A escolha do Coronel Maurício Tortato para comandar a PM foi um belo acerto, em meio às trapalhadas do governo. Oficial culto, com formação humanista e capacitado como gestor, ele tem todas as condições de esquadrinhar as necessidades da PM, dando-lhe planejamento e nova dimensão.
Não que o anterior, a quem sucedeu, Coronel Cesar Kogut, fosse ruim. Ao contrário, posso dar um testemunho isento da retidão e competência do Coronel Kogut, no período em que passei pela SESP. É que sua permanência ficou insustentável apenas por razões políticas, quando a história lhe reservou, por paradoxo, já no outono da sua vida militar, um papel de grande relevo. Coube ao Coronel Kogut liderar, como convém a um bravo Comandante, um grupo quase unânime de oficiais coronéis, na defesa da dignidade da PM, num momento em que interesses mesquinhos jogavam lama na corporação.
Kogut e Tortato podem seguir de cabeça erguida. O primeiro, pelo que fez, na defesa da família miliciana. O segundo, pela esperança que traz para os novos tempos.
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Se falei da PM, permitam-me um pitaco na Polícia Civil. Conheço o atual Delegado-Geral, Julio Reis. Dedicado, fez sempre um bom trabalho como chefe da divisão do Interior e como subdivisional em Cascavel. Tem todas as credenciais para obter resultados satisfatórios no comando da Polícia Civil.
Precisa apenas pacificar a casa. A Polícia Civil é multifacetada. Ao longo do tempo, foi se dividindo e subdividindo em vários grupos, que se formam por circunstâncias históricas ou interesses momentâneos.
O tempo passa, e se eu voltar meu olhar para a galeria dos ex-diretores da Polícia Civil, fico feliz em constatar que conheci e fui amigos de todos eles, nos últimos vinte e cinco anos.
Qualquer nome que surja para a chefia da Polícia Civil receberá críticas internas que, depois, se projetam para o mundo externo. Nem é preciso transitar pela Boca Maldita, onde honrosamente sou Comendador Cavaleiro, para ouvi-las. Tenho a impressão que sempre será assim, beirando a autofagia.
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O Delegado Federal Wagner Mesquita tem preparo e apresenta boas condições técnicas para permanecer no cargo de Secretário de Segurança.
Perfil baixo, tem se colocado de maneira acertada como gestor, deixando o protagonismo para as forças de polícia, o que, aliás, é muito recomendável para o cargo.
Parece reunir apoio político e, de quebra, fora do governo, tem a aprovação de amigos influentes e conselheiros do Governador. Hoje sei da importância dos palpites destes corneteiros, algo que me faltou. Mas, atenção. Se Mesquita desejar permanecer na função não pode confundir apoio político com politizar a SESP. Precisa revelar personalidade própria e independência, para que esteja à altura do cargo.
A pior coisa que pode lhe acontecer é ser identificado como um mero títere ou como a figura do Deus ex machina, do teatro grego. Perderá o respeito e a autoridade.
Na segurança pública, as figuras místicas de Mizaru, Mikazaru e Mazaru, os três macacos sábios japoneses, estão sempre com as mãos em posições opostas às mãos das conhecidas imagens. Ou seja, olhos arregalados, mãos esgarçando os ouvidos e boca em posição de alto-falante.
Neste setor, ninguém é bobo, todo mundo tem ouvidos bem abertos e olhos grudados nos papéis que tramitam, nas nomeações publicadas e nos contratos celebrados. Todos são ávidos leitores do Diário Oficial. Todo mundo sabe quem é quem. E todos tem enormes bocas, que tagarelam sem limites.
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O desafio em comum para os três, Mesquita, Tortato e Julio Reis é missão para forças especiais.
Brigar neste governo por recursos orçamentários e financeiros, depois que os fundos de investimentos da Segurança Pública, como o FUNESP e o FUNPEN foram para o beleléu, solapados pela sanha arrecadatória do setor fazendário, é tarefa de fôlego a ser assumida apenas por dirigentes que sejam desapegados do cargo e que estejam verdadeiramente comprometidos com seus policiais e com a população do Paraná.
Sem lutar por investimentos e sem atender as justas e legítimas aspirações dos policiais, a atual gestão da SESP, lamento profetizar, será apenas burocrática e sofrível, por mais esforço que possam ter seus dirigentes.
Se não forem aportados recursos, se forem negados aos policiais os direitos que lhes são devidos, se não acontecerem investimentos consistentes, o que se fará na segurança pública, como gosta de dizer o Governador, será “enxugar o gelo”.
E nem será o gelo a refrescar o champagne francês nas areias da Praia Mansa ou para temperar o bom whisky vindo das melhores casas de Ciudad del Este, para ser sorvido na beira da piscina de águas mornas do hotel em Foz do Iguaçu.
Será o gelo das geadas de inverno dos Campos Gerais, que não deixa crescer ou desenvolver nada ao seu redor.
*Reinaldo Almeida César é delegado da Polícia Federal. Foi secretário da Segurança Pública do Paraná. Chefiou a Divisão de Cooperação Policial Internacional (Interpol). Escreve nas quartas-feiras sobre “Segurança e Cidadania”.
Jornalista e Advogado. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.