O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) entrou num espiral de desgaste político que atinge o Congresso, pressiona a oposição por anistia e fragiliza a própria direita. A prisão preventiva, reforçada pelo vídeo da tornozeleira danificada, virou munição para o governo e para líderes que dizem que o episódio inviabiliza o discurso de perseguição.
A avaliação no entorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é de que o vídeo do equipamento queimado, além da confissão do próprio Bolsonaro de que usou um “ferro quente de solda”, cria um fato político incontornável. Interlocutores do Planalto afirmam que a cena enfraquece a tese de arbitrariedade, sustenta a legalidade da prisão e reabre a discussão sobre a conduta do ex-mandatário desde 8 de janeiro.
No centrão, dirigentes admitem que a gravação complica de maneira quase definitiva a articulação por anistia ou redução de penas no Congresso. Deputados relatam que o clima mudou, porque a imagem pública de Bolsonaro ficou ainda mais radioativa e muitos parlamentares não querem dividir o custo político.
A avaliação de líderes governistas é que a prisão reforça a polarização, atinge o núcleo familiar do ex-presidente e enfraquece a mobilização bolsonarista. A vigília montada por apoiadores em Brasília, marcada por confusão e agressões, foi lida como sinal de desorganização. A presença do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em atos religiosos ao lado do condomínio do pai acendeu um alerta, porque ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) veem tentativa de reeditar acampamentos golpistas.
Entre aliados da direita, a prisão pegou de surpresa e desarticulou comandos regionais que tentavam transformar Bolsonaro em bandeira eleitoral para 2026. As críticas do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de setores do centrão vieram mais por obrigação de alinhamento do que por convicção. Internamente, dirigentes admitem que o desgaste político do ex-presidente é profundo.
Também pesa a avaliação de que Tarcísio de Freitas surge como o maior beneficiado político com a prisão de Jair Bolsonaro. Com o desgaste crescente do clã, ele herdaria no bolsonarismo a condição de principal líder da direita e poderia unificar o palanque oposicionista contra Lula.
A audiência de custódia marcada para este domingo, às 12h, na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, será por videoconferência. O ministro Alexandre de Moraes, ou um auxiliar seu, deve analisar a legalidade da prisão preventiva, mas a aposta majoritária é que o STF manterá a medida diante das novas evidências.
A Operação Tempus Veritatis, deflagrada em fevereiro de 2024, levou Bolsonaro à prisão 653 dias depois do início das investigações. A cronologia tornou-se ainda mais dramática com a revelação de que a tornozeleira impediria o ex-presidente de se aproximar de embaixadas, um dos receios da PF.
Na época, em entrevista exclusiva ao Blog do Esmael, o ex-presidente já preparava o terreno ao antecipar que Tarcísio de Freitas seria o candidato da direita contra Lula em 2026, caso permanecesse inelegível ou viesse a ser preso.
A repercussão internacional concentrou-se na fala contida do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tratou a prisão de Jair Bolsonaro como “uma pena” e afirmou não conhecer os detalhes da preventiva.
A declaração do americano, breve e fria, foi lida no Itamaraty e por analistas americanos como um gesto de distanciamento, indicando que Trump não pretende assumir o desgaste do ex-presidente brasileiro. Não houve manifestação oficial da diplomacia americana nem sinal de interferência, reforçando que o episódio permanece circunscrito ao debate interno brasileiro.
Dentro da direita, líderes avaliam que o vídeo da tornozeleira é um estigma definitivo e dificulta a tentativa de Flávio Bolsonaro de surgir como alternativa eleitoral. A cena virou símbolo da derrocada de um ciclo político.
O governo Lula avalia que o ex-presidente está encarcerado e politicamente esvaziado. A polarização persiste, mas com Bolsonaro mais vulnerável do que nunca. É neste contexto que emerge Tarcísio de Freitas como adversário do petista.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.




