Depois de divulgado o comunicado da última reunião do Copom, que manteve os juros a 15% ao ano, o mercado financeiro ampliou as apostas de que o ciclo de corte de juros começará em março de 2026 (45% das casas fazem essa projeção, enquanto 33% apostam em queda em janeiro).
Uma queda ainda em 2025 é considerada muito improvável pelo que vem dizendo o Banco Central nas suas comunicações oficiais.
Independente do que projeta o mercado, o governo Lula irá continuar pressionando por uma queda antecipada, por meio de falas e manifestações do presidente e de seus ministros.
Nesta semana, o Copom manteve a sinalização de juros altos por período prolongado, ao manter no comunicado a palavra bastante: “…exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado”. A avaliação do mercado era que se a palavra bastante fosse retirada do comunicado, o Banco Central estaria dando a senha de que os cortes poderiam começar mais cedo, ou seja, em janeiro.
A reação da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, à manutenção dos juros, foi imediata: “A decisão do Copom de manter pela terceira de vez a taxa Selic em 15% é prejudicial aos investimentos produtivos, ao acesso ao crédito, à geração de empregos e ao equilíbrio das contas públicas. É prejudicial ao Brasil. Nenhuma economia do mundo pode conviver com juros reais de 10%. Nada justifica uma decisão tão descasada da realidade, dos indicadores econômicos, das necessidades do país”.
A senha para queda dos juros em janeiro, como vimos, não foi dada. E como o BC é independente, ao governo só resta fazer pressão pela antecipação do início do ciclo de cortes. A campanha deve se intensificar, mas não a ponto de constranger o atual presidente da autoridade monetária, Gabriel Galípolo, como aconteceu com o seu antecessor, Roberto Campos Neto, no começo da gestão Lula 3.
A pressão se justifica porque para o presidente Lula, quanto antes começarem os cortes, e quanto maior for a sua intensidade, maiores serão os potenciais ganhos eleitorais. O presidente já colheu dividendos eleitorais com questões econômicas: as mudanças tributárias (ricos contra pobres, ou “taxar o morador da cobertura”), o que inclui o projeto que isenta quem ganha até R$ 5 mil do Imposto de Renda; o desemprego nas mínimas; e a inflação em queda. A queda de juros seria a ‘cereja do bolo’ para o pacote econômico do presidente.
O mercado ainda aguarda a divulgação da Ata do Copom, na próxima semana, que deve detalhar as projeções de inflação até 2027 e possíveis impactos da reforma do IR sobre os preços. O tom da ata pode afetar o consenso atual do início de cortes em março ou empurrar o debate para abril, o que ampliaria ainda mais as críticas do governo ao atual patamar dos juros.

Jornalista e historiadora. Analista da Fatto Inteligência Política em Brasília. Traça cenários de risco político.






