O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, lamentou a prisão preventiva de Jair Bolsonaro, mas limitou-se a dizer que era “uma pena”, ao ser informado por jornalistas em frente à Casa Branca. A reação curta e sem entusiasmo expôs a distância do aliado americano justamente no momento mais delicado da vida política e judicial do ex-presidente brasileiro, condenado a 27 anos por tentativa de golpe e preso neste sábado após violar a tornozeleira eletrônica.
Trump aparentou surpresa ao ouvir a pergunta. Ele respondeu que não sabia da prisão e apenas repetiu que achava o episódio “uma pena”. A fala contrasta com o movimento diplomático recente, no qual o governo americano retirou a tarifa extra de 40% para produtos agrícolas brasileiros depois de negociações conduzidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Logo após a declaração de Trump, a Casa Branca enviou um comunicado aos repórteres afirmando que o presidente teria conversado, na noite anterior, “com o cavalheiro mencionado”. Minutos depois, a própria assessoria enviou uma segunda nota dizendo que não era possível entender se Trump se referia a Lula ou a Bolsonaro. O episódio evidenciou a confusão interna na comunicação do governo americano e o desconforto diante da crise política que envolve o ex-presidente brasileiro.
A prisão preventiva foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, após o alarme da tornozeleira eletrônica soar às 0h08. A equipe da Polícia Federal confirmou que o equipamento tinha marcas de queimadura e sinais de violação. Bolsonaro admitiu que havia usado um ferro de solda para tentar abrir o aparelho. A troca ocorreu pouco depois da meia-noite, e o relatório da Secretaria de Administração Penitenciária classificou a avaria como “clara e importante”.
Moraes também citou o risco de fuga, agravado pela convocação de uma vigília pelo senador Flávio Bolsonaro em frente ao condomínio do pai, em Brasília. O ministro afirmou que a mobilização poderia gerar tumulto e facilitar uma eventual tentativa de escapar da prisão domiciliar. O despacho lembrou ainda que o ex-presidente já havia planejado fugir para a embaixada da Argentina, conforme documento encontrado em seu celular durante a investigação.
As manifestações de Flávio Bolsonaro não ajudaram a conter a crise. O senador chamou a decisão de “esdrúxula” e disse que manteria a vigília, alegando tratar-se de um ato religioso. Ele afirmou que, se o pai quisesse fugir, “nem teria voltado ao Brasil” no início de 2023.
No histórico recente, Trump tentou intervir publicamente em favor de Bolsonaro. Disse que o julgamento era uma “caça às bruxas” e acusou o governo brasileiro de perseguição política. Mas, após o encontro com Lula em outubro, o tom mudou. O republicano passou a evitar novas declarações incisivas, enquanto a diplomacia americana reduziu o ruído e buscou recompor canais institucionais com o Brasil.
O comentário frio deste sábado confirma a virada. Enquanto Bolsonaro sofre o revés jurídico mais duro de sua trajetória, Trump opta por distância e prudência, atento aos próprios movimentos políticos nos Estados Unidos e às negociações econômicas com o governo brasileiro.
A fala de “é uma pena” funciona menos como solidariedade e mais como um gesto calculado. Para Bolsonaro, é um sinal de que o principal padrinho internacional não pretende comprar brigas num momento em que o Brasil e os Estados Unidos tentam reequilibrar relações.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.




