“As pessoas não querem ficar escutando lamentações, que a culpa é do outro”, diz Gleisi Hoffmann

via Metro

O Jornal Metro publicou em sua edição de hoje (4) uma entrevista com a senadora e candidata em aliança do PT com PDT, PCdoB, PRB e PTN ao governo estadual, Gleisi Hoffman. Ela busca a eleição como a primeira mulher governadora do Paraná. Com a experiência de dois anos e meio na chefia da Casa Civil da presidência da República, ela diz que pode implantar no Estado políticas bem sucedidas como as que acompanhou no governo federal e rebate as acusações de que trabalhou contra o Estado em Brasília.
O Jornal Metro publicou em sua edição de hoje (4) uma entrevista com a senadora e candidata em aliança do PT com PDT, PCdoB, PRB e PTN ao governo estadual, Gleisi Hoffman. Ela busca a eleição como a primeira mulher governadora do Paraná. Com a experiência de dois anos e meio na chefia da Casa Civil da presidência da República, ela diz que pode implantar no Estado políticas bem sucedidas como as que acompanhou no governo federal e rebate as acusações de que trabalhou contra o Estado em Brasília.

Leia a seguir a íntegra da entrevista publicada na edição de hoje do Jornal Metro. Ao final, há um perfil da candidata.! 

Porque o eleitor deve votar na senhora? Penso que o Paraná, por ser a quinta economia do país, está deixando de aproveitar oportunidades de desenvolvimento de políticas públicas. O Paraná tem hoje um governo tímido, que não tem ação nem iniciativa, e depende muito da atuação dos outros. Todas as vezes que eu vejo o governador falar sobre o Paraná é sempre colocando responsabilidade em outro. Ou no governo passado, ou no governo federal, ou nas condições adversas. Quando nós queremos fazer as coisas, temos que tomar as rédeas da situação e fazer acontecer. O Paraná pode responder a ações e estímulos para ser referência de políticas nacionais, inclusive. Poderíamos ser uma referência no desenvolvimento da saúde. Somos o 23!º Estado em investimentos na saúde, sequer investimos os 12% que manda a legislação.

O governador Richa diz que outros Estados governados pela oposição não tiveram uma adversária na chefia da Casa Civil e que o Paraná sofreu com isso. O que a senhora diz sobre isso? Eu lamento, por que é uma desculpa para justificar a incompetência administrativa, a inoperância a que o Estado foi submetido. à‰ um governador que prometeu um choque de gestão e está entregando aos paranaenses uma gestão chocante. Eu não me lembro, como paranaense, nos últimos 15, 20 anos, de que o Estado tenha sido notícia em jornais nacionais por calote de fornecedores, faltar gasolina em carro de polícia, ter uma desarticulação em políticas educacionais, não cumprir os recursos que tem que cumprir em relação à  saúde. E não me consta que isso seja resolvido com operação de crédito. Investimentos federais têm muitos no Paraná, a começar pelas rodovias federais.

Nós temos mais de R$ 5 bilhões de investimentos em rodovias federais no Paraná. Essas rodovias não servem ao povo do Paraná? Não podem ser tidas como um grande investimento do governo federal? Só em programas habitacionais, como o “Minha Casa, Minha Vida”, nós temos mais de R$ 15 bilhões investidos no Paraná. Nós distribuímos 1.100 máquinas no Paraná, em prefeituras com menos de 50 mil habitantes. 400 creches estão em processo de construção no Estado. Unidades básicas de saúde, 860 médicos do programa “Mais Médicos”. Então, como que o Paraná não recebeu investimentos do governo federal? O que o governador não conseguiu foi fazer um empréstimo por absoluta inapetência administrativa. Primeiro, porque estava gastando muito mais com servidores do que permite a lei de responsabilidade fiscal. Quando resolveu isso, não conseguiu fazer o investimento em saúde. Precisou de uma decisão judicial e um termo de ajustamento e conduta com o Ministério Público dizendo que ia colocar em saúde em 2014 o que não colocou em 2013 para poder liberar o empréstimo.

A senhora não interferiu politicamente nessa questão? Toda interferência que eu tive foi em favor do Paraná. Aliás, nenhuma operação de crédito que passou pela Casa Civil, encaminhada pela Fazenda para ir ao Senado, e todas foram, ficou mais do que 10 dias lá. Votei a favor das operações de crédito do Paraná, por que acredito que a população não tem nada a ver com o jogo político.

Economia

Há como fazer cortes no funcionalismo no Paraná? Primeiro temos que saber que projeto de Estado queremos para dimensionar a máquina administrativa. Não pode ser um projeto com viés político, de encher o Estado com cargos comissionados. Nós precisamos de um Estado que tenha policiais, professores, médicos, enfermeiros, que preste serviço ao cidadão. Ter funcionários públicos em um número grande não necessariamente quer dizer um desperdício, ou não ter compromisso com uma boa gestão. à‰ ter compromisso com a prestação de serviço ao cidadão.

Quais são os pontos chaves da sua proposta para o governo do Paraná? Em primeiro lugar, a saúde. Eu não me conformo de nós termos a quinta economia e sermos um dos últimos Estados em investir em saúde. Eu acompanhei a presidente Dilma por três anos na Casa Civil, e um dos programas que mais me deram satisfação de coordenar foi o Mais Médicos. Hoje nós temos 14 mil médicos no Brasil !“ só no Paraná são 860 !“ que estão atendendo a população de forma diferenciada. Se é possível fazer isso na saúde básica, é possível também na saúde eletiva, nos exames, nas questões hospitalares. Por que nós não conseguimos ainda preencher os hospitais públicos regionais com servidores? Assisti a uma entrevista do governador que não quis acreditar: ele foi à  inauguração de um hospital, perguntaram sobre a contratação de pessoal, e ele disse que não era problema dele, e sim da diretora do hospital. Ele é o gestor do Estado, quem contrata é ele! Nós temos que investir em gente na saúde. Não é possível que nós tenhamos dificuldades em leitos hospitalares, de UTI. Nós sequer temos um sistema compatibilizado para o Estado inteiro com informações do paciente. O Paraná é o único Estado que tem fibra ótica nos 399 municípios. Essas fibras são da Copel, uma empresa pública com capital majoritário do Estado. Por que isso não é utilizado para integrarmos os serviços públicos? Integrar todas as unidades básicas de saúde, fazer telemedicina. Eu posso muito bem fazer avaliação de um exame para um paciente, se eu estou no interior, pegando especialistas de Curitiba ou mesmo de São Paulo. Temos que usar a tecnologia da informação a favor dos serviços públicos.

Quais os outros destaques do seu programa? A segurança pública, que é um grande desafio para todos nós. Mas grande parte dos problemas nós resolvemos com gestão e integração. Um dos grandes legados que a Copa deixou para o Brasil foi a integração das forças de segurança nacionais. Conseguimos integrar Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar, Polícia Civil, Guarda Municipal, Forças Armadas. Criamos os centros de comando e controle. Foi um investimento muito grande, não só de equipamentos nos centros de comando, as viaturas e armamentos que o governo federal dispôs aos Estados e municípios que iam receber a Copa, mais toda a interação e articulação das forças policiais. Eu estive num centro de comando e controle em Pinhais, com a Guarda Municipal, a PM, os bombeiros. O prefeito teve a iniciativa, e hoje Pinhais tem câmeras de vídeo em todas as saídas da cidade, nos pontos mais críticos, e nesse centro de comando, que é uma sala simples com muitas telas, eles vêem a movimentação de toda a cidade e fazem a distribuição da guarda e da PM de acordo com a necessidade. Com esse acompanhamento em tempo real, 24 horas por dia, e essa integração, eles reduziram em mais de 50% o volume de homicídios e problemas em geral na segurança pública. Nós podemos replicar esse modelo, que é uma coisa que está sendo feita aqui, e não precisamos trazer uma UPP/UPS, que muitas vezes não tem a ver com nossa realidade, a forma de organização social que nós temos, e aí não tem o resultado prático.

Na Copa, houve também utilização das forças armadas. Isso poderia voltar a acontecer no Estado? Houve de forma complementar. Você não pode colocar as forças armadas para fazer policiamento ostensivo, por exemplo, já que eles não são nem preparados para isso. Mas de maneira complementar, como para guardar obras estratégicas, como usinas hidrelétricas, que têm a ver com a segurança nacional. Através de um convênio e de uma integração, é óbvio que nós podemos ter as forças armadas presentes. Se tem locais estratégicos que as forças armadas podem ser responsáveis, como rodovias, com a PRF e o DNIT.

A senhora conhece a situação financeira do Estado? Tenho, pelas publicações dos balanços, o mesmo acesso que qualquer pessoa tem. à‰ uma situação ruim. Se pegar de 2011 para cá, nós tivemos um crescimento expressivo de receita, de mais de 50% só na receita própria (ICMS), e tivemos crescimento nos repasses federais, mas tivemos crescimento de despesas de 122%. à‰ óbvio que a conta não fecha. E geralmente é despesa de custeio. Qual é o grande investimento que o governo do Estado fez nos últimos três anos? Qual a grande obra? à‰ injustificável o Estado acumular um passivo desses sem ter feito nada de investimento.

Essa despesa com custeio seria reduzida como? Temos muitas terceirizações. Eu não sou contra, tem serviços do Estado que têm que ser complementados, mas quando tudo vira terceirização, nós corremos o risco de que tudo vire um grande negócio, e é muito ruim. Por exemplo, contratos nessa área de tecnologia da informação. Hoje, majoritariamente, os contratos em tecnologia da informação são terceirizados, quando nós poderíamos resolver muita coisa dentro da própria casa, com ações da Celepar, com apoio da Copel. Na área de rodovias, por exemplo, é uma pena o que está acontecendo. Você pode falar com qualquer servidor do DER e ele vai te dizer que está sendo desmontado. Não tem um equipamento no interior do Estado para fazer tapa-buraco, um socorro de emergência. Tudo você tem que recorrer a serviços de terceiros, contratar, licitar. Nós estamos tendo um desmonte da máquina do Estado. Estamos pagando duas vezes a conta.

Quais são seus projetos para as mulheres? Eu tenho um compromisso com as mulheres desde meu início de caminhada política. Fui diretora financeira de Itaipu, e nós fizemos o primeiro programa na área do setor elétrico brasileiro chamado “Equidade de Gênero”. Depois a Eletrobras também aderiu e estendeu para as demais empresas. As mulheres são mais de 50% da população. Não vamos ter uma democracia plena se a metade da população não estiver incluída, participando de todos os processos. Eu vejo que o setor público interessa particularmente à s mulheres, por que elas são as maiores utilizadoras dos serviços públicos. Nas unidades de saúde, majoritariamente há mulheres com seus filhos, idosos ou alguém da família nas salas de espera para uma consulta. Se for para uma porta de escola, uma creche, acontece a mesma coisa: a maioria é de mulheres. Na área de segurança pública, quem mais sofre pela falta de segurança com os filhos são as mulheres. As mulheres são sempre o objetivo maior de uma política pública, porque são as usuárias com maior intensidade. Uma sociedade com equilíbrio não pode ser uma sociedade que olhe a violência contra a mulher e não tome medidas para barrá-la. A violência dentro de casa contra a mulher gera violência na rua: uma criança que nasce e cresce vendo uma mãe ser ofendida e humilhada é uma criança que não vai ter comportamento diferente na sociedade, ou ela será vítima, ou agressora.

O problema maior ainda é a violência? Nós temos grande parte das mulheres que ficam sujeitas à  violência porque tem dificuldades na questão econômicas !“ ou para conseguir um emprego, ou de encontrar apoio para o empreendedorismo. Um programa que enfrente a violência tem que ter essa visão mais ampla, ou seja, a gente ter uma política de crédito orientado, ações voltadas à  mulher. As mulheres são grandes empreendedoras, quando você pega micro e pequenas empresas, até aquelas que muitas vezes nem legalizadas estão, são mulheres que estão à  frente.

Na campanha, sua coligação, tempo de TV: dá para enfrentar os adversários? Estou muito feliz com minha coligação, ela reflete muito a convivência de partidos que já andam há muito tempo juntos na política: o PT, o PDT, o PC do B, o PRB e o PTN. E ela também é muito próxima daquilo que nós construímos em Curitiba, que deu certo para ganhar a eleição e está dando certo para governar a cidade. Estou feliz de ter Dr. Haroldo Ferreira como vice, um médico pediatra, testado na área pública, já foi da Fundação Nacional da Saúde, já foi secretário de saúde. Acho que minha chapa espelha bem esse compromisso prioritário que nós vamos ter com a saúde, tendo um médico como vice-governador. E também o Gomyde como candidato ao Senado, um jovem com vontade de fazer as coisas, com presença no Estado, com disposição. O tempo de TV é o suficiente deixar nosso recado para convencer os eleitores.

Como o momento político do país vai refletir em sua candidatura? Eu penso que nós vamos ter, por parte da presidenta Dilma, uma apresentação muito significativa de programas e projetos que foram feitos para o país. Não vejo, em relação aos outros concorrentes, com o respeito que tenho pela história de ambos, condições de ter um programa que seja alternativo ao que o Brasil está enfrentando hoje. Nem de política fiscal, nem cambial, nem monetária, que é o tripé de sustentação do desenvolvimento econômico. Hoje nós estamos atraindo investimento no Paraná por que temos crédito subsidiado, temos uma política fiscal nacional de retirada de impostos, de incentivos fiscais, Então eu penso que a presidente vai ter muito o que mostrar, e acho muito difícil qualquer um dos candidatos fazer uma proposta alternativa que tenha sustentabilidade. Não tenho dúvida nenhuma de que a presidente vai ser reeleita. E está na hora de termos uma ação e colocar o Paraná para estar ao lado desse desenvolvimento que há tanto tempo o Brasil já é beneficiário.

O programa Paraná Competitivo tem influência nesse cenário? Ele melhorou o ambiente de negócios, talvez, porque antes era um ambiente muito arredio. Mas quem dá as condições não é o Estado, é a União. Se você pegar a DAF Caminhões, a Volkswagen, são incentivos de IPI. Elas vieram para o Brasil, e estão no Paraná por que algumas já tinham plantas no Estado, ou porque no ponto de vista geoeconômico seja interessante, perto de porto, de mercado consumidor.

O ambiente no Paraná era arredio aos investimentos de fora? Eu diria que não havia um esforço de trazer as empresas para cá. Talvez agora haja um esforço maior. Mas dizer que o governo do Estado, através de seu programa, é responsável por essa atratividade é fazer uma avaliação muito simplista, por que o governo do Estado não faz política macroeconômica, cambial, monetária nem fiscal nessa proporção.

Como vai ser o embate entre os três principais candidatos? Espero que seja um debate de alto nível. As pessoas não querem mais ficar escutando ataques e lamentações, dizendo que a culpa é do outro. As pessoas querem saber o que cada uma das candidaturas e suas alianças pode oferecer de melhor à  população. Há uma candidatura de alguém que já foi governador por três vezes e o paranaense conhece. Uma candidatura de alguém que teve oportunidade para fazer um desenvolvimento que disse que faria, que o eleitor também conhece, e que não fez. E a minha candidatura. Estou propondo trazer a experiência que tive no governo federal, nos cargos que exerci, o aprendizado que tive com a presidenta Dilma e o ex-presidente Lula, que tantos programas colocaram no Brasil e fizeram a diferença.

Dois candidatos já estiveram no Executivo estadual. Essa experiência faz falta? à‰ interessante analisar o que eles já fizeram, de positivo e negativo. Eu tive experiências administrativas, não no governo do Estado, mas fui diretora financeira de Itaipu, fui responsável pela área de responsabilidade social da empresa. Fui também secretária municipal de gestão em Londrina, fui secretária de Estado no Mato Grosso do Sul e fui chefe da Casa Civil, com certeza um dos cargos mais desafiadores da minha vida e que mais me ensinou também. Conheci o Brasil, os desafios, o dia a dia de uma gestão, de dar respostas, planejar. Então me sinto preparada para fazer essa disputa.

Quem é Gleisi Hoffmann

!¢ Filiação. Júlio Hoffmann e Getúlia Adga.

!¢ Estado civil. à‰ casada com o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, e mãe de um casal de filhos: João Augusto e Gabriela Sofia.

!¢ Formação. Formada em Direito pela Faculdade de Direito de Curitiba e pós-graduada em Gestão de Organizações Públicas e Administração Financeira.

!¢ Trajetória na vida pública. Foi secretária municipal de Gestão Pública de Londrina(PR), secretária extraordinária de Reestruturação e Ajuste do Governo de Mato Grosso do Sul, integrou a equipe de transição do governo Lula, diretora financeira de Itaipu Binacional, senadora da República e ministra-chefe da Casa Civil no governo Dilma Rousseff.

!¢ Coligação pela qual concorre. Paraná Olhando pra Frente (PT/ PDT/ PC do B/ PRB / PTN). Candidato a vice: Haroldo Ferreira Candidato ao Senado: Ricardo Gomyde.

 

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