O PP e o Podemos entraram na semana com movimentos sincronizados, mas em agendas separadas, para construir uma frente política destinada a barrar o senador Sergio Moro (União) na disputa pelo governo do Paraná. A articulação envolve executivas estaduais, presidentes nacionais e líderes do Legislativo, sinalizando que a corrida ao Palácio Iguaçu entrou oficialmente em modo rearranjo.
O presidente do PP, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), desembarca em Curitiba nesta segunda-feira 8 para encontro com a executiva estadual liderada pelo deputado Ricardo Barros (PP-PR). A reunião marca o lançamento formal da ex-governadora Cida Borghetti (PP) como pré-candidata ao governo, um gesto que cristaliza o racha dentro da federação União Progressista, formada por PP e União Brasil.
Nos bastidores do PP paranaense, a leitura é uníssona. Com duas pré-candidaturas simultâneas, Moro pelo União e Cida pelo PP, a federação dificilmente terá viabilidade jurídica para registrar chapa em 2026. Isso abriria caminho para que cada partido apoie nomes externos, deixando o ex-juiz sem legenda na eleição estadual.
Moro, entretanto, tenta preservar alternativas de sobrevivência partidária e mantém conversas com duas portas de fuga, o partido Missão, herdeiro do antigo MBL, e o PRTB de Pablo Marçal. O Missão impõe um rito pouco convencional, que inclui a leitura dos três volumes do “Livro Amarelo”, enquanto o PRTB oferece ingresso mais simples, embora esteja fortemente alinhado à agenda da Faria Lima. Nenhuma das opções entrega estrutura robusta, mas ambas garantem o essencial, a legenda, caso a federação União Progressista imploda de vez.
Uma fonte do PP ouvida pelo Blog do Esmael foi direta ao descrever o cenário, enfatizando que a divergência entre as convenções tende a inviabilizar qualquer registro de chapa para o governo. O entendimento é que a executiva estadual manterá sua decisão mesmo diante de eventual tentativa de intervenção nacional.

Enquanto o PP oficializa o rompimento com Moro, o presidente da Assembleia Legislativa, Alexandre Curi (PSD), trabalha para montar uma coalizão de centro-direita que una PP, Podemos, MDB, PSB, PL e Republicanos numa mesma chapa. A prioridade de Curi é isolar o ex-juiz e apresentar uma alternativa competitiva ao Palácio Iguaçu.
Esse movimento atraiu outros atores. Requião Filho (PDT), atento à fragmentação da federação União Progressista, procurou Cida Borghetti para discutir a possibilidade de compor como vice. Ele também sondou o ex-prefeito de Londrina, Marcelo Belinati (PP), aproveitando o racha interno do União Progressista.
Segundo pesquisas de intenção de voto, Requião Filho aparece como vice-líder na disputa pelo Palácio Iguaçu. Ele sustenta sua posição com apoio de uma frente progressista capitaneada pela Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV) e ainda pode atrair a federação PSOL-Rede, que observa o rearranjo no campo de centro-esquerda.
Nesta terça-feira 9, a presidente nacional do Podemos, a deputada Renata Abreu (Podemos-SP), chega a Curitiba às 11h30 para oficializar a nova direção estadual, com Luciane Bonatto na presidência e Paulo Rogério do Carmo na vice. A escolha tem peso político: Luciane é mãe do deputado Felipe Francischini, que rompeu com o pai, o delegado Fernando Francischini (Solidariedade), e mira protagonismo em 2026. O Podemos, vale lembrar, foi o primeiro partido de Moro após deixar a toga, porém Migrou para o União Brasil na eleição de 2022.
O alinhamento entre PP e Podemos deixa nítido o realinhamento das forças políticas no estado. Líderes buscam reorganizar blocos tradicionais, resgatar espaços e impedir que Moro transforme a disputa de 2026 em plataforma de sobrevivência, já pressionado por crise partidária e processo criminal no Supremo Tribunal Federal.
O risco político para Moro é concreto. Sem unidade interna e com adversários construindo frentes amplas, sua candidatura ao governo do Paraná se fragiliza antes mesmo das convenções. A frente PP–Podemos, somada aos cálculos de Curi e às movimentações de outras legendas, empurra o ex-juiz para a borda do tabuleiro.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.




