É possível a “tarifa zero” nos ônibus para competir com os automóveis?

Curitiba vive “ciclo vicioso” no transporte coletivo, diz professor da UFPR

Em meio ao histérico debate acerca do reajuste da tarifa do ônibus em Curitiba, que ontem saltou de R$ 2,60 para R$ 2,85, eu considerei o aumento exorbitante. No Facebook e no Twitter, defendi tarifa zero no transporte coletivo para que o poder público concorra com os automóveis. A retirada do transporte individual, os carrões, seria uma política pública, uma estratégia para resolver o caótico trânsito na capital paranaense.

Não vou entrar no mérito da decisão do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), que retirou o subsídio à  tarifa de Curitiba e 13 municípios da região metropolitana.

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A defesa que fiz ontem à  noite rendeu-me críticas vindas de seguidores nas redes sociais que argumentavam não existir almoço grátis. O rango pode até não existir, mas a tarifa zero nos ônibus não é uma novidade ao redor do mundo.

Desde 1!º de janeiro deste ano, a cidade de Tallin, capital da Estônia, com 420 mil habitantes, tornou-se a primeira capital europeia a adotar transporte público gratuito a seus moradores. A medida foi possível depois que se constatou que a venda das passagens cobriam apenas 25% dos gastos do sistema e que, paralelamente, aumentava o número de automóveis circulando na cidade.

Natal Foz

Para aprovar a tarifa zero, a população de Tallin foi a referendo em 2012 para responder à  seguinte pergunta: Aprova a introdução de um sistema de transporte gratuito a partir de 2013?. O resultado: 75% votaram sim.

Há outras experiências de transporte público gratuito para competir com o automóvel em cidades da França, Bélgica e do Brasil; em Zagreb, capital da Croácia; em cidades da Austrália, China e Estados Unidos. No Paraná, por exemplo, o município de Ivaiporã, no Vale do Ivaí, não cobra pela passagem de ônibus.

Os ônibus que compõem o sistema de transporte público em Curitiba são caros, desconfortáveis, demorados, cheios. O sistema está obsoleto. É preciso muita cultura para pôr para baixo esse modelo anacrônico, dos anos 70, que nada tem a ver com o século XXI. Além de cultura, é preciso muita coragem política para enfrentar o lobby e máfias que controlam o direito inalienável dos curitibanos irem e virem.

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O desconforto e o preço da tarifa na capital estão fazendo o sistema de transporte coletivo perder usuários e as ruas ganharem mais automóveis. O professor Garrone Reck, do Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná (UFPR), chama a isso de “ciclo vicioso do transporte público de Curitiba”.

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