Oligarcas escolhem Tarcísio, prendem Bolsonaro e tentam derrotar Lula

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) se diz candidato a presidente da República, mas o ambiente que carregou o bolsonarismo ao topo em 2018 se quebrou. A prisão de Jair Bolsonaro (PL) expôs a engrenagem que o próprio clã ajudou a alimentar e que, ironicamente, agora abre espaço para Tarcísio de Freitas (Republicanos). Os mesmos oligarcas do sistema que prenderam o ex-presidente é o que hoje protege, estimula e empurra o governador de São Paulo para a disputa de 2026.

A análise é dura, mas inevitável. O Brasil vive ciclos em que o aparelho judicial, midiático e político se aglutina em torno de um projeto. Esse mecanismo, que o Blog do Esmael vem denunciando há anos, e que lá atrás perseguiu, prendeu e depois soltou Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tornou-se novamente determinante.

O cárcere de Bolsonaro não nasce apenas dos atos individuais do ex-presidente, mas de um rearranjo amplo de interesses. As forças que toleraram Jair enquanto ele era funcional para conter o campo progressista viraram a chave quando o custo político se tornou maior que o benefício. O processo, no fundo, lembra o descarte de líderes inconvenientes pela máquina de poder.

A ascensão recente de Tarcísio de Freitas segue a mesma lógica. O governador de São Paulo, que sempre foi visto pelos oligarcas do sistema financeiro, pela velha mídia corporativa e por segmentos conservadores como alternativa “menos tóxica”, ganhou musculatura política justamente no momento em que Bolsonaro se afunda em desgaste, prisão e perda de base social.

Esse movimento não é novo. Em 2016 e 2017, setores influentes precisavam de um inimigo comum para reorganizar o tabuleiro. Lula, então líder absoluto das pesquisas, virou alvo. A prisão veio com narrativa moralizante, sustentada por operadores que, como já discutido neste blog, agiram politicamente. Quando o cálculo mudou, as mesmas engrenagens permitiram sua libertação, a revisão de processos e o retorno ao jogo eleitoral em 2022.

O paralelo se impõe, reservadas as diferenças abissais. Bolsonaro foi útil para parte do sistema enquanto controlava a insatisfação do ar de cima, oferecia reformas neoliberais, que retiravam direitos e garantias do andar de baixo, e neutralizava a esquerda. Mas se tornou um peso quando passou a ameaçar o próprio aparelho do sistema, em especial após o 8 de Janeiro. A prisão preventiva decretada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes insere-se nessa reordenação.

Tarcísio surge como “a versão aceitável do projeto” aos olhos dos oligarcas da Faria Lima. Ele é vendido como técnico, disciplinado, articulado com os mais ricos, e, diferentemente do radicalismo bolsonarista, não ameaça instituições. Por isso, como já antecipou este Blog do Esmael, o mandatário paulista é o principal beneficiário do colapso do clã.

Nos bastidores, dirigentes do PSD, do União Brasil e de setores da oligarquia paulista avaliam que a direita precisa de um nome competitivo, confiável e capaz de reorganizar sua base. Os governadores Ratinho Júnior (PSD-PR) e Eduardo Leite (PSD-RS) ficaram pelo caminho. Kassab já sinalizou que a fila andou. O sistema já escolheu.

E há mais um elemento: o próprio Bolsonaro, na entrevista exclusiva concedida ao Blog do Esmael em fevereiro de 2024, reconheceu que Tarcísio era o candidato natural caso ele ficasse inelegível ou fosse preso. Naquele momento, o ex-presidente começava, sem perceber, a cavar sua própria cova política.

O ciclo que derrubou Lula, que abraçou Bolsonaro, que devolveu Lula ao poder e que agora empurra Tarcísio ao centro da disputa segue operando. Trata-se de uma engrenagem que não gosta de sobressaltos e que tenta, a todo custo, escolher quem deve competir pelo comando do país, para garantir a permanência dos privilégios dos oligarcas.

Portanto, o que está em jogo não é apenas a prisão de um ex-presidente, mas o redesenho de forças que definirá 2026. Lula, com sua habilidade histórica em compreender movimentos subterrâneos, vai para o enfrentamento com experiência e base social sólida. Já Tarcísio, embalado pelo establishment, pelo sistema e pela Faria Lima, tenta apresentar-se como o “novo normal”.

Bolsonaro é o elo descartado. O sistema segue intacto. No entanto, a pergunta que não quer calar é: quem piscará primeiro, Lula ou Tarcísio? Faça a sua aposta.

Continue acompanhando os bastidores da política e do poder pelo Blog do Esmael.

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