Ciro Gomes no PSDB atrapalha Lula e reabre ferida do golpismo, aponta Paraná Pesquisas

A presença de Ciro Gomes (PSDB) na disputa presidencial de 2026 pode impedir Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de vencer no primeiro turno, segundo análise de Murilo Hidalgo, diretor da Paraná Pesquisas. O levantamento mostra Lula com folgada liderança, mas enfrentando a dispersão de votos provocada por candidaturas de centro e centro-direita.

Hidalgo avalia que a entrada de Ciro “atrapalha Lula” ao capturar parte do eleitorado moderado e progressista insatisfeito. Em um dos cenários da pesquisa da Paraná Pesquisas, divulgada nesta segunda-feira (27), o petista aparece com 37,4%, seguido de Tarcísio de Freitas (Republicanos) com 22,3%, Ciro Gomes com 9%, Ratinho Junior (PSD) com 8,1%, Romeu Zema (Novo) com 5,7% e Ronaldo Caiado (União Brasil) com 4,1%.

Noutra simulação, com Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no lugar do pai, Lula mantém 37,6%, contra 19,2% do senador. A pulverização à direita permanece: Ratinho Junior tem 9,6%, Ciro 8,9%, Zema 6,2% e Caiado 4,8%.

De acordo com Hidalgo, “Ciro tira votos de Lula, enquanto Ratinho, Zema e Caiado reduzem o espaço de Tarcísio”. O analista lembra que a fragmentação repete a de 2018 e 2022, quando a direita se dividiu e abriu caminho para o retorno de Lula ao Planalto.

No plano político, a mudança partidária de Ciro causou desconforto entre antigos aliados. O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, criticou duramente a saída: “Nenhuma ligação, nenhum gesto, nada. Foram 15 anos, não 15 dias. Faltou respeito e coerência com a história do partido”, afirmou.

Ciro, que disputou duas eleições presidenciais pelo PDT, agora tenta se reinventar voltando ao guarda-chuva tucano. Mas sua filiação ao PSDB reacende um passado incômodo: o partido, longe de ser “órfão de lideranças desde FHC”, teve papel central nas crises institucionais que abalaram a democracia brasileira.

Em 2014, o então candidato Aécio Neves (PSDB-MG) perdeu o segundo turno para Dilma Rousseff (PT) e se recusou a reconhecer o resultado das urnas. Aquele gesto abriu as portas para um ciclo de deslegitimação das instituições, que culminou no impeachment sem crime de 2016 e contaminou toda a região. O Brasil virou laboratório do golpismo, e o 8 de janeiro de 2023 foi a continuidade desse mesmo projeto antidemocrático, agora em escala global, com reflexos também nos Estados Unidos e em países vizinhos da América do Sul.

Portanto, o retorno de Ciro no PSDB não é apenas um movimento eleitoral, mas simbólico: aproxima-o de um partido que, historicamente, deu sustentação à política de ruptura institucional que o próprio Ciro dizia combater.

Ciro Gomes iniciou a carreira política no PDS, em 1982, partido da ditadura que abrigava jovens conservadores na transição para a Nova República. Em 1983, migrou para o PMDB, legenda pela qual se elegeu deputado estadual e depois federal, permanecendo até 1990. No mesmo ano, filiou-se ao PSDB, sendo eleito governador do Ceará e, mais tarde, ministro da Fazenda de Itamar Franco. Deixou os tucanos em 1997, passando pelo PPS (1997–2005), PSB (2005–2013), PROS (2013–2015) e PDT (2015–2025), sigla pela qual disputou as eleições presidenciais de 2018 e 2022.

Lula, por sua vez, mantém liderança consolidada, com o maior potencial eleitoral e o menor índice de rejeição entre os principais nomes, enquanto a direita e o centro se digladiam por um espaço que parece cada vez mais fragmentado.

A eleição de 2026, ao que tudo indica, reeditará o embate entre democracia e golpismo, com Lula mais uma vez no centro da arena política.

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