Sergio Moro fala às 15 horas aos especuladores do mercado financeiro. Pode isso, Arnaldo?

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, em plena pandemia de coronavírus, irá falar nesta segunda-feira (6) aos especuladores do mercado financeiro. Ele será a estrela principal de uma live da XP Investimentos, corretora que é braço do banco Itaú.

O ‘ex-número um’ do governo Jair Bolsonaro –sim, hoje o ministro mais popular é o da Saúde, Henrique Mandetta– é apresentado aos “investidores” (ou vítimas) como qualificado para discorrer “sobre a atuação brasileira para estancar os efeitos e impactos sociais, econômicos, na saúde e no nosso modo de viver provocados pela pandemia do coronavírus.”

Não seria a hora de o governo anunciar moratória nos próximos dois anos sobre o pagamento de juros e amortizações da dívida interna, cujos beneficiários são esses especuladores das XPs da vida?

Os banqueiros e os especuladores irão parasitar este ano em R$ 1,6 trilhão do Orçamento União, equivalente a 45% do total (R$ 3,6 trilhões) que o governo federal tem para investir. A saúde, por exemplo, terá em 2020 a ninharia de R$ 125,6 bilhões.

A relação de Moro e outros integrantes da Lava Jato não é novidade e não é recente. O procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa, era “arroz de festa” nesses eventos de banqueiros e especuladores. Tem áudio disso na série Vaza Jato, do The Intercept Brasil.

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O leitor deve estar se perguntando ‘por que raios os ministros de Estado são chamados a palestrar para especulares e banqueiros’? Ora, a matéria prima da especulação é a informação em primeiríssima mão –mesmo que recheada de fake news.

Lembra daquela manchete da Folha de S. Paulo em 2018? O jornalão cravou na época: “Vitória de Lula em 2018 pode derrubar a bolsa e levar dólar a R$ 4, diz pesquisa”.

Não precisa recordar que o dólar ultrapassou a casa dos cinco reais faz tempo.

Sobre a militância da mídia corporativa na política e nos assuntos de Estado, é bom o leitor ter claro que esses veículos de comunicação são dirigidos hoje pelos fundos de investimentos. A velha mídia atua nesses tempos obscuros como braços armados do capital financeiro e especulativo.

Entre a entrevista com Moro e outros bambambãs, haverá também espaço para a hipocrisia dos especuladores. No fim da tarde, após as lives, eles prometem reunir “grandes iniciativas solidárias” que dão esperança em meio ao caos da crise. Eles acham que a doação de esmolas expia os pecados continuados que cometem contra a sociedade brasileira.

“Quanto mais você se informa, melhor você decide”, estimula a XP Investimentos.

Pode isso, Arnaldo? Não pode. É falta grave. Ministro de Estado não pode compartilhar informações sensíveis de governo para especuladores.