O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), diz que está de mal do líder do PT, Lindbergh Farias (PT-RJ), e empurra Brasília para aquele território emocional muito conhecido no jardim de infância, quando um colega não deixava o outro brincar com o caminhãozinho. A crise entre os dois reacende o desgaste entre o governo Lula e o Congresso, que já vinha em clima de recreio tumultuado.
A declaração de Motta, feita à Folha, caiu como bomba, ou como bilhetinho amassado passado por baixo da carteira, entre os líderes partidários. Ele avisou que não quer mais conversar com Lindbergh. Nada de trocas de figurinhas. Nada de “posso copiar seu caderno?”. Relação estritamente institucional, garantem aliados.
Do lado petista, Lindbergh devolveu com ironia fina. Disse que Motta foi “imaturo”. Uma palavra que, convenhamos, não costuma aparecer em análises sobre líderes do Congresso, mas que nesta temporada combina com o enredo. O deputado lembrou ainda que política não é clube de amigos e que sempre foi transparente, crítica direta ao presidente da Câmara, por causa das idas e vindas na tramitação de temas sensíveis ao Planalto.
A história ganhou corpo com o projeto de lei antifacção, em que Motta escolheu como relator o deputado Guilherme Derrite (PP-SP), homem de confiança do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), adversário direto de Lula na disputa nacional. Derrite mexeu no texto original e acendeu o pavio da crise. O governo orientou voto contra, mas perdeu. O projeto agora está no Senado, onde os líderes também andam com a paciência curta.
No entorno de Motta, o discurso é que o governo exagera, não cumpre acordos e ainda pressiona demais a Câmara. Um cardeal do centrão resume o ambiente como “muito ruim”, com advertência de que a próxima rodada deve vir ainda mais quente.
Lá atrás, Lindbergh e a ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) foram entusiastas da candidatura de Motta à presidência da Câmara. Construíram a ponte. Agora assistem ao pedágio subir.
No Senado, o clima também azedou. A indicação de Jorge Messias ao STF irritou o presidente Davi Alcolumbre (União-AP), que trabalhava pelo amigo Rodrigo Pacheco. Antes de partir para a retaliação política, pautando uma pauta-bomba horas depois do anúncio, Alcolumbre chegou a derramar lágrimas pela preterição de seu “best”. A cena reforçou a impressão de que o Senado também entrou no modo jardim de infância.
Brasília vive esse momento curioso em que líderes que deveriam conduzir o país trocam farpas infantis enquanto crises reais se acumulam. No fim, o distinto público observa tudo com a impressão de que parte do Congresso ainda está presa na terceira série, disputando quem começou a briga no corredor.
O governo Lula precisa reorganizar sua base e lembrar aos parlamentares que o Brasil não é sala de recreio. Mas, do jeito que vai, Motta e Lindbergh ainda acabam na diretoria para explicar quem puxou o cabelo de quem.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.



