Candidato do PSOL defende “ditadura do proletariado” e plebiscito para a Copa do Mundo em Curitiba

por Samuel Nunes e Bibiana Dionísio, do G1 PR

Meirinho defende uma cidade socialista (Foto: Samuel Nunes/G1 PR).
Embora seja o mais novo na disputa eleitoral à  prefeitura de Curitiba, Bruno Meirinho (PSOL), já disputa o cargo pela segunda vez. Aos 30 anos, ele defende que a cidade precisa de mais participação popular nas decisões que influenciam no futuro dos curitibanos. “Vamos implantar uma gestão democrática, com plebiscitos e consultas públicas”, afirma ao ser questionado sobre como irá governar, caso seja eleito.

Meirinho é advogado e atua como consultor na área de planejamento urbano. Nestas eleições, o partido dele, PSOL, decidiu formar a chamada Frente de Esquerda e terá o apoio do Partido Comunista Brasileiro (PCB) na chapa que vai concorrer à  prefeitura e aos cargos de vereador.

Em entrevista ao G1, Meirinho explicou que a coligação irá lutar pela implantação do socialismo em Curitiba e irá lutar contra o “mito da cidade modelo”, que, segundo ele, se instituiu na capital paranaense.

Política

Para Meirinho, a chapa com o PCB apresenta coerência. O candidato avalia que nas outras chapas há muitas contradições ideológicas que fazem as campanhas perderem a identidade política. Meirinho acredita que as outras chapas tratam as eleições apenas como se fosse um “cálculo eleitoral”. “à‰ um grupo com uma identificação política, que encontra uma personalidade com bastante voto individual. Esse grupo busca outro que tem outra identificação política e se coligam para fazer uma campanha”, diz. A avaliação do candidato é de que falta aos adversários enxergarem que a cidade é feita de pessoas e de desejos.

Economia

Para ele, não há espaço para que a população possa dizer o que pensa sobre os rumos da cidade. Nosso maior objetivo nesta campanha é convidar as pessoas para participarem da política, se apropriarem da política!, diz. Meirinho crê que os recentes escândalos envolvendo a Câmara de Vereadores, por exemplo, são mostras de que os candidatos eleitos não representam a população da cidade. Existe uma elite política, que se apropriou do poder, e vem se sucedendo. A solução para isso é mais participação, mais informação, mais transparência!, afirma.

A avaliação de Meirinho é de que os atuais canais de interação entre a administração pública e a população, como as reuniões para a montagem do orçamento municipal não são eficientes. Muitas dessas audiências são apenas apresentações das atividades do governo. Elas não são, de fato, espaços de ouvir as pessoas. Muito embora eles [prefeitura] deem esse nome, na prática, elas não são audiências!, reflete.

Proteção à s minorias

Bruno Meirinho foi o único dos candidatos a prefeito a participar da Marcha das Vadias, que ocorreu em Curitibano dia 7 de julho. De acordo com ele, essa participação foi resultado da política defendida pelo PSOL, de proteção à s minorias. As mulheres, os negros e os LBGTs estão vivendo uma condição de desigualdade mais forte. Além do aspecto numérico e socioeconômico, são pessoas que sofrem muito preconceito no dia a dia!, avalia.

Para ele, Curitiba é uma cidade com uma estrutura social racista, machista e homofóbica. A marcha das vadias tinha esse espírito, de divulgar esse aspecto. A marcha tinha uma pauta política!, conta. Ele acredita que medidas como o incentivo à s expressões culturais da população negra, o aumento do percentual de mulheres na Câmara de Vereadores e a promoção da cultura popular podem ser usadas para combater as desigualdades sofridas por essa parcela da população.

Meirinho crê que há espaço para a mudança dessa cultura. O problema, porém, passaria pelo poder público. Acho que existe um sentimento autêntico, verdadeiro, uma energia positiva, que não é essa energia contida. Acho que as pessoas, historicamente, foram caladas. Curitiba é um modelo de administração da ditadura militar. Desde o plano diretor, todos os prefeitos foram os chamados prefeitos biônicos!, afirma. Ele avalia que a repressão imposta pelas administrações fez com que esse desejo de mudança da população ficasse contido, mas que essa realidade está mudando e que movimentos como a Marcha das Vadias representam isso.

Falta de cultura causa insegurança

De acordo com o Mapa da Violência, publicado no fim de 2011, pelo Instituto Sangari, Curitiba é a sexta capital brasileira com maior índice de homicídios. Esse problema, para Meirinho, está ligado diretamente à  desigualdade social e a falta de cultura que recaem sobre a população de menor renda. A gente acredita que ter mais projetos de cultura para a juventude é um mecanismo de intervir no tema da violência!, conta.

A ideia de Meirinho é combater as causas da violência e não apenas as consequências. A gente acha que a violência não se resolve colocando mais polícia nas ruas. O problema não está exatamente aí. O problema está em saber por que isso está acontecendo!, diz.

Meirinho aponta que a cultura popular entra nesse contexto para auxiliar a tirar os jovens do caminho da violência. Ele acredita que falta à  população se apropriar melhor dos espaços públicos existentes. Ele afirma que irá investir em incentivos à  projetos provenientes das classes oprimidas, como define.

Conforme o candidato, se a população puder utilizar melhor esses espaços públicos existentes, já estará de bom tamanho. Como exemplo, ele cita a confusão que houve entre foliões e a Polícia Militar durante o pré-carnaval, no Largo da Ordem, neste ano. Meirinho diz que a população foi calada e reprimida e que essa repressão é um dos motivos que ajudam, inclusive, a aumentar a percepção de que os curitibanos são mais introspectivos que outros brasileiros.

Quanto à  atuação da Guarda Municipal, o candidato diz que é contra o uso de armas pelos agentes. A Guarda Municipal é um instrumento para proteger os espaços públicos da cidade. Ela não deve ser um mecanismo que vai resolver o problema da segurança pública!, diz Meirinho. Ele afirma ainda que o uso de armas de fogo pelos guardas resulta em piora das condições de trabalho dos agentes.

Fim das creches conveniadas

Outro problema que Meirinho pretende resolver, caso seja eleito é o da falta de vagas em creches na rede municipal de ensino. Dados do Ministério Público apontam que 23 mil crianças ainda estão fora dos centros de educação infantil, enquanto a prefeitura afirma que esse número é de 9 mil crianças.

A proposta do candidato é de municipalizar todo o sistema de ensino infantil e acabar com os atuais convênios que a prefeitura mantém com instituições privadas. Atualmente, os pais precisam pagar uma parte da mensalidade a essas instituições, enquanto o restante do valor é subsidiado pela prefeitura. Ele diz que as muitas das creches particulares cadastradas junto à  prefeitura não possuem condições suficientes para receber os alunos. Não há um controle de qualidade das pessoas que trabalham com essas crianças. Elas têm que atender muitas crianças com condições precárias de trabalho!, afirma.

Meirinho diz ainda que é preciso que se acabe com o que ele chama de mães da rua!, pessoas que cuidam das crianças na própria casa, enquanto os pais estão em horário de trabalho. Educação infantil não é só um direito da mãe, é um direito da criança, para que ela possa se tornar um adulto com plenas condições de educação e de sociabilidade!, diz.

Para alcançar esses objetivos, a intenção dele é aumentar os recursos direcionados à  educação. De fato, é preciso investir e incentivar o professor!, afirma.

Avaliação da cidade

A crítica social permeia a conversa com o candidato. No caso do planejamento urbano, Curitiba também é criticada por Meirinho, que o considera excludente. Na dissertação de mestrado defendida por ele, o candidato faz duras críticas ao conceito de cidade-modelo! sempre atribuído à  capital do Paraná. Cada vez mais Curitiba é uma vitrine, é uma cidade de turismo, mas as pessoas não se apropriam da cidade, as pessoas não se sentem parte da cidade, a gente da cidade é colocada em lugares cada vez mais afastados!, conclui.

Conforme Meirinho, isso se deve ao que ele chama de privatização dos espaços públicos. A Cidade Industrial de Curitiba é um exemplo. Um grande território da cidade, que foi entregue a multinacionais!, diz. Ele avalia que essas privatizações se refletem também na desigualdade social. Para Meirinho, há uma má distribuição dos espaços públicos em relação aos locais mais povoados.

Habitação

Dados da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab) apontam que 75 mil pessoas estão na fila para conseguir um imóvel na cidade. Para resolver parte do problema, Meirinho defende a implantação do chamado IPTU progressivo. Se aplicado, o sistema obrigaria os proprietários a utilizar imóveis que atualmente estão fechados, sem uso. Se o proprietário mantém esse imóvel vazio é porque, de certa forma, isso é confortável para ele. Nós podemos aumentar o IPTU, de modo que ele decida se vai querer pagar mais IPTU ou se ele vai querer dar uma destinação desse imóvel!, explica. Conforme o candidato, o sistema prevê que o proprietário poderá alugar o imóvel ou fazer parcerias com a prefeitura.

Um dos objetivos da iniciativa seria reduzir a bolha imobiliária que elevou os preços dos imóveis na cidade, já que a ideia prevê que, após cinco anos, a prefeitura poderá desapropriar o imóvel fechado. Esses imóveis vazios precisam de uma destinação!, diz.

Quanto à s pessoas que já têm moradia, mas em situação irregular ou em área de risco, a proposta do candidato do PSOL é melhorar as condições dessas famílias. à€s vezes, você não precisa remover as pessoas, você pode melhorar as condições daquele local. Por exemplo, na CIC, há ruas que já passam ônibus, que já têm iluminação, mas não passa rede de esgoto. Para fazer a rede de esgoto, a prefeitura tem que fazer!, diz.

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