Coluna do Maurício Requião: “Outubro Rosa e a violência contra a mulher”

Maurício Requião, em sua coluna semanal, sai do ambiente das disputas partidárias para falar sobre sua especialidade: políticas públicas; colunista aborda a proteção das crianças, fulmina a indústria da pornografia presente nas tevês, na internet, e destaca a importância da campanha Outubro Rosa! na luta contra o câncer de mama; ele também sugere maior atenção à  violência emocional de gênero nas redes sociais e lamenta a "coisificação" da mulher neste mundo machista; leia o texto.
Maurício Requião, em sua coluna semanal, sai do ambiente das disputas partidárias para falar sobre sua especialidade: políticas públicas; colunista aborda a proteção das crianças, fulmina a indústria da pornografia presente nas tevês, na internet, e destaca a importância da campanha Outubro Rosa! na luta contra o câncer de mama; ele também sugere maior atenção à  violência emocional de gênero nas redes sociais e lamenta a “coisificação” da mulher neste mundo machista; leia o texto.
por Maurício Requião*

Hoje, me afasto um pouco da política. Afasto-me em razão do Outubro Rosa. Para mim, até pouco tempo, outubro era o mês das crianças, e, apenas delas. Temos agora um mês para as crianças e para as mulheres.

Tenho como imprescindível termos um mês dedicado à  prevenção do câncer de mama, uma doença que afeta a maioria das mulheres. Um mês que a coloca no centro de todas as discussões, que busca protegê-la e, porque não, neste outubro, nos lembrarmos da violência que as assolam?

Vivenciamos uma crise moral, indignante e perversa. A violência contra a mulher é algo que me assusta. Não falo aqui da tão celebrada !“ e de tão curto alcance !“ lei Maria da Penha, muito menos da necessária e pouco aplicada lei Carolina Dieckmann.

Escrevo nesta semana indignado, perplexo e entristecido. Li matéria no jornal O Globo, edição do dia 5 de outubro, que me chocou — e espero que tenha chocado a todos que a ela tiveram acesso. Em uma escola de classe média no Rio de Janeiro, uma adolescente de 12 anos teria sido estuprada por meninos com idades entre 13 e 16 anos. Além desse crime absurdo, os meninos, como se não tomassem ciência da gravidade de seu crime, filmaram e repassaram o vídeo para outros colegas.

Banalizamos a violência contra a mulher a este ponto? O que pode ter levado estes meninos a acharem normal estuprar uma menina, filmar e lançar este ato nas redes sociais?

Economia

Um pai, ao ler no jornal sobre um estupro em um baile funk, solta a pérola: essa menina, vestida desse jeito, num baile desses, estava pedindo… ela mereceu!. Aos ouvidos de uma criança, esta infeliz frase se torna verdade; o menino passa a achar que as meninas merecem e que estão pedindo; e, a menina, que escuta isto do pai, terá vergonha de procurar ajuda se algum dia for violentada, pois ela fez por merecer!, a culpa foi dela!. Temos que tomar cuidado com os valores que passamos.

A mulher deve ser respeitada, os parceiros em geral devem ser respeitados. Um pai ou uma mãe não devem expor seus filhos aos seus deslizes conjugais. Uma criança não deve achar normal que os pais se desrespeitem. Um ambiente promíscuo e instável gera e gerará consequências. As tramas de novela, na vida real, trazem prejuízos enormes a uma criança que busca no exemplo os seus valores.

A violência contra as mulheres não precisa ser física. Essa violência existe de várias formas. No crime acima, além de estuprar uma criança, as outras crianças a expuseram ao mundo colocando o vídeo nas redes sociais.

Da mesma forma, uma pessoa que convence outra a se deixar filmar ou fotografar e vaza a própria namorada, a peguete! ou a ex! na rede comete uma violência tão grande ou pior que a violência física, com estragos por vezes irreversíveis, muito mais duradouros que um olho roxo.

O livre acesso à  informação, um milagre dos tempos modernos, trouxe com ele o acesso a todo tipo de conteúdo na rede. A pornografia, mercado milenar, tornou-se de fácil alcance e virou lugar comum. Com alguns cliques uma criança tem acesso ao mais bizarro mundo de fetiches que lhe foge à  compreensão. Pela massificação dessa informação deve pensar que aquilo é o correto e em suas vidas passarão a emular aquele comportamento.

Temos que estar atentos, pois a mulher não é um objeto e a pornografia não é um manual a ser seguido. Não me confundam com puritano ou pudico, mas a diferença entre a realidade e o mercado pornográfico deve ser ressaltado sob pena de vivermos em um completo caos.

Esta coisificação! da mulher, esta falta de respeito é nossa culpa. Nós erramos! Nós permanecemos errando. Resta saber onde para que possamos repensar e corrigir.

*Maurício Requião é advogado, especialista em políticas públicas, escreve à s quintas no Blog do Esmael.

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