Datafolha: Para 78%, regime militar de 1964 foi uma ditadura

Factualmente, a Folha é um bom jornal. Briga menos com as notícias e, por isso, divulga alguns dados que lhe endossem sua ideologia.

Dito isso, o jornalão paulistano publicou pesquisa do Datafolha mostrando que 78% dos brasileiros consideram o regime militar de 1964 uma ditadura.

Aqui um parêntese para contextualizar o leitor: a Folha apoiou o golpe de 1964 e ficou fiel aos generais por uma década; a publicação reconheceu isso no editorial de hoje (28), que você poder ler a íntegra aqui.

Se para 78%, foi uma ditadura, 13% não o veem desta forma. E 10% dizem não saber.

A pesquisa, segundo o jornal, é um contraponto ao saudosismo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que, pendularmente, flerta com o regime antidemocrático ter correligionários favoráveis ao fechamento do Congresso, do Supremo Tribunal Federal e defensores do AI-5.

A Folha, que se prepara para lançar um cursinho de história, fez um quiz sobre o período da ditadura:

Economia

  • Para 78%, regime militar de 1964 foi uma ditadura
  • Para 43% dos defensores de Bolsonaro, a ditadura deixou mais coisas positivas do que negativas para o país
  • Para 62% dos brasileiros em geral, o legado de 1964 é negativo
  • O AI-5 é conhecido por 50% dos brasileiros
  • A anistia de 1979 é conhecida por 62%
  • O dito milagre econômico é conhecido por 30%
  • A guerrilha do PCdoB no Araguaia é conhecida 52%
  • O assassinato do jornalista Vladimir Herzog pela repressão é conhecido por 41%
  • Atentado militar no Riocentro (1981) é conhecido por 39%

O Datafolha perguntou aos 2.016 entrevistados em 23 e 24 de junho acerca da natureza do regime militar instaurado em 31 de março de 1964.

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    A Folha de S. Paulo, que já chamou ditadura de ‘ditabranda’, em editorial, pede por democracia neste domingo (28). O jornal reconhece no texto que errou ao apoiar a ditadura instalada no Brasil entre 1964 e 1985.

    Embora a Folha faça a autocrítica e registre que só na década seguinte ao golpe, anos 70, que se desvencilhou dos generais, a publicação já nos anos dois mil minimizava o regime antidemocrático ao chamá-lo de ‘ditabranda’.

    em 17 fevereiro de 2009, o jornalão paulistano ao comparar os modelos de democracia na América Latina afirmou que as chamadas ‘ditabrandas’ -caso do Brasil entre 1964 e 1985- partiam de uma ruptura institucional e depois preservavam ou instituíam formas controladas de disputa política e acesso à Justiça.

    A Folha dissera que no Brasil houve uma “ditadura + branda= ditabranda” e torceu o nariz para os mortos, torturados e perseguidos políticos no país em 21 anos de horrores.

    Não há como passar o pano. Nem para a Folha, que almeja trocar o burro para manter a mesma sela. Isto é, o jornal pretende tirar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e manter a mesma política econômica neoliberal responsável pela fome, miséria, desemprego, quebradeira e depressão na produção do País.

    O jornal Folha de S. Paulo lançou hoje campanha pelo resgate do ‘amarelo pela democracia’ e promete fazer um cursinho sobre história do período da ditadura militar.

    Mas no essencial, a Folha continua fechadíssima com Bolsonaro e Paulo Guedes: na economia.

    A ‘ditabranda’ da Folha continua por meio da economia neoliberal, portanto, e o editoral deste domingo do jornalão é para inglês ver. Um horror pela falta de empatia das pessoas massacradas pela concentração de renda nas mãos dos bancos e dos especuladores.

    A Folha pede democracia do ponto de vista dos costumes, mas continua a apoiar a ditadura na economia, a economia neoliberal de Guedes e Bolsonaro. É a ‘ditabranda’ repaginada.

    Democracia, nunca menos
    Debate sobre sistema de governo deveria estar superado, mas urge voltar ao tema

    É sólido o edifício da jovem democracia brasileira. Vultosa maioria, de 75%, hoje considera essa a melhor forma de governo. Trata-se de recorde desde que o Datafolha começou a pesquisar o tema, em 1989.

    É sólido e, ainda assim, vem sofrendo ataques sistemáticos de extremistas identificados com o presidente Jair Bolsonaro, no maior teste de estresse desde a volta de um civil à Presidência, há 35 anos.

    Muitos o fazem por má-fé; outros, por não terem vivido os horrores da máquina cruel que se instalou com a ditadura militar em 1964. Este último grupo faz parte dos 54,2% de jovens nascidos após 1985.

    Por isso, a Folha lança ação em três frentes: campanha publicitária e especial jornalístico neste domingo (28), quando começa um curso gratuito para interessados em conhecer a história para não repeti-la.

    A iniciativa serve também para acordar os saudosistas de um mundo de fantasia, em que não haveria corrupção nem escândalos, a segurança pública seria grande, e a economia, milagrosa.

    Na vida real, o arbítrio sufocava as instituições, o pensamento livre e o direito de expressá-lo. A tortura era política de Estado, os adversários desapareciam, os desmandos ficavam ocultos pela mordaça nos outros Poderes e o crescimento econômico da década de 1970 acabou em inflação descontrolada e dívida.

    A censura calava a imprensa, que apoiou o novo regime num primeiro momento, caso desta Folha, que errou. Este jornal viu-se rapidamente engalfinhado pelo novo sistema de poder, perdendo a capacidade de reagir antes mesmo de percebê-lo.

    Só na década seguinte achou meios de empreender um combate, mesmo que velado e sutil, à ditadura. E, nos anos 1980, liderou na imprensa o movimento das Diretas Já, firmando-se como defensor intransigente da democracia e das liberdades individuais.

    Os homens não são sempre virtuosos; pensando nisso, os reformadores do Ocidente moderno construíram um sistema de Poderes autônomos e harmônicos, que funcionam como freios ao autoritarismo.

    Um sistema em que o poder popular se faz representar por eleições livres e é exercido dentro dos parâmetros da lei máxima. A Constituição de 1988, não isenta de defeitos, teve o grande mérito de reunir a sociedade em torno desse consenso iluminista.

    Com ela, a discussão sobre o melhor sistema de governo parecia relegada a segundo plano. A agenda pública deveria estar ocupada por redução da desigualdade, crescimento econômico e educação.

    No entanto, urge voltar ao tema, e a Folha busca inspiração no seu papel histórico nas Diretas Já para resgatar a cor amarela como símbolo da democracia.

    Assim, as vitrines das edições dominicais trarão uma faixa dessa cor com os dizeres #UseAmarelo pela Democracia, e o slogan da Folha desde 1961, UM JORNAL A SERVIÇO DO BRASIL, passa temporariamente para UM JORNAL A SERVIÇO DA DEMOCRACIA até as próximas eleições presidenciais.