco Central compra o dólar do exportador e lhe dá em contrapartida reais de sua emissão. Quando sai dólar por efeito de importações, faz a operação contrária: recebe uma receita em real do importador e fica com o dólar correspondente nas reservas. Receitas em dólar e real se equivalem segundo a taxa de câmbio.

Há apenas uma condição possível para o uso das reservas em investimento: caso o Banco Central venda os dólares no mercado negro. Mas isso não seria inócuo, independentemente do aspecto moral. Ao converter dólares no mercado negro, sem a correspondente emissão de real pelo Banco Central, seria inevitável uma forte contração monetária interna da economia, pois os usuários do dólar enxugariam o mercado.

Essas relações financeiras são características de uma economia de moeda soberana e não conversível no mercado. Nelas, a função das reservas é, fundamentalmente, garantir o fluxo do comércio de importações e de pagamentos externos. No Governo Sarney, no ápice da crise da dívida externa brasileira, tivemos o grande impacto de um esgotamento virtual de reservas internacionais, levando-nos à moratória externa.

Hoje, o confortável colchão de reservas deixado pelo Governo Lula seria uma tremenda ajuda para garantir compras externas de equipamentos e tecnologia, sem risco de calote. A política de Guedes, ao contrário, esgotando as reservas exclusivamente por negociatas financeiras de seu grupo de pilantras, nos põe em risco direto de não pagar nossas contas externas quando a crise atual acabar. É que este Governo não tem política industrial.

A China tem 4 trilhões de dólares em reservas e nem sabe direito o que fazer com elas, pois seria afogada em importações, prejudicando a indústria nacional. Certamente não fará como o Governo Dutra, que queimou em quinquilharias nossas reservas constituídas na Segunda Guerra.Os comentaristas que se metem por mares desconhecidos causam tremendo prejuízo ao debate nacional. Desviam-nos de assuntos centrais, como a privatização.

*J. Carlos de Assis é jornalista e economista, doutor pela Coppe/UFRJ, da Frente Nacional Em Defesa da Soberania.

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Hoje é dia do #ChurrascoDaMorte de Bolsonaro

As redes sociais amanheceram este sábado (9) ensandecidas com o “Churrasco da Morte” convocado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Palácio do Alvorada.

No Twitter, os navegantes levantaram a hashtag #ChurrascoDaMorte para lembrar que, enquanto o presidente faz festa, hoje o Brasil possivelmente chegará a 10 mil mortes por coronavírus.

Bolsanaro disse no final do dia de ontem que receberá até 3 mil convidados para o tal “Churrasco da Morte” e para jogar uma “pelada” de futebol na residência oficial.

O ex-aliado MBL (Movimento Brasil Livre) ingressou na Justiça contra a realização do festerê presidencial, sob pena de multa de R$ 100 mil e mais responsabilização penal.

“Tem mil e trezentos convidados, quem vier aqui amanhã, se tiver mil [pessoas] eu boto pra dentro [do Palácio do Alvorada]. Vamos fazer um churrasco para mais ou menos 3 mil pessoas”, prometeu o presidente, se dirigindo a correligionários.

“Estou cometendo um crime. Vou fazer um churrasco no sábado aqui em casa. Vamos bater um papo, quem sabe uma ‘peladinha’, alguns ministros, alguns servidores mais humildes que estão do meu lado”, revelou na quinta-feira (7).

Ainda sobre o churrasco deste sábado, o presidente disse que vai fazer uma vaquinha de R$ 70. “Não vai ter bebida alcoólica senão a primeira-dama coloca todo mundo para correr.”

Nas redes sociais, Bolsonaro foi alvo de duras críticas pelo planejamento da festa. Os internautas até fizeram a seguinte linha do tempo:

  • 100 mortos – “histeria”
  • 1.000 mortos – “gripezinha”
  • 2.000 mortos – “está indo embora”
  • 3.000 mortos – “eu não sou coveiro”
  • 5.000 mortos – “e daí?”
  • 10.000 mortos – “vou fazer um churrasco”

“Vai comemorar o quê? Com 140 mil infectados e 10 mil mortos pela Covid-19, vai pedir o fim do isolamento social?”, questionou o deputado Júlio Delgado (PSB-MG).

Para o deputado Ivan Valente (PSOL-SP), Bolsonaro prefere fazer piada e, contrariando todas as regras de prevenção, diz que vai fazer um churrasco para 30 amigos com direito a futebol. “É podre. É nefasto. É inexplicável. É enjoativo.”

“Sábado vamos chegar a 10 mil mortos no Brasil.E o Bolsonaro vai fazer um churrasco .O que ela vai comemorar?, quis saber o deputado Alexandre Frota (PSDB-SP).

Perguntado porque não suspendia o churrasco para dar o bom exemplo, Bolsonaro ironizou dizendo que a festa será para 3 mil pessoas.