Uma pesquisa recente, conduzida nos Estados Unidos pela ABC Television em parceria com a Ipsos, revela que mais de 80% dos participantes acreditam que o atual presidente Joe Biden é demasiadamente idoso para concorrer e servir outro mandato na Casa Branca.
A visão de que o atual chefe-executivo americano é “muito velho” para buscar outro mandato foi apoiada por expressivos 86% dos entrevistados. Curiosamente, 59% dos participantes opinaram que tanto o democrata Biden quanto o provável candidato do Partido Republicano, Donald Trump, são “muito velhos” para participar da corrida presidencial.
A pesquisa, realizada nos dias 9 e 10 de fevereiro, contou com a participação de 528 entrevistados, apresentando uma margem de erro de 4,5%.
Com a próxima eleição presidencial dos Estados Unidos marcada para dia 5 de novembro de 2024, a questão da idade dos candidatos já se torna um ponto central de discussão.
Em 25 de abril de 2023, Biden anunciou sua intenção de concorrer à reeleição, enquanto o ex-presidente Trump, derrotado por Biden em 2020, declarou sua candidatura em novembro de 2022 e é considerado o favorito para a indicação presidencial do Partido Republicano.
O debate sobre a idade dos líderes políticos não é novo, mas acentua-se em um cenário onde figuras importantes buscam liderar uma das maiores potências mundiais. A pesquisa reflete não apenas a preocupação com Biden, mas também com a possível candidatura de Trump.
Enquanto a pesquisa apresenta números significativos, é crucial considerar que a avaliação da “velhice” pode ser subjetiva e influenciada por diversos fatores, como a saúde e vitalidade do candidato. Além disso, a experiência acumulada ao longo dos anos pode ser um ativo valioso na tomada de decisões políticas.
À medida que a campanha presidencial se desenrola, a discussão sobre a idade dos candidatos certamente continuará. A sociedade americana terá que ponderar a sabedoria acumulada versus a necessidade de liderança dinâmica em um mundo em constante mudança.
A pesquisa destaca a percepção predominante de que Biden e Trump são considerados “muito velhos” para a presidência. Contudo, a análise crítica sugere que a questão da idade pode ser mais complexa do que aparenta à primeira vista.
A essa polêmica poder-se-ia chamar de “etarismo” da mídia americana, que pauta a discussão política sob o prisma do “mais velho” [Biden] ou do “menos velho” [Trump] na disputa pela Casa Branca, deixando para trás temas mais urgentes para a sociedade americana.
Etarismo, que bicho é esse?
O etarismo, manifestado através de preconceitos e discriminação baseados na idade, é uma problemática social que merece atenção crítica. Esta forma de discriminação, muitas vezes velada, impacta negativamente não apenas a saúde mental, mas também limita oportunidades e contribui para a perpetuação de estereótipos prejudiciais.
Pontos de crítica ao etarismo:
- Desvalorização do potencial: Ao julgar indivíduos com base na idade, o etarismo desconsidera a diversidade de habilidades, experiências e contribuições que pessoas de diferentes faixas etárias podem oferecer. Isso leva a uma subvalorização do potencial individual.
- Impacto na saúde mental: Estudos evidenciam que o etarismo contribui para a baixa autoestima, ansiedade e até depressão em indivíduos mais velhos, afetando diretamente sua qualidade de vida.
- Perpetuação de estereótipos: O etarismo contribui para a perpetuação de estereótipos negativos associados à idade, limitando a percepção das capacidades individuais e reforçando conceitos ultrapassados.
- Desigualdade de oportunidades: A discriminação por idade pode resultar em desigualdades no acesso a oportunidades educacionais, de emprego e sociais, prejudicando o desenvolvimento pessoal e profissional.
- Impacto na saúde global: O estigma associado à idade pode afetar negativamente a busca por cuidados médicos adequados, pois os indivíduos podem evitar procurar ajuda devido ao medo do julgamento baseado na idade.
O combate ao etarismo é fundamental para promover uma sociedade mais inclusiva, onde todos, independentemente da idade, possam contribuir plenamente para o progresso social e cultural de uma nação.
A população no Brasil envelheceu, segundo o IBGE
Mais cedo, mais tarde, esse etarismo na política certamente chegará com força ao Brasil. Na verdade, esse preconceito já ronda os bastidores da política desde a primeira eleição pós-redemocratização, em 1989, quando a velha mídia golpista vendeu Fernando Collor de Mello, o caçador de marajás, como o destemido governador de Alagoas que combateria os corruptos e os privilégios dos ricos.
Naquele pleito ocorrido há 35 anos, seria o confronto de gerações: a juventude de Collor contra os “velhos”, a exemplo do experiente Ulysses Guimarães e Leonel Brizola.
Dito isso, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil teve o maior salto de envelhecimento entre dois censos desde 1940. Em 2022, o índice de envelhecimento chegou a 55,2, o que significa que há 55,2 pessoas com 65 anos ou mais de idade para cada 100 crianças de 0 a 14 anos. Em 2010, o índice era de 30,7.
A idade mediana da população brasileira aumentou 6 anos desde 2010 e atingiu os 35 anos em 2022.
A população de 80 anos e mais também deu um salto. Enquanto no geral cresceu 6,5%, nessa faixa etária aumentou 56,3%. São 4,6 milhões atualmente no país. Em 2010 eram 2,9 milhões.
Jornalista e Advogado. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.