Coluna do Luiz Cláudio Romanelli: O país dos “cartórios”

romanelli
Em sua coluna semanal, o deputado estadual Luiz Cláudio Romanelli defende que a presidenta Dilma Roussef (PT) está agindo contra o que sua própria história representa ao forçar o país a passar por uma ajuste fiscal recessivo. Romanelli também defende que o Paraná já fez sua parte no ajuste econômico e já está pronto para virar a página e avançar. Leia, ouça, comente e compartilhe.

Luiz Cláudio Romanelli*

“O Brasil ficou caro antes de ficar rico, perdemos a competitividade”
Geraldo Alckmin

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A cada dia me convenço mais que a política econômica, adotada pela presidente Dilma, está na contramão da sua própria história de vida e de tudo o que foi defendido e construído nos últimos 12 anos no Brasil.

Creio que se ela não mudar o rumo da economia, a recessão e desemprego, aliados à escandalosa revelação da corrupção na Petrobras, tornarão insustentável a governabilidade. A crise é grave e se for para cair, que caia tentando acertar e não afundando ainda mais o país.

A adoção de uma nova política econômica anticíclica é fundamental para impedir, sobrepujar, ou minimizar, os efeitos do atual ciclo econômico, que é inerente ao capitalismo, especialmente após as “barbeiragens” na condução da política econômica dos últimos quatro anos com a redução das taxas de lucro e aumento exponencial da taxa de juros. Por óbvio, fatores externos podem nos ajudar a sair da crise, desde que se adotem as medidas corretas.

Economia

Quem sofre com a crise é o trabalhador assalariado. Os mais ricos ganham dinheiro com crise ou sem crise. A prova disso é que as montadoras estão com os pátios abarrotados de carros populares por conta das vendas estagnadas, enquanto para os carros de luxo tem até fila de espera.

Outro exemplo são os bancos: as pessoas perdem o emprego e acabam muitas vezes penduradas no cartão de crédito e cheque especial, e os bancos faturando com a crise, recebendo os juros mais altos do planeta. Portanto, não existe crise pra quem é rico.

Pode demorar, mas o caminho é o Estado tornar-se mais eficiente na cobrança dos tributos, sobretudo dos mais ricos. Este ano mesmo foi inaugurado em Brasília o sonegômetro, para alertar a sociedade sobre a quantidade dos tributos sonegados no Brasil. Estima-se que anualmente, o país perde cerca de R$ 500 bilhões com a sonegação de impostos, ou seja, sete vezes mais do que aquilo que o país perde com a corrupção, que é estimada em R$ 67 bilhões por ano.

Esta semana Geraldo Alckmin esteve em Curitiba. Para o governador de São Paulo, o governo federal quer fazer o ajuste fiscal penalizando Estados e municípios por meio da proibição da contratação de empréstimos internacionais destes entes federados, quando deveria priorizar a exportação, aproveitando o real desvalorizado para retomar mercados e por outro lado, investir em infraestrutura e logística, gerando empregos, por meio da construção civil, reduzindo o custo do pais, melhorando a eficiência e a produtividade.

Efetivamente, os empréstimos são fundamentais para garantir empregos, para obras de infraestrutura e logística e o governo federal deveria estimular os Estados a realizar investimentos e gerar desenvolvimento e empregos.

Mas o que vemos é o contrário, analisou: “o país tem um federalismo com a cabeça hipertrofiada, que é o governo federal, e um corpo, que são os Estados e municípios e uma burocracia exacerbada”. Como ele bem disse, temos direito aos empréstimos e financiamentos externos, temos espaço fiscal e simplesmente não são liberados os recursos, com o objetivo de fazer superávit primário às custas dos Estados e municípios.

O Brasil que dá certo é o construído pelo nosso povo, pela sociedade civil organizada, pelos trabalhadores, pelos empresários, pelos intelectuais na academia. O Brasil que precisamos mudar é o Brasil preso ao modelo de gestão pública do Século XIX, é preciso, sobretudo buscar a eficiência.

Aqui fizemos um programa de ajuste fiscal, e foi um decisão acertada que já mostra resultados. O Paraná recuperou sua capacidade de investimento, é um dos Estados que tem uma agricultura e uma indústria fortes, um setor cooperativista articulado, um setor de serviços importante, e graças às medidas adotadas pelo governo, o Paraná está recuperando a sua capacidade de investimento, competitividade e reduzindo seus custos.

‎Enquanto a união e os estados brasileiros estão sentindo os efeitos da crise, o Paraná saiu na frente – a um custo político alto, é verdade – do Poder Executivo e do Legislativo.

O que estamos vendo, são estados e municípios, com dificuldades de honrar um compromisso sagrado dos governantes: pagar em dia o salário dos seus servidores.

Afinal de contas, já que não deu certo até agora o slogan do segundo governo Dilma, pátria educadora, deveríamos insistir no do primeiro, que é, país rico é país sem pobreza.

*Luiz Cláudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, ex-secretário da Habitação, ex-presidente da Cohapar, e ex-secretário do Trabalho, é deputado pelo PMDB e líder do governo na Assembleia Legislativa do Paraná. Escreve às segundas-feiras sobre Poder e Governo.

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