Eleições nos EUA: Após ameaças de Trump de parar contagem de votos, democratas se dizem prontos para combate na Justiça

Os Estados Unidos aguardam o fim de um longo suspense: os resultados das eleições presidenciais, que vão dizer se os americanos darão mais um segundo mandato a Donald Trump ou se elegerão Joe Biden. Em discurso na madrugada desta quarta-feira (4), o presidente apontou para fraudes na contagem de votos e ameaçou levar à disputa à Suprema Corte. Democratas se declaram “prontos para o combate” na Justiça.

Diante da troca de acusações e ameaças entre os dois candidatos, o suspense deve durar mais do que o previsto. A disputa está apertada em vários estados-chave que vão definir a eleição nos Estados Unidos. Devido aos milhões de boletins enviados pelo correio e aos votos antecipados, a contagem pode durar ainda vários dias.

Ninguém arrisca exatamente dizer quando serão divulgados os resultados oficiais. Mas diante das várias projeções, os candidatos já indicam que sairão vencedores.

Joe Biden foi o primeiro a falar em público. Por volta da 1h da manhã pelo horário da costa leste americana, ele subiu em um palco em Wilmington (Delaware), e fez uma breve declaração ao lado da esposa dizendo que está no caminho da vitória.

O candidato democrata citou diversos estados em que venceu, como o Arizona, e disse que estava ainda com “boas chances” na Pensilvânia e Wisconsin, embora algumas projeções deem vitória a Trump.

“Vai demorar um pouco, temos que ter paciência até o longo trabalho ser concluído. Todo voto tem que ser contabilizado. Estou otimista, mantenham a fé e vamos vencer”, disse.

Economia

Logo depois, no Twitter, o presidente Donald Trump causou polêmica ao publicar: “Estamos em alta. Eles estão tentando roubar nossa eleição, mas não vamos deixar. Votos não podem ser enviados após o fechamento das urnas”, afirmou, em referência aos votos enviados pelo correio e que alguns estados autorizaram a ser contabilizados.

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A publicação foi censurada pela plataforma por ser considerada potencialmente “enganosa”. “Uma parte ou a totalidade do conteúdo compartilhado neste tuíte é controverso e poderia ser enganoso com relação ao modo de participação em eleições ou em qualquer outro processo cívico”, escreveram os moderadores.

No perfil de Trump no Twitter, a mensagem não aparece mais de imediato. É preciso clicar para poder ver o conteúdo.

Discurso de vitória e acusação de fraude
Depois, na Casa Branca, Trump fez um discurso no qual afirmou ser o vencedor da eleição. Em um tom de vitória, ele comemorou o que chamou de resultados “fenomenais”. “Francamente, ganhamos essas eleições”, declarou.

O presidente disse estar pronto para sair e celebrar “algo muito bonito”: um sucesso inesperado nas urnas, segundo ele. Trump também ressaltou os 370 votos de vantagem sobre Biden na Flórida, além das vitórias nos estados-chave: Wisconsin, Ohio, Geórgia, Carolina do Norte e Pensilvânia.

Evocando fraudes, Trump disse que pretende recorrer à Suprema Corte para frear a contagem dos votos antecipados. Acredita-se que pode haver uma batalha judicial pela frente.

Uma hora após o discurso de Trump, a equipe de campanha democrata reagiu. “Se o presidente for a fundo em sua ameaça de acionar a justiça, para tentar interromper a contagem de votos, temos equipes de juristas prontas”, advertiu Jen O’Malley Dillon, a diretora de campanha de Biden, por meio de comunicado.

Segundo ela, as declarações de Trump são “escandalosas”, “incorretas” e “sem precedentes”. “É escandaloso porque é um claro esforço para tirar o direito dos cidadãos americanos”. O’Malley ressaltou que o presidente não exibiu nenhuma prova de que a votação tenha sido fraudada e garantiu que a contagem de votos não vai ser interrompida.

Pesquisas erraram mais uma vez
Como nas últimas eleições presidenciais americanas, as pesquisas inicialmente apontavam para uma provável “onda azul” nos Estados Unidos, em referência à cor do Partido Democrata. Mas a disputa está muito mais acirrada do que previam as sondagens de opinião pública.

Trump conquistou vários estados, onde também já havia vencido em 2016, como a Flórida, Ohio, Iowa, em disputas apertadíssimas com o rival democrata. Na Flórida, por exemplo, Trump contou mais uma vez com o forte apoio da comunidade latina e também de condados no interior.

O presidente venceu também no Texas, o maior estado para os republicanos, e também está na frente em Michigan, Geórgia e Pensilvânia, segundo diversas projeções que ainda precisam ser confirmadas.

Já Joe Biden, venceu nos tradicionais redutos democratas, como a Califórnia, Novo México, Minnesota, Arizona, e diversos estados da costa leste. A vitória no Arizona, anunciada pela rede de TV Fox News, irritou a campanha do presidente Trump, alegando que ainda havia milhares de votos para serem contabilizados.

O vencedor não será conhecido nesta quarta-feira, devido à grande quantidade de votos emitidos pelo correio e cuja contagem em alguns estados poderá demorar até alguns dias.

Economia, desigualdade racial e Covid-19 mobilizaram eleitor
Uma pesquisas feita pela da CNN na saída da votação revelou os temas que mais orientaram o voto dos eleitores e explicam, em parte, a votação expressiva em Trump. A economia (34%) apareceu como a maior preocupação dos eleitores que foram às urnas. Em segundo, chegou a questão da desigualdade racial (21%), o que mostra o impacto da onda de violência e protestos que se seguiram à morte de negros pela polícia. Em terceiro na lista de preocupações, está a pandemia do coronavírus (18%).

A Covid-19 foi um tema dominante na campanha eleitoral, que aconteceu no momento de um forte aumento dos casos da doença nos Estados Unidos. O coronavírus já contaminou mais de 9 milhões e matou mais de 231 mil pessoas no país.

A gestão da pandemia foi alvo de ataques de Biden contra Trump durante a campanha, que sempre relativizou a gravidade da doença e prometeu que em breve o país terá uma vacina. No entanto, segundo a mesma sondagem realizada na saída das urnas, uma das prioridades do presidente eleito deve ser de combater a progressão da Covid-19.

Questões relacionadas com segurança (11%) apareceram apenas em quarto lugar na lista de preocupações do eleitorado.

Disputa na Câmara dos Representantes e Senado
Outra batalha entre democratas e republicanos é a disputa pelas duas casas do Congresso. Já se sabe que os democratas aumentaram o controle da Câmara dos Representantes, onde têm maioria. O grande desafio agora é retomar o controle do Senado, atualmente nas mãos do Partido Republicano.

Os democratas tomaram uma cadeira dos republicanos no Colorado, mas perderam em seguida um assento para os rivais no Alabama. O Partido Democrata precisa obter quadro cadeiras para voltar a ter maioria no Senado.

Nas eleições para governadores, segundo projeções, os republicanos conquistaram 27 estados, ou seja um a mais do que na eleição passada, e os democratas ficaram com 23.

Essa eleição já trouxe novidades: o estado do Missouri terá pela primeira vez uma mulher negra o representando no Senado, que será a democrata Cori Bush. Ela comemorou a vitória ao lado da família e em frente da bandeira do movimento Black Lives Matter.

A outra novidade é que pela primeira vez o Senado terá uma representante transgênero. Trata-se da ativista e democrata Sarah McBride que ganhou uma cadeira pelo estado do Delaware, o mesmo do candidato Biden. Ela comemorou com uma mensagem no Twitter dizendo que espera que a eleição mostre às pessoas LGBTQI+ que a democracia americana é grande o suficiente para elas também.

Muitos estados também fazem consultas populares simultaneamente às eleições. O Oregon se tornou o primeiro nos Estados Unidos a descriminalizar o porte de pequenas quantidades de algumas drogas pesadas como cocaína, heroína, metanfetamina e um tipo de cogumelo alucinógeno para pessoas acima de 21 anos. Mas em nível federal, essas substâncias continuam proibidas.

Por RFI