Coluna do Reinaldo de Almeida César: Segurança Pública pode continuar “enxugando gelo” no governo Richa

Reinaldo de Almeida César, em sua coluna desta quarta, elogia as três escolhas do governador Beto Richa para a área da Segurança Pública (Wagner Mesquita, Júlio Reis e Maurício Tortato); colunista adverte, no entanto, para o pagamento de direitos devidos a policiais e investimentos consistentes sob pena de “enxugar o gelo”; “E nem será o gelo a refrescar o champagne francês nas areias da Praia Mansa ou para temperar o bom whisky vindo das melhores casas de Ciudad del Este, para ser sorvido na beira da piscina de águas mornas do hotel em Foz do Iguaçu”, ironiza César, que já foi o primeiro titular da Segurança; “Será o gelo das geadas de inverno dos Campos Gerais, que não deixa crescer ou desenvolver nada ao seu redor”; leia o texto.
Reinaldo de Almeida César, em sua coluna desta quarta, elogia as três escolhas do governador Beto Richa para a área da Segurança Pública (Wagner Mesquita, Júlio Reis e Maurício Tortato); colunista adverte, no entanto, para o pagamento de direitos devidos a policiais e investimentos consistentes sob pena de “enxugar o gelo”; “E nem será o gelo a refrescar o champagne francês nas areias da Praia Mansa ou para temperar o bom whisky vindo das melhores casas de Ciudad del Este, para ser sorvido na beira da piscina de águas mornas do hotel em Foz do Iguaçu”, ironiza César, que já foi o primeiro titular da Segurança; “Será o gelo das geadas de inverno dos Campos Gerais, que não deixa crescer ou desenvolver nada ao seu redor”; leia o texto.
Reinaldo de Almeida César*

A escolha do Coronel Maurício Tortato para comandar a PM foi um belo acerto, em meio às trapalhadas do governo. Oficial culto, com formação humanista e capacitado como gestor, ele tem todas as condições de esquadrinhar as necessidades da PM, dando-lhe planejamento e nova dimensão.

Não que o anterior, a quem sucedeu, Coronel Cesar Kogut, fosse ruim. Ao contrário, posso dar um testemunho isento da retidão e competência do Coronel Kogut, no período em que passei pela SESP. É que sua permanência ficou insustentável apenas por razões políticas, quando a história lhe reservou, por paradoxo, já no outono da sua vida militar, um papel de grande relevo. Coube ao Coronel Kogut liderar, como convém a um bravo Comandante, um grupo quase unânime de oficiais coronéis, na defesa da dignidade da PM, num momento em que interesses mesquinhos jogavam lama na corporação.

Kogut e Tortato podem seguir de cabeça erguida. O primeiro, pelo que fez, na defesa da família miliciana. O segundo, pela esperança que traz para os novos tempos.

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Se falei da PM, permitam-me um pitaco na Polícia Civil. Conheço o atual Delegado-Geral, Julio Reis. Dedicado, fez sempre um bom trabalho como chefe da divisão do Interior e como subdivisional em Cascavel. Tem todas as credenciais para obter resultados satisfatórios no comando da Polícia Civil.

Precisa apenas pacificar a casa. A Polícia Civil é multifacetada. Ao longo do tempo, foi se dividindo e subdividindo em vários grupos, que se formam por circunstâncias históricas ou interesses momentâneos.

Economia

O tempo passa, e se eu voltar meu olhar para a galeria dos ex-diretores da Polícia Civil, fico feliz em constatar que conheci e fui amigos de todos eles, nos últimos vinte e cinco anos.

Qualquer nome que surja para a chefia da Polícia Civil receberá críticas internas que, depois, se projetam para o mundo externo. Nem é preciso transitar pela Boca Maldita, onde honrosamente sou Comendador Cavaleiro, para ouvi-las. Tenho a impressão que sempre será assim, beirando a autofagia.

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O Delegado Federal Wagner Mesquita tem preparo e apresenta boas condições técnicas para permanecer no cargo de Secretário de Segurança.

Perfil baixo, tem se colocado de maneira acertada como gestor, deixando o protagonismo para as forças de polícia, o que, aliás, é muito recomendável para o cargo.

Parece reunir apoio político e, de quebra, fora do governo, tem a aprovação de amigos influentes e conselheiros do Governador. Hoje sei da importância dos palpites destes corneteiros, algo que me faltou. Mas, atenção. Se Mesquita desejar permanecer na função não pode confundir apoio político com politizar a SESP. Precisa revelar personalidade própria e independência, para que esteja à altura do cargo.

A pior coisa que pode lhe acontecer é ser identificado como um mero títere ou como a figura do Deus ex machina, do teatro grego. Perderá o respeito e a autoridade.

Na segurança pública, as figuras místicas de Mizaru, Mikazaru e Mazaru, os três macacos sábios japoneses, estão sempre com as mãos em posições opostas às mãos das conhecidas imagens. Ou seja, olhos arregalados, mãos esgarçando os ouvidos e boca em posição de alto-falante.

Neste setor, ninguém é bobo, todo mundo tem ouvidos bem abertos e olhos grudados nos papéis que tramitam, nas nomeações publicadas e nos contratos celebrados. Todos são ávidos leitores do Diário Oficial. Todo mundo sabe quem é quem. E todos tem enormes bocas, que tagarelam sem limites.

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O desafio em comum para os três, Mesquita, Tortato e Julio Reis é missão para forças especiais.

Brigar neste governo por recursos orçamentários e financeiros, depois que os fundos de investimentos da Segurança Pública, como o FUNESP e o FUNPEN foram para o beleléu, solapados pela sanha arrecadatória do setor fazendário, é tarefa de fôlego a ser assumida apenas por dirigentes que sejam desapegados do cargo e que estejam verdadeiramente comprometidos com seus policiais e com a população do Paraná.

Sem lutar por investimentos e sem atender as justas e legítimas aspirações dos policiais, a atual gestão da SESP, lamento profetizar, será apenas burocrática e sofrível, por mais esforço que possam ter seus dirigentes.

Se não forem aportados recursos, se forem negados aos policiais os direitos que lhes são devidos, se não acontecerem investimentos consistentes, o que se fará na segurança pública, como gosta de dizer o Governador, será “enxugar o gelo”.

E nem será o gelo a refrescar o champagne francês nas areias da Praia Mansa ou para temperar o bom whisky vindo das melhores casas de Ciudad del Este, para ser sorvido na beira da piscina de águas mornas do hotel em Foz do Iguaçu.

Será o gelo das geadas de inverno dos Campos Gerais, que não deixa crescer ou desenvolver nada ao seu redor.

*Reinaldo Almeida César é delegado da Polícia Federal. Foi secretário da Segurança Pública do Paraná. Chefiou a Divisão de Cooperação Policial Internacional (Interpol). Escreve nas quartas-feiras sobre “Segurança e Cidadania”.

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