Tire as mãos do Parque Nacional dos Campos Gerais

Bolsonaro não estava brincando quando, em março, nos EUA, declarou que, no Brasil não há o que construir, mas o que se desconstruir. Dessa forma, nomeou ministros que atuam contra as pastas que administram. O da Educação destrói universidades e institutos federais; o da Economia doa o PIB brasileiro, mais de R$ 6 trilhões, aos bancos e o de Relações Exteriores é contra o multilateralismo e provoca constrangimentos internacionais com teorias bizarras como, a do terraplanismo e a do aquecimento global ser uma teoria marxista. O do Meio Ambiente não fica para trás de nenhum dos seus colegas de governo. Ricardo Salles, quando secretário de Meio Ambiente do Estado de São Pulo, foi acusado pelo Ministério Público, junto com a FIESP, de adulterar mapas para favorecer mineradoras.

Típico do governo Bolsonaro dar caneta a quem destrói. A gestão Salles é tão atabalhoada e deletéria ao meio ambiente que suscitou uma reunião de ex-ministros do Meio Ambiente para avaliar e denunciar acontece com a pasta. Segundo eles, políticas nacionais e internacionais, construídas ao longo de mais de 25 anos, por governos de esquerda e de direita, estão sendo desconstruídas, colocando em risco a biota nacional, além de apequenar o Brasil perante o mundo. No que toca o Paraná, o ministro amigo das mineradoras vira sua atenção para o Parque Nacional dos Campos Gerais. Trata-se de uma unidade de conservação de proteção integral, que abriga paisagens cênicas e geológicas em risco de supressão, como os campos gerais, florestas de araucária, a Escarpa Devoniana, entre outros ecossistemas.

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O ministro pretende extinguir o Parque a pedido de produtores rurais que foram desapropriados, mas ainda não ressarcidos. O decreto de criação do Parque é de 2006, mas o processo de regularização fundiária ainda está em andamento. De acordo com o Conselho Consultivo do P.N., entre 80% e 85% da documentação já foram levantadas. Somente depois de todos os documentos apurados é que se pode acertar as indenizações, uma vez que o Estado não pode pagar por terra devoluta. De acordo com o professor do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Gilson Burigo Guimarães, nesses 13 anos, muitos documentos foram sonegados por pessoas interessadas em não criar o Parque.

Porém, das ameaças ao P.N., a produção rural até parece pequena, perto da mineração. A Escarpa Devoniana é uma formação rochosa de aproximadamente 400 milhões de anos. Essa configuração geológica é objeto de cobiça de uma mineradora brasileira, que está associada a uma outra, esta francesa e processada em seu país por contaminação de amianto. De acordo com os estudos de prospecção mineral da empresa interessada na área, há quase 38 milhões de toneladas de areia de alto valor, que pode ser utilizada em diversas áreas industriais. A empresa estima retirar 30 mil toneladas por mês. Os riscos para a biota do Parque e região são incalculáveis. Mineração é uma atividade econômica de altíssimo impacto ambiental e social.

O ministro Salles esteve em Ponta Grossa, em abril, quando reuniu-se exclusivamente com os produtores rurais que desejam a extinção do Parque. As comunidades acadêmica e leiga do campo ambiental, tanto do referido município, quanto de Carambeí e Castro, foram solenemente ignoradas pela tertúlia. Na atual conjuntura, sob um governo antiambientalista, é fundamental que a população da região se informe sobre o que está acontecendo e sobre os riscos que o abastecimento de água de Ponta Grossa, Carambeí e Castro está correndo. A preservação do parque é vital não apenas por sua beleza cênica, mas também por suas características únicas. A dimensões do parque e suas diferentes condições de preservação permitem criar corredores ecológicos que recupera áreas degradadas e faz crescer e diversificar a biota. O fato de a unidade de conservação ser de proteção integral e visitação controlada, a faz cumprir suas funções de fonte de pesquisa e espaço de integração do ser humano com a natureza. Com o parque, ganham a natureza e toda a humanidade. Com a sua extinção, ganham meia dúzia de produtores rurais e uma mineradora. Tire as mãos do Parque Nacional dos Campos Gerais.

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