Paulo Guedes entra no bico do corvo

O ministro demissionário da Economia, Paulo Guedes, se colocou no bico do corvo ao afirmar que abandonaria o barco [governo] caso a reforma da previdência não seja aprovada do jeito que ele quer. A declaração do “Posto Ipiranga” causou reações a estibordo e a bombordo da política brasileira.

O ministro da Economia disse à Veja que pegaria um avião e iria morar lá fora. “Já tenho idade para me aposentar”, avisou, se a reforma da Previdência não for aprovada ou se ela “virar uma reforminha”.

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) interpretou a “reforminha” referida por Guedes como “coisa de japonês” (pequena).

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O presidente da comissão especial da reforma, deputado Marcelo Ramos (PR-AM), criticou Guedes classificando sua entrevista de arrogante e que o ministro é empregado do Brasil — não o contrário.

“Falta humildade ao ministro Paulo Guedes. O Brasil não trabalha pra ele. Ele é que é empregado do Brasil”, disparou.

Economia

Nem mesmo os mais militantes defensores da reforma da previdência, como a Globo e os jornalões, acreditam mais na possibilidade de o fim da aposentadoria passar no Congresso.

A convicção de que a reforma baterá na trave é tal que até o presidente Jair Bolsonaro (PSL) fala em buscar alternativamente “mais de R$ 1 trilhão” com a atualização do valor venal de imóveis. O numerário seria pago pelo vendedor do bem.

Paulo Guedes, outrora Posto Ipiranga, se achava imprescindível. Mas o capitão disse-lhe que a porta é a serventia da casa: está “no direito dele” e não é obrigado a continuar no governo.

Essa não é a primeira vez o ministro compra briga com “gregos e baianos”. Em fevereiro, por exemplo, ele dissera que era preciso dar uma “prensa” no Congresso para passar a reforma.

Agora a chantagem de Guedes parece que também não caiu bem. Todo o mundo político quer a cabeça dele.

O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) publicou no Twitter que faz questão de pagar o táxi de Paulo Guedes até o aeroporto, porta de saída do país.

Antes mesmo desse entrevero, na terça-feira (21), o ex-senador Roberto Requião (MDB-PR) havia aconselhado Bolsonaro a se livrar de Guedes.