Afastamento de Appio, TRF-4 decide e abre crise na Lava Jato
O Tribunal Regional Federal da 4ª Região afastou cautelarmente o juiz federal Eduardo Appio, PR, nesta quarta-feira 30.out.2025, por unanimidade, após abertura de procedimento administrativo sobre denúncia de furto de duas garrafas de champanhe em Blumenau, SC, fato noticiado inicialmente por O Globo. O magistrado conduziu processos da Lava Jato em 2023 e seguirá recebendo salário básico, sem gratificações.
A corte especial administrativa do TRF-4 acatou parecer da Corregedoria e colocou o processo sob sigilo. Segundo boletim de ocorrência, o suspeito teria usado um veículo registrado em nome de Appio, embora a descrição física não coincida com a do juiz. O caso envolve garrafas avaliadas em R$ 540 cada. A defesa não se manifestou.
A decisão reacende tensões herdadas da era Lava Jato no Paraná e na região Sul. Em 2023, Appio já havia sido afastado após investigação sobre telefonema anônimo que mencionava o filho do desembargador Marcelo Malucelli, TRF-4, num contexto envolvendo o advogado Rodrigo Tacla Duran e o então juiz e hoje senador Sergio Moro, União Brasil-PR. À época, o episódio expôs fissuras internas e a disputa pela narrativa da operação.
Nos bastidores jurídicos, líderes veem o novo afastamento como capítulo de uma longa disputa por hegemonia no Judiciário do Sul, palco original da Lava Jato. Aliados do magistrado afirmam que há “perseguição institucional” desde que ele contrariou interesses vinculados ao legado da força-tarefa. Já integrantes da corte defendem o rigor disciplinar e o dever de preservar a imagem da Justiça Federal.
A sociedade civil acompanha com atenção. O caso coloca novamente o TRF-4 na vitrine nacional e reabre debate sobre accountability na magistratura, transparência disciplinar e heranças da Lava Jato, que ainda repercutem em Curitiba, Brasília e no cenário eleitoral de 2026.
No Paraná, a leitura política é clara: o dossiê Lava Jato segue irradiando efeitos no núcleo de poder local, onde se cruzam carreiras de juízes, procuradores, advogados e parlamentares que emergiram da operação. Com o novo afastamento, cresce o escrutínio sobre métodos e alianças que geraram a finada “República de Curitiba”.
O episódio reforça a necessidade de controle democrático e responsabilidade sobre autoridades judiciais. A Lava Jato, símbolo de excessos e capital político, ainda projeta sombras. O país precisa de Justiça forte, não de espetáculos nem de vendetas. Fiscalizar, informar e cobrar transparência segue sendo serviço público da imprensa e da cidadania.

Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.


 
    


