Ceticismo cresce com candidatura de Flávio Bolsonaro a presidente da República

Quase ninguém acredita que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) seja candidato sério ao Planalto em 2026, e há motivos de sobra para isso. Nos bastidores, líderes da direita admitem que a movimentação atende mais ao desespero do pai, Jair Bolsonaro (PL), condenado a 27 anos e três meses de prisão, do que a um projeto eleitoral consistente.

A avaliação circula entre aliados próximos, oposição e parte da oligarquia financeira, que enxergam na pré-candidatura um movimento improvisado para tentar abreviar a situação do ex-presidente na cadeia, antes que ele se torne irrelevante após outubro do ano que vem.

O ponto que mais chama a atenção é a quase unanimidade. Aliados, adversários e observadores concordam que a candidatura de Flávio soa artificial. Um consenso incomum, considerando que o clã Bolsonaro é, por natureza, um campo minado, repleto de disputas internas e vaidades cruzadas.

Essa convergência reforça a leitura de que o senador entrou no páreo por simulação, como peça num tabuleiro cujo objetivo real é outro: pressionar o sistema político e judicial por algum alívio para Jair Bolsonaro, que teme ser esquecido na prisão enquanto o país decide o seu futuro sem ele.

Fontes experientes descrevem um temor crescente no entorno do ex-presidente. Condenado e isolado, Bolsonaro calcula que, passada a eleição, perderá centralidade e capacidade de mobilização. Ele quer sair antes, nem que isso custe uma implosão no próprio campo político.

Nesse cenário, Flávio surge como “porta-voz de emergência” do pai, não como presidenciável competitivo. A pré-candidatura serviria para manter o sobrenome em circulação e criar ruído suficiente para tentar arrancar concessões judiciais.

Os oligarcas do sistema financeiro, que preferem o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), seguem desconfiados. A possibilidade de Tarcísio migrar para o PL permanece viva e, caso ocorra, interditaria o movimento de Flávio sem maiores cerimônias.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, costuma ser pragmático. Ele enxerga mais vantagem em tentar eleger o sucessor de Lula (PT) do que flertar com a porta da cadeia junto ao clã Bolsonaro. Isso reduz o espaço político real de Flávio dentro da própria casa.

A coluna Painel, da Folha de S.Paulo, registrou que até aliados diretos tratam a indicação como um blefe. Uns dizem que servirá para fortalecer a marca Bolsonaro em momento de baixa. Outros apostam que a candidatura será retirada para abrir passagem a Tarcísio.

As fragilidades de Flávio também pesam. As acusações antigas sobre rachadinha, suspeitas de lavagem de dinheiro e a compra da mansão em Brasília são vistas como entraves intransponíveis para um projeto presidencial competitivo.

Diante desse enredo, o desafio que se impõe à direita é indigesto. Como conciliar o desespero de Jair Bolsonaro, que usa o filho como peça política para sair da prisão, com o projeto da Faria Lima, que quer Tarcísio erguido como alternativa liberal e moderada? E como o PL administrará esse conflito sem explodir sua própria estratégia eleitoral?

Esse é o abacaxi que os oligarcas terão de descascar na virada do ano. Porque Flávio atende ao pai, não à lógica eleitoral. E a direita, que deveria se organizar para enfrentar Lula, entra 2026 com simulações, ruídos e medo, muito medo, de que Jair imploda a candidatura mais competitiva do campo, a de Tarcísio, caso não consiga respirar fora da cadeia.

A pré-candidatura de Flávio Bolsonaro revela um campo político desorientado e sem coordenação. Entre o desespero de Jair Bolsonaro e a aposta fria da Faria Lima em Tarcísio, o senador do PL fluminense parece cumprir um papel instrumental, não eleitoral. O país assiste a mais um capítulo de um projeto que se alimenta do caos, mas já não controla as consequências.

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