Vem aí, em agosto, a greve nos Correios

Os trabalhadores dos Correios planejam deflagrar uma greve nacional em agosto. Em tempos de pandemia de coronavírus, sem medo de errar, essa mobilização poderá ser comparada à greve dos caminhoneiros de 2018, que paralisou o país por falta de combustíveis, remédios e alimentos.

Na semana passada, 31 sindicatos filiados à Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect) aprovaram o indicativo para a greve para o mês de agosto, mas ainda deixou para bater o martelo sobre o movimento paredista para a próxima terça-feira, dia 4.

Mais do que reivindicar aumento salarial, o movimento grevista que se avizinha se propõe como um ato de resistência ao anunciar seu lema “Campanha Salarial: Não à retirada de direitos”.

Em sua página na internet, a Fentect diz acreditar na luta contra a agenda privatista do desgoverno de Jair Bolsonaro. Os Correios são a bola da vez nas pretensões do ministro Paulo Guedes, que quer fazer dinheiro com a venda de empresas públicas para transferi-lo para bancos e especuladores a título de pagamento de “juros e amortizações” da dívida pública.

“Defender os Correios públicos é defender um patrimônio secular do povo brasileiro. A Fentect segue somando forças para combater todo o retrocesso e males causados desde o início do governo lesa pátria de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, que seguem atacando os trabalhadores e afagando os empresários e banqueiros”, diz um comunicado da Federação.

Cerca de 100 trabalhadores dos Correios podem cruzar os braços nos próximos dias e, como efeito, deixar de entregar aquele produto comprado online –setor que cresceu na pandemia e com o distanciamento social.

Economia

A greve dos trabalhadores dos Correios é mais de resistência. A direção da empresa, a mando de Bolsonaro e Guedes, quer retirar conquistas da categoria. A saber:

  • Retirada de 70 cláusulas do atual ACT acabando com os 30% do Adicional de Risco;
  • Fim do auxílio creche/babá;
  • Corte do tíquete alimentação de dezembro;
  • Corte de 70% sobre férias;
  • Distribuição de EPIs (equipamentos de segurança);
  • Fim da licença maternidade estendida para 180 dias (a lei determina 120 dias).

O secretário de comunicação da Fentect, Emerson Marinho, disse que a proposta dos Correios é esdrúxula. “Estou na empresa desde 1997 e nunca vi proposta tão esdrúxula”, atacou. Segundo ele, os benefícios incorporados aos salários foram fruto de negociações de anos para compensar sucessivos congelamentos nos vencimentos dos trabalhadores.

Além de querer retirar benefícios, a direção dos Correios oferece reajuste “zero” para os trabalhadores –por isso a greve poderá ser inevitável nas próximas semanas.

Para a direção da Fentect, os Correios tiveram aumento de receita durante a pandemia do novo coronavírus porque, diferente de outros setores, ganhou com o aumento do comércio eletrônico, as vendas online, das quais já falamos no início deste texto.

Os trabalhadores dos Correios acusam a transferência de dividendos à União acima do limite legal e congelamento de tarifas postais pelo quadro de deterioração das finanças da empresa. O governo pretende vender a ideia de que os Correios são deficitários e por isso precisam ser privatizados, doados, vendidos.

De acordo com os trabalhadores, não são os tíquetes de alimentação, a licença-maternidade de 180 dias ou auxílio creche que comprometem a saúde dos Correios. Pelo contrário. É a gestão temerária, neoliberal, de Bolsonaro e Guedes.

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Metroviários suspenderam a greve em São Paulo; trabalhadores obtém vitória mesmo na pandemia

As estações de metrô em São Paulo amanheceram esta terça-feira (28) lotadas, apesar de os metroviários terem decidido pela suspensão da greve que começaria hoje. Os trabalhadores que participavam da assembleia da categoria se atrasaram para o início da jornada esta manhã, mas, por volta das 8h, tudo se normalizou.

Segundo o Sindicato dos Metroviários de São Paulo, o secretário de Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy, em contato com a entidade dos trabalhadores, logo após a assembleia que referendou a greve a partir desta terça, aceitou a proposta feita pelo MPT (Ministério Público do Trabalho) que foi encampada pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) nesta segunda-feira (27).

A proposta aceita posteriormente pelo secretário foi submetida à votação na assembleia realizada das 18h às 22h30 de ontem e foi aprovada por 84% da categoria, garantindo a renovação de todas as cláusulas do Acordo Coletivo até 30 de abril de 2021.

Em função disso, uma nova assembleia foi convocada emergencialmente e contou com a participação de 1.754 metroviários. A categoria aceitou a proposta (com 79,76% dos participantes) e a greve foi suspensa. “Este resultado só foi possível por conta da grande mobilização da categoria”, diz o Sindicato.

Resumo da ópera: é possível a classe trabalhadora obter vitórias mesmo durante a pandemia do novo coronavírus, pois, como dizem os gaúchos, não está morto quem peleia.

Confira abaixo a íntegra da proposta:

1- Manutenção do adicional noturno de 50%, com o pagamento de adicional noturno de 25% pelo período de 6 meses, e o adiamento da diferença de 25% do adicional noturno, que devem ser pagos integralmente nos 6 (seis) meses subsequentes;

2- Manutenção da Gratificação por Tempo de Serviço, com a garantia dos valores adquiridos até 30/04/2020, e a suspensão da aplicabilidade do percentual pelo período de 6 (seis) meses (01/05/2020 a 01/11/2020), retomando-se o pagamento do direito adquirido neste período no 7º mês, com o consequente pagamento dos respectivos valores retroativos à data de aquisição da progressão;

3- Manutenção do adicional normativo de férias, com o adiamento do pagamento da diferença entre o valor do adicional normativo e o 1/3 constitucional, pelo período de 6(seis) meses, com o consequente pagamento no 7º mês dos respectivos valores retroativos à data do gozo. Com a realização do acordo, os valores de auxílio transporte suprimidos a partir de 30/06, serão ressarcidos;

4- Renovação do ACT, em todas as suas cláusulas, por 12 meses com vigência de 01/05/2020 a 30/04/2021;

5- Manutenção do adicional de horas extras de 100%, com o pagamento de adicional de 50% pelo período de 6 meses, e o adiamento da diferença de 50% dos adicionais de horas extras, que devem ser pagos integralmente nos 6 meses subsequentes, exceto as horas extras compulsórias, que devem ser pagas integralmente (100%).