Um vazamento da Polícia Federal, revelado pelo UOL nesta sexta-feira (16), caiu como uma bomba no núcleo duro do bolsonarismo. As mensagens privadas entre Mauro Cid e Fabio Wajngarten, figuras centrais da gestão Bolsonaro, deixaram aliados atônitos — e colocaram em xeque os bastidores da estratégia para 2026.
Em conversas obtidas pela PF no bojo do inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado, os dois operadores do bolsonarismo discutem, com ironia e desprezo, a possível candidatura presidencial de Michelle Bolsonaro. Em um dos trechos mais impactantes, Cid dispara: “Prefiro o Lula” — ao reagir à notícia de que o PL cogitava lançar a ex-primeira-dama ao Planalto.
A troca de mensagens entre o então ajudante-de-ordens Mauro Cid e o ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten é reveladora. Em tom de sarcasmo, os dois zombam da estratégia do PL e demonstram falta de confiança na força política de Michelle Bolsonaro. Wajngarten chega a questionar a sanidade de Valdemar Costa Neto, presidente do partido, e diz ter alertado o próprio Jair Bolsonaro sobre os riscos da operação.
Cid, por sua vez, vai além. Em áudio de 29 segundos, diz que Michelle seria “destruída” se disputasse um cargo de destaque. “Ela tem muita coisa suja… não suja, mas a personalidade dela… vão usar tudo contra ela”, diz o ex-ajudante de ordens. Ele ainda menciona, sem entrar em detalhes, que Valdemar estaria “todo enrolado” com documentos e papéis.
Os bolsonaristas acusam o UOL de praticar “jornalismo de fofoca” e tentam descredibilizar a divulgação das mensagens, comparando-a a um “Momento Caras”. Para aliados, o objetivo da reportagem seria fragilizar o nome de Michelle e enfraquecer a ala mais midiática do bolsonarismo.
Wajngarten, hoje um dos principais articuladores da imagem de Bolsonaro nas redes, tenta se explicar. Disse que, à época, o ex-presidente ainda estava elegível e que sua fala demonstrava “lealdade” — ao tentar evitar que Michelle fosse lançada como plano B.
As mensagens são de janeiro de 2023, no entanto, Bolsonaro ficou inelegível somente dia 30 de junho de 2023.
Mas a explicação não apaga o estrago. A imagem de coesão do grupo bolsonarista, já abalada pela inelegibilidade de Jair Bolsonaro e pela divisão interna entre militares e políticos, sai ainda mais rachada do episódio.
O vazamento ocorre num momento-chave: com Bolsonaro fora do jogo até 2030, as alas do PL disputam o espólio político do ex-presidente. Michelle, que já se movimenta com uma agenda própria e apoio do setor evangélico, é vista por setores da direita como sucessora natural. Mas os bastidores indicam resistências internas — e o episódio desta sexta apenas cristaliza essa disputa.
Na mesma semana, a possível candidatura de Michelle ao Senado também foi alvo de especulação. Wajngarten, segundo o UOL, teria questionado diretamente Bolsonaro se ele havia autorizado esse movimento. Um sinal claro de que a articulação não é unânime — nem bem-vinda — dentro do clã.
As mensagens reveladas pela PF escancaram o racha no bolsonarismo. Expõem ressentimentos, cálculos de sobrevivência e desconfianças que ferem o discurso de unidade. Mais do que fofoca política, os diálogos mostram que até mesmo os aliados mais próximos de Bolsonaro já trabalham com cenários alternativos — e não descartam, em tom cínico, até a reeleição de Lula.
No xadrez de 2026, a direita fragmentada parece correr contra o tempo — e contra si mesma. Os próximos capítulos dirão se Michelle resistirá aos bastidores ou se será mais uma vítima da disputa palaciana pelo comando da extrema direita.
Nessa confusão recheada de fofocas — ou não —, o Blog do Esmael apurou que, no campo da direita, o poder de veto de Jair Bolsonaro pode pesar mais do que seu eventual apoio a qualquer candidatura em 2026.
Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.