Milei enfrenta prova de fogo nas eleições legislativas argentinas

O governo de Javier Milei enfrenta uma prova de fogo nas eleições legislativas deste domingo na Argentina, em meio à pior crise econômica em duas décadas, escândalos de corrupção e dependência explícita da Casa Branca. O presidente libertário transformou o pleito em um “segundo turno político”, um tudo ou nada que pode definir a sobrevivência de seu governo e do seu projeto ultraliberal.

Nos bastidores, Milei tenta mostrar serviço a Donald Trump após retornar dos Estados Unidos de pires vazio. O encontro com o presidente americano, que condicionou o apoio financeiro à vitória da extrema direita nas urnas, expôs a chantagem política que uniu os dois líderes. “Se ele não vencer, vamos embora”, teria dito Trump, provocando pânico nos mercados e desvalorização dos títulos argentinos.

A Força Pátria, coligação que reúne o peronismo, deve vencer na província de Buenos Aires, o maior colégio eleitoral do país e reduto estratégico, encerrando um jejum de 20 anos. O avanço peronista é reflexo direto do colapso econômico: inflação galopante, salários congelados, desmonte de políticas sociais e tarifas que subiram até 852%, como no transporte público. “As famílias não conseguem sobreviver, as tarifas explodiram e a economia parou”, sintetiza o analista Raúl Kollmann, colunista político em Buenos Aires.

A campanha peronista centrou fogo na deterioração da vida cotidiana e na dependência de Milei em relação a Trump. Em tom crítico, o discurso da oposição voltou a falar em soberania nacional e reconstrução do Estado. Consultorias apontam vantagem entre seis e nove pontos da Força Pátria sobre La Libertad Avanza (LLA). Em Córdoba e Santa Fé, antigos redutos libertários, há risco real de derrota. Em Mendoza e Salta, o cenário é de incerteza, e em províncias como Tucumán e La Rioja o peronismo deve vencer com folga.

O governo, por sua vez, tenta conter a sangria. O colapso cambial e o descontrole fiscal foram agravados por escândalos em série. O chamado “golpe da Libra”, o desconto ilegal de 3% em benefícios de pessoas com deficiência operado pela irmã de Milei, Karina, e o caso Espert, sobre suposto financiamento irregular de medicamentos, corroeram a credibilidade da Casa Rosada.

A aliança com Trump também virou alvo de críticas internas. A ajuda financeira dos EUA, vendida como trunfo diplomático, revelou-se uma encenação política. Analistas viram no gesto uma tentativa de pressionar o eleitorado argentino e salvar Milei da derrota. Nos bastidores diplomáticos, a leitura é unânime: o libertarismo se converteu em dependência e submissão.

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Criptogate deixou Milei no bico do corvo na Argentina.

A eleição em Buenos Aires é decisiva. O distrito concentra 37% do eleitorado nacional e costuma ditar o rumo político do país. O aumento no custo de vida e a queda no consumo transformaram o humor social. “Nada é vendido, ninguém compra. O governo prometeu liberdade e entregou desespero”, disse um dirigente sindical ao jornal argentino Página/12.

Mesmo que a LLA mantenha algumas cadeiras herdadas do PRO e da UCR, a derrota política é inevitável. Projeções indicam que o partido de Milei vencerá em apenas seis ou sete das 24 províncias. No Senado, perderá espaço; na Câmara, dificilmente ampliará a bancada. Fontes do mercado, como o JPMorgan, alertam para “risco institucional elevado” e projetam uma “Argentina violeta”, em que peronistas e libertários empatarão em torno de 35% dos votos nacionais.

O governo tenta vender a ideia de que um empate técnico seria uma vitória política, mas a realidade é outra. A Argentina afunda em recessão, os índices sociais se deterioram e a política externa virou refém da chantagem americana. Para a maioria dos argentinos, o veredito das urnas é claro: Milei está em queda livre.

A promessa de prosperidade libertária transformou-se em dependência e desespero. O presidente que dizia combater “a casta” agora é sustentado pelo mesmo sistema financeiro que dizia enfrentar. A eleição deste domingo é mais do que uma disputa legislativa, é o julgamento de um modelo que colapsou em tempo recorde.

O fracasso de Milei é o fracasso do dogma neoliberal quando aplicado sem mediação social. A aliança com Trump simboliza a rendição completa da soberania argentina ao capital estrangeiro. As urnas, neste domingo, serão mais que um termômetro político: serão um grito contra a financeirização da política e o autoritarismo disfarçado de liberdade.

Milei tem problemas severos com a especulação contra o peso. Foto: reprodução/RRSS
Milei tem problemas severos com a especulação contra o peso. Foto: reprodução/RRSS
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