Estrategista, Cláudio Castro se move por pesquisas e ameaça a aliados

Num desses eventos de trabalho em que os convidados são acomodados em mesas redondas, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), se sentiu à vontade para contar um episódio que marcou sua relação com o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ainda na campanha de 2022, Castro ouviu do então presidente uma condição para ter seu aval como candidato: teria que declarar a TV Globo e os ministros do Supremo como inimigos.

Apelidada de Globolixo pelos bolsonaristas, a principal emissora do país é tratada como oposição por Bolsonaro — assim como o Supremo, que o condenou a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado.

Castro teria respondido que já tinha problemas demais na campanha e que esse não seria mais um deles. Bolsonaro tentou, sem sucesso, substituí-lo como candidato. Desde então, o que os une é apenas estarem no mesmo campo político. “É uma relação institucional”, resume um interlocutor.

Leia também
  • Brasil

    No Rio, Moraes ouve Cláudio Castro sobre megaoperação contra o CV
  • Brasil

    Após megaoperação, Claúdio Castro é aplaudido de pé em missa no RJ
  • Brasil

    OAB pede para acompanhar audiências de Moraes com Cláudio Castro
  • Grande Angular

    TSE pauta cassação de Cláudio Castro. Ação tem assessor de Lula como advogado

Governador mais jovem da história recente do estado, Castro foi alçado à vice-governadoria aos 39 anos para atrair votos de católicos e evangélicos.

Sua música agrada a ambos: tem dois discos no Spotify, e a carreira de cantor religioso começa a despontar no embalo da popularidade conquistada com a operação policial no Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho (CV), que terminou com 121 mortos — a maioria com ficha criminal.

Há outra versão para sua escolha como vice. Ninguém acreditava que o ex-juiz da Lava Jato Wilson Witzel pudesse vencer as eleições de 2018 por um partido nanico, o PSC, e a indicação de Castro foi apenas uma missão partidária: alguém precisava ocupar a vaga.

Próximo ao então presidente do PSC, pastor Everaldo, “sobrou” para o vereador Cláudio Castro ir para o sacrifício.

Foi seu primeiro golpe de sorte. Os azarões venceram: Witzel foi eleito, mas cassado com um ano e quatro meses de mandato. Castro assumiu o governo e, em 2022, foi reeleito no primeiro turno — ressaltam aliados — com votos inclusive da esquerda. A explicação: evitou associar sua imagem ao bolsonarismo e soube aproveitar o momento.

Na reta final de seu segundo mandato veio outro golpe de sorte. Quando muitos previam um fim melancólico, a operação policial contra o CV lhe rendeu popularidade e apoio não só no Rio, mas em todo o país. “Renasci das cinzas”, disse a interlocutores.

Agora, poucos acreditam que o TSE irá cassar o mandato de um governador aplaudido ao entrar em missa. Castro é acusado de abuso de poder político na campanha de 2022.

O repórter Ruben Berta (UOL) descobriu que dinheiro público tinha sido desviado por meio de nomeações de fantasmas para pagar cabos eleitorais.

O julgamento está marcado para terça-feira (04/11), mas há expectativa de pedido de vista que adie a decisão. “Chance de cassação existe — a votação no TRE foi 4 a 3 pela condenação. Mas todos podem pedir vista”, pondera um ministro.

O governador que governa por números

Pesquisas são um pilar da gestão de Castro. Ele não dá um passo sem estar respaldado por levantamentos de opinião. Integrantes do governo afirmam que são encomendadas três por mês, de institutos diferentes. Ele já sabia, portanto, que a operação nos complexos do Alemão e da Penha seria “um sucesso”.

Estrategista e calculista, o governador planeja cada movimento político. “Nada em seus discursos é improvisado”, resume um assessor próximo.

Seu núcleo duro é formado pelo chefe de gabinete Rodrigo Abel, exímio analista político, e pelo secretário da Casa Civil Nicola Miccione, responsável pela engrenagem administrativa.

A operação policial também pode ajudar a corrigir uma jogada política que deu errado. Castro havia escolhido o presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacelar (União Brasil), como sucessor, mas os dois romperam após uma discussão em que Bacelar apontou o dedo para a família do governador.

Quem acompanhou o episódio diz que foi uma das raras vezes em que viu Cláudio Castro perder a calma. A primeira teria sido para eleger Bacelar presidente da Assembleia, quando não havia apoio suficiente no Legislativo. Na ocasião, ameaçou tirar cargos de quem votasse contra. Seu modo de governar é dividir poder de porteira fechada — e retirar se for contrariado.

Para dar visibilidade política ao aliado, Castro fez seu vice conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Assim, quando está fora — já que não tem vice — quem assume o governo é o deputado.

Além disso, o governador planejava renunciar em abril para disputar o Senado, o que daria a Bacelar a chance de disputar o governo no cargo, com a caneta na mão — uma vantagem considerável.

Mas isso foi antes da briga. Hoje, aliados apostam que Castro pode até abrir mão de concorrer para impedir que Bacelar assuma o governo. Com a popularidade em alta, porém, acreditam que a política encontrará uma solução.

A saída pode passar pelo presidente do União Brasil, Antonio Rueda, aliado de Castro e que controla o partido com mãos firmes. Se ele quiser, Bacelar terá de se contentar com o TCE e sair do jogo.

Cláudio Castro agora corre contra o tempo. Um político que governa com base em pesquisas sabe que a popularidade é volátil. Sua maior preocupação, confidencia a aliados, é o dia seguinte à operação.

Metrópoles é site parceiro do Blog do Esmael

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *