Governo tenta enterrar CPMI do INSS em 11 dias

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) corre contra o tempo para desarmar uma bomba-relógio prestes a explodir no Congresso Nacional: a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS. Com a leitura do requerimento prevista para 27 de maio, o governo Lula tem 11 dias para agir: ou consegue convencer parlamentares a retirarem suas assinaturas e impedir a criação da CPMI do INSS — ou assume a comissão, ocupa espaço e mira as investigações na gestão Bolsonaro.

Nos bastidores, o governo bate na tecla de que foi o responsável por acionar a Polícia Federal para apurar os descontos indevidos em aposentadorias e pensões. A Advocacia-Geral da União (AGU) e a Controladoria-Geral da União (CGU) deram o respaldo técnico às investigações, que já resultaram em prisões e promessas de ressarcimento. Ainda assim, a oposição quer empurrar Lula para o banco dos réus político.

O clima esquentou após o embate direto entre o ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz, e o senador Sergio Moro (União-PR), ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro. Como mostrou o Blog do Esmael, Gleisi Hoffmann, ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, saiu em defesa de Wolney e acusou Moro de blindar os verdadeiros responsáveis pelas fraudes.

“Parece que vossa excelência era o ministro da Justiça nessa época. Vossa excelência fez alguma coisa para coibir essas fraudes?”, disparou Woney à queima roupa contra Moro.

Articulação de última hora

A instalação da CPMI depende de um rito formal: leitura do requerimento em sessão do Congresso Nacional. A prerrogativa é do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que tem resistido à criação da comissão. Alcolumbre, como se sabe, é peça-chave no tabuleiro do União Brasil — partido que abriga três ministérios e responde por 39 assinaturas no pedido da CPMI.

O governo aposta exatamente nesse ponto para minar a comissão: convencer parlamentares da base a retirar suas assinaturas. O PSB, partido do vice-presidente Geraldo Alckmin, teve seis assinaturas; o PP, dono do Ministério do Esporte e da Caixa Econômica Federal, emplacou 28. PSD e MDB, com três ministérios cada, também colaboraram com 20 e 15 apoios, respectivamente. Ou seja, quase metade das assinaturas veio de partidos que orbitam a base governista.

Maringá 78 Anos

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O jogo das cadeiras e das versões

Nos bastidores, deputados e senadores admitem que o protocolo da CPMI foi deliberadamente adiado semanas atrás para atrair mais assinaturas — e, com isso, dar força política ao pedido. A nova tática da oposição é usar a própria existência do protocolo como vitrine: quanto mais se fala da CPMI, mais adesões espontâneas surgem. Só nesta semana, dez novos nomes se juntaram ao requerimento.

O governo, por sua vez, estuda um plano B: se não conseguir evitar a instalação da CPMI, vai trabalhar para controlá-la desde dentro. A estratégia seria garantir a maioria entre os membros e relatar os crimes herdados do bolsonarismo, responsabilizando a antiga gestão pelas fraudes que sangraram a Previdência.

A matemática política e o fator tempo

Para a comissão sair do papel, são necessárias 171 assinaturas na Câmara e 27 no Senado — critérios já atendidos. O que falta é apenas a leitura do requerimento por Alcolumbre. Mas, como ensina a política de Brasília, 11 dias é uma eternidade.

Em tempos de hiperexposição e guerras narrativas, o Planalto terá de decidir rápido: ou desarma a bomba nas próximas horas ou assume o risco calculado de enfrentá-la de frente, com o canhão apontado para os rivais.

Seja como for, o desfecho da CPMI do INSS se tornará mais um teste da articulação política do governo Lula — e uma prévia do que esperar da disputa narrativa de 2026.

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