Brasília respirou, durante cinco dias, um Brasil que possível, de igualdade, um país que insiste em se refazer pela memória e por um futuro mais justo. A 5ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Conapir) chegou ao seu último dia nesta sexta-feira (19), carregando a marca de um reencontro histórico: depois de sete anos, mais de 2 mil pessoas circularam por dia na conferência, entre delegados, convidados, observadores, expositores e visitantes.
“Não tem como voltar, não podemos retornar. O Brasil carrega a sua história e nos ensina a olhar para a frente. Não tenho dúvidas de que muito do que ainda vamos viver foi escrita aqui hoje”, defendeu a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. “Nossa luta não se interrompe. Cumprimos juntas e juntos essa entrega, como mais uma etapa escrita na página da história deste país”, acrescentou.
Ao longo da cerimônia de encerramento, que aconteceu durante a amanhã, foi possível sentir os territórios e trajetórias, entre dores e esperanças, que compuseram o coro de uma nação que ainda busca por justiça racial. A leitura do Manifesto Sankofa: “retornar ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro” foi a materialização de tudo o que se ouviu nos corredores, nos grupos de trabalho e nos momentos de descanso ao longo do percurso preparatório e nos cinco dias de Conapir, simbolizando também a resistência cotidiana na luta pela reparação histórica.
Participaram, além da ministra Anielle Franco, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República (SGPR), Márcio Macêdo; os conselheiros de Promoção da Igualdade Racial; os secretários do Ministério da Igualdade Racial (MIR) Rachel Barros, Clédisson Júnior, Ronaldo dos Santos e Tiago Santana; a secretária-executiva da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Selma Dealdina; e outros convidados.
Para celebrar e marcar os intensos quatro dias anteriores de Conferência, o último dia contou com a cerimônia de assinatura de aprovação das metas e indicadores do ODS 18; a entrega do caderno de respostas da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas, Ancestralizando o futuro; e o anúncio do investimento em parceria com o CNPq em pesquisas sobre a igualdade racial.
Durante o encerramento, o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR) deu encaminhamento às mais de 50 moções apresentadas ao longo da semana, entre moções de apoio, repúdio, aplausos e recomendações. A secretária-executiva do CNPIR, Larissa Santiago, agradeceu o engajamento coletivo: “Quero agradecer a todas e todos os delegados, convidados, observadores, expositores, todas as pessoas que estiveram aqui. As moções serão encaminhadas pela Secretaria Executiva do Conselho. Ontem passamos a tarde inteira sistematizando e isso mostra a força do compromisso coletivo que se renovou nesta Conapir.”
>>Leia mais sobre as moções apresentadas na 5ª Conapir
ODS18 – A oficialização da portaria conjunta do ODS 18, entre os Ministérios da Igualdade Racial (MIR) e dos Povos Indígenas (MPI), a Secretaria-Geral da Presidência da República, formaliza as metas e os indicadores decisivos para avançar na igualdade étnico-racial e na incorporação dos objetivos do desenvolvimento sustentável nas políticas públicas. Além disso, ele passa a ser um marco normativo para as políticas públicas de combate às desigualdades raciais no Brasil. O ato representa uma resposta concreta às demandas apresentadas e conecta a luta antirracista do país à Agenda 2030.
Manifesto Sankofa – Na mesa final, o Manifesto Sankofa foi lido e aclamado em plenário, reafirmando a necessidade de olhar para trás, honrar os ancestrais e ressignificar o presente para construir outro amanhã. Lido pela diretora de Políticas Públicas para os Povos Tradicionais de Matriz Africana e Povos de Terreiros, Luzi Borges, o manifesto é uma imagem que ilustra a 5ª Conapir e não cabe em relatórios: somos uma nação plural que insiste em se afirmar contra o apagamento histórico, dizendo em coro que “igualdade racial não é concessão: é reparação!”
Missões cumpridas – Partindo do pressuposto que a pluralidade é fundamento político, povos indígenas, de terreiro, quilombolas, ciganos, juventudes, além de pessoas idosas, LGBTQIA+, periféricas e com deficiência partilharam os mesmos espaços de formulação de ideias e propostas.
“Sinto grande satisfação por termos percorrido as esferas regional, municipal e estadual, chegando até aqui. Tenho fé de que, em breve, acontecerão as marchas das mulheres negras, fortalecendo essa luta e a união de todos”, refletiu a delegada Romilda Vilela, missionária da Casa de Missão Christa Solução Brasil e África, representando o movimento negro do Itaim Paulista, São Paulo. “Nenhuma dor é menor que a outra. Não se trata de disputa, mas de compreender que só no diálogo e na escuta mútua podemos construir o projeto de mudança que o Brasil exige”, complementou.
“Sou a única pessoa com deficiência na minha delegação da Bahia. Aqui encontrei respeito, renovação de energia e esperança. O que levo na bagagem é que, unidos, nós podemos vencer o racismo, o capacitismo, a homofobia, a transfobia e o feminicídio. Nada sobre nós, sem nós”, relatou o delegado Jailson Cadeirante.
Essa escuta revelou uma luta conjunta pela construção de um projeto democrático que não hierarquize sofrimentos, mas que se disponha a unificar na construção de políticas de reparação histórica. Um espírito de missão cumprida que também esteve presente na fala do cacique Henrique, do Piauí: “Representar meu povo aqui é uma experiência que levarei para a vida inteira. Trouxe nossas demandas e vi que foram aceitas. Saio com o coração leve e a certeza de que o esforço valeu.”
Entre acertos e desafios de logística, a conferência se revelou também espaço pedagógico: aprender a ocupar, propor, divergir e pactuar. “A gente foi silenciado por muito tempo. Estar aqui é exercitar a prática de fazer política, de já chegar preparado para transformar”, disse a delegada Muzenza Demboresi, de Roraima.
5ª Conapir – A Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial é promovida pelo Ministério da Igualdade Racial, por meio de seu Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial, e simboliza uma retomada histórica da participação da sociedade nas demandas por políticas públicas de igualdade racial.
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