O presidente Donald Trump elogiou o prefeito eleito de Nova York, Zohran Mamdani, após meses chamando o socialista de comunista e ameaça à cidade. O encontro no Salão Oval nesta sexta (21) lembrou a guinada recente na relação entre Trump e o presidente Lula (PT), quando o mandatário americano suspendeu tarifas de 40% após dizer que sentiu “química” com o brasileiro.
A reunião marcou mudança brusca no discurso oficial. Trump, que alertava para um suposto “desastre” com Mamdani na prefeitura, afirmou ter encontrado “muito mais pontos em comum” do que imaginava. O gesto surpreendeu jornalistas que acompanharam a campanha marcada por ataques pessoais, acusações de radicalismo e medo de corte de verbas federais.
Mamdani, primeiro prefeito socialista e primeiro muçulmano eleito para comandar Nova York, descreveu o encontro como produtivo. Ele afirmou que a conversa se concentrou em “propósito compartilhado”, sobretudo no combate ao custo de vida. O socialista buscou reduzir tensões antes da posse em 1º de janeiro de 2026, momento em que a cidade depende de bilhões de dólares federais para transporte, segurança e programas sociais.
Trump, que havia chamado Mamdani de “lunático” e até criticado sua aparência, disse esperar ser “grande ajuda” ao novo governo municipal. O contraste com a retórica de campanha escancarou pragmatismo político. O presidente dos EUA também rejeitou falas da deputada Elise Stefanik, que tachara Mamdani de “simpatizante jihadista”. Segundo Trump, o prefeito eleito é “racional”.
O movimento lembra a aproximação com Lula. Após semanas de tensão comercial, Trump recuou de tarifas extras contra exportações brasileiras. Disse ter conversado longamente com o presidente do Brasil e elogiou “postura séria” do petista. O gesto virou ativo político para Lula e mostrou que o presidente americano costuma recuar quando identifica cálculo estratégico ou risco de isolamento.
Mamdani seguiu linha semelhante na Casa Branca. A equipe do prefeito eleito afirmou que colocou na mesa temas sensíveis como imigração, tarifas de energia e moradia. Trump, por sua vez, evitou repetir ameaças de enviar a Guarda Nacional para Nova York ou cortar verbas, como prometera durante a campanha contra o socialista.
Fabien Levy, porta-voz do prefeito Eric Adams, reagiu dizendo que Mamdani soou igual ao atual governo ao buscar cooperação com Trump. A comparação expõe a disputa de narrativa dentro do Partido Democrata sobre como lidar com o presidente republicano que venceu a eleição apoiado por voto expressivo na própria cidade.
A cena do Salão Oval, com sorrisos, tapinhas no ombro e respostas alinhadas, muda o tabuleiro político de Nova York. Para Trump, reedita a imagem de estadista capaz de “converter inimigos”. Para Mamdani, preserva a governabilidade em um ambiente polarizado, sem abrir mão do programa de densidade urbana, alívio de aluguéis e tarifas públicas.
O episódio confirma que líderes modulam o tom quando a realidade cobra pragmatismo. Lula mostrou isso na frente comercial. Mamdani tenta fazer o mesmo para governar uma cidade gigante sob a sombra de um presidente imprevisível. Resta saber se Trump manterá essa trégua ou se a política-eleitoral voltará a falar mais alto. Continue acompanhando os bastidores da política e do poder pelo Blog do Esmael.

Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.




