Harry Kane foi eleito o melhor jogador da partida, mas Jude Bellingham dominou as entrevistas pós-jogo por sua excepcional atuação no meio-campo, com o apoio de peso de Jordan Henderson
- Jude Bellingham teve uma função crucial no meio-campo na vitória inglesa sobre o Senegal
- Ele se tornou o primeiro adolescente inglês desde Michael Owen a ser titular nos mata-matas da Copa
- Jordan Henderson também foi elogiado pelo técnico da Inglaterra, Gareth Southgate
A Inglaterra acabava de se classificar para as quartas de final da Copa do Mundo FIFA contra a atual campeã mundial França. Harry Kane tinha se reencontrado com o gol. Jordan Pickford chegou ao nono jogo de torneios entre seleções sem sofrer gols. Raheem Sterling estava em um voo de volta para casa.
Apesar disto tudo, a primeira pergunta que o técnico Gareth Southgate precisou responder na entrevista coletiva no Estádio Al Bayt foi sobre Jude Bellingham.
“Acho que o principal é a mentalidade”, começou dizendo a respeito do jogador do Borussia Dortmund, de 19 anos. “É evidente que fizemos um grande trabalho ao longo dos anos com os juvenis e na formação deles, e o que faz a diferença é a mentalidade, a determinação, o desejo de aprender e melhorar. Ele tem tudo isso”.
Tanto que o técnico ainda chegou a acrescentar: “Não acho que dava para prever como ele amadureceria tão rápido. Nos últimos seis meses ou, na verdade, nos últimos três meses, ele alcançou um nível ainda mais alto”.
Southgate não era o único a celebrar a influência que Bellingham teve sobre o encontro, em uma noite em que ele se tornou o segundo adolescente inglês, após Michael Owen em 1998, a ser titular em uma partida válida pelos mata-matas da Copa do Mundo. “Minha nossa, o Jude Bellingham é incrivelmente bom. É o líder desta seleção”, tuitou Gary Lineker.
Já na zona mista do pós-jogo, Luke Shaw disse a um repórter de TV: “Para mim, o futuro pertence a ele, e ele pode ser o que quiser”. Phil Foden foi ainda mais enfático: “Não quero encher muito a bola dele porque ele ainda é jovem…”, começou, antes de fazer exatamente o que disse não querer: “É um dos jogadores mais talentosos que eu já vi. O futebol dele não tem nenhum ponto fraco. Acho que vai ser o melhor meia do mundo”.
Jordan Henderson também disse o que pensava para o repórter da rede de TV beIN: “Sinto que estou ficando sem ter o que dizer sobre ele. Uma mentalidade incrível, um jogador incrível. Estamos falando de um jogador que tem uma mentalidade única, não tem comparação. Só precisamos deixar que ele curta jogar o seu futebol”.
O fato é que um jovem de 19 anos acabava de encarar um mata-mata de Copa do Mundo e dominá-lo por completo. Owen fez o mesmo em 1998 com velocidade e finalização precisa. Bellingham, por sua vez, pressionou quando não tinha a bola e atacou desde o começo, conduzindo o jogo pelo corredor interior esquerdo do campo, impondo sua vontade sobre a disputa. Seu impulso para subir ao ataque se mostrou crucial para os dois gols marcados ainda no primeiro tempo.
No primeiro, ele subiu por esse mesmo corredor para receber o passe enfiado de Harry Kane, entrar na área e rolar a bola com extrema precisão para Jordan Henderson, que vinha entrando e empurrou para o gol, se tornando o mais velho jogador inglês a marcar em Copas do Mundo desde Tom Finney.
No segundo, ele ganhou uma bola a dez metros da entrada da área inglesa, se antecipando de cabeça a um senegalês, passou por outro adversário e encontrou Phil Foden, que lançou para Kane, livre. Na linguagem do futebol moderno, uma “assistência” e uma “pré-assistência”.
Da última vez que a Inglaterra jogou contra a França em Copas do Mundo, na Espanha 1982, Bryan Robson, um meia que sabia bem como subir até a área adversaria, roubou a cena com dois gols. Nessa mesma linha, Bellingham pode ter um papel considerável a desempenhar quando as duas seleções se encontrarem em Mundiais pela primeira vez desde então.
O técnico do Senegal, Aliou Cissé, falou depois do jogo sobre o perigo que a Inglaterra leva nas transições e fez menção ao trio do meio-campo inglês, formando por Declan Rice, Henderson e Bellingham, por seu vigor físico, suas recuperações de bola e sua distribuição de jogo.
Southgate foi mais específico, elogiando a maneira como Bellingham trabalhou principalmente em conjunto com o experiente Henderson durante uma primeira etapa em que Senegal foi melhor nos 30 minutos iniciais.
“Esses dois, quando não tinham a posse de bola, foram o que realmente nos fez entrar no jogo”, explicou Southgate. “Estávamos um pouco travados com a bola e os nossos melhores momentos eram quando recuperávamos a posse. A influência do Henderson foi dando ao Jude mais liberdade posicional e ele [Bellingham] respondeu extraordinariamente bem a isso”.
O técnico acredita que a entrada de Henderson durante o jogo contra os EUA ajudou a Inglaterra a resolver alguns desafios táticos. De lá para cá, o jogador, que na Eurocopa de 2021 tinha se limitado a ficar no banco e, no máximo, entrar como substituto, já foi titular nos dois últimos compromissos.
“A pressão [de Henderson] sem a bola no primeiro tempo teve uma grande influência”, disse Southgate, que também elogiou a experiência do atleta de 32 anos.
De acordo com a Plataforma de Dados do Futebol da FIFA, Henderson foi o segundo jogador inglês que mais ações de pressão sem a bola realizou, com 31. Bellingham ficou em primeiro, bem à frente, com 45 em seus 76 minutos em campo. Além de seu avanço ofensivo, ele fez mais interceptações (cinco) do que qualquer outro jogador.
A maneira como Henderson e Bellingham comemoraram o primeiro gol mostrou o evidente respeito mútuo entre a dupla. Se Bellingham é ao mesmo tempo o presente e o futuro do meio-campo da Inglaterra – e, sem dúvida, candidato inicial ao prêmio de Melhor Jogador Jovem do Catar-2022 –, Henderson ainda tem um papel de peso a desempenhar ao lado dele para tornar isso possível.
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