Dez anos após a histórica marcha de 2015, Brasília voltou a amanhecer tomada pela presença e pela força política das mulheres negras. Nesta terça-feira (25), caravanas de todas as regiões do Brasil e representações de mais de 40 países ocuparam a Esplanada dos Ministérios para a 2ª Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver. A mobilização autônoma – que contou com investimento de R$ 1,7 milhão do Ministério da Igualdade Racial (MIR) – reafirma o protagonismo das mulheres negras na construção democrática do país.
O investimento feito pelo MIR ajudou a assegurar condições de realização, deslocamento e logística do ato, reforçando o compromisso do Governo do Brasil com políticas públicas orientadas pelas demandas históricas desse segmento da população.
“A presença do Ministério da Igualdade Racial aqui simboliza uma ponte entre movimento e Estado. Permaneceremos avançando, marchando por um bem viver e por reparação. Por todas as mães que perderam seus filhos e por todas aquelas que vieram antes de nós. Seguimos juntas em marcha, na positividade, hoje e sempre”, afirmou a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.
Organizada pelo Comitê Nacional da Marcha das Mulheres Negras, a mobilização integra a Semana por Reparação e Bem Viver, entre 20 e 26 de novembro. O encontro reúne brasileiras de múltiplas gerações, territórios e realidades, além de mulheres afrodescendentes da diáspora e do continente africano.
A programação começou às 8h, com concentração no Museu Nacional da República. Às 11h, a Marcha avançou pela Esplanada dos Ministérios em quatro trios elétricos que representaram as regiões brasileiras e o Comitê Global. A partir das 15h, atividades culturais e shows movimentaram a área externa do Museu, com apresentações de Larissa Luz, intérprete do jingle oficial “Mete marcha negona, rumo ao infinito”; Luana Hansen; Ebony; Prethaís; Célia Sampaio e Núbia encerrando a programação desta terça-feira.
Vozes plurais – Entre as mulheres que cruzaram o país para participar da mobilização está Dona Teca, 76 anos, que viajou 36 horas do Crato (CE). “A gente vem por reparação e bem viver e luta por justiça por este país, pela vida negra”, afirmou. Ao lado da filha, Samara Alves Elpídio, reforçou que a presença na Marcha também é um posicionamento contra o racismo. “Nossos representantes têm que estar aqui para se posicionarem e verem de perto a realidade de cada uma”, completou Samara.
De São Paulo (SP), Juliana Sobreira destacou o impacto da Marcha para as próximas gerações: “a gente está aqui para não deixar apagar nossos direitos e garantir que as crianças negras cresçam sabendo que temos uma posição, um direito e um lugar.”
A programação completa da 2ª Marcha das Mulheres Negras e da Semana por Reparação e Bem Viver está disponível no site oficial do evento.
Agenda estruturante – “A gente sempre espera que a marcha traga políticas públicas e conscientização sobre nossa história e importância”, coloca Aline Espíndola, de Brasília (DF), servidora do Ministério da Educação
Nesta edição, a Marcha retorna a Brasília com pautas centrais como reparação histórica, enfrentamento à violência racial e de gênero, participação política, proteção dos territórios quilombolas, justiça ambiental e fortalecimento das comunidades tradicionais. A narrativa que orienta a mobilização destaca o Bem Viver como base para um novo modelo de sociedade, comprometido com dignidade, democracia real e superação do racismo estrutural.
A ministra Anielle ressaltou que, desde 2015, políticas estruturantes foram fortalecidas a partir das agendas apresentadas pelos movimentos negros. “Quando subimos ao trio, não lideramos a Marcha: marchamos juntas. A democracia que queremos nasce do chão da luta, dos territórios, do cuidado e da estratégia das mulheres negras”, afirmou a ministra
Em sua fala, a ministra destacou, ainda, avanços recentes, como o Programa Beatriz Nascimento, o fortalecimento das comunidades quilombolas, o reconhecimento de trancistas e mestres tradicionais, a ampliação de dados raciais e a Formação e Iniciativa Antirracistas (FIAR).
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