A queda de Lula e do PT, segundo Cappelli

O jornalista Ricardo Cappelli, o “Steve Bannon” das esquerdas, compara a inflexibilidade do ex-presidente Lula a do último Czar, Nicola II, e de Constantino XI, o imperador Bizantino, que viu ruir Constantinopla.

Segundo avalia Cappelli, o petista menospreza os manifestos suprapartidários contra o fascismo porque é candidato a presidente da República em 2022. “No tal #Somos70%, pelo menos 30% é de lulistas. Nos 40% restantes, quem é a segunda força? Existe alguma unidade?”, questiona.

Nos últimos dias, o ex-presidente Lula debochou dos manifestos liderados pelo governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), e o ex-presidente Fernando Henrique cardoso, o FHC. “Nós vamos fazer um manifesto claro exigindo restituir os direitos que o povo brasileiro perdeu?”, provocou o petista.

O estrategista das esquerdas adverte nesta sexta-feira (5) que “Impérios caem pela impossibilidade de parar o relógio dos acontecimentos, e pela incapacidade – mesmo tendo consciência da necessidade – dos líderes de fazerem manobras drásticas.”

O recado foi para Lula e o PT, por óbvio.

Leia a íntegra do artigo:

Economia

Lula não muda, não muda a maré

Ricardo Cappelli*

Por que Lula está criticando os manifestos amplos contra o fascismo? Qual o motivo de insistir na demarcação de um campo, pagando o preço do isolamento? Ele não sabe o que faz?

Lula é candidato a presidente. É um direito seu. Legítimo. Desde a redemocratização, abriu mão apenas em 2014 para Dilma. Em 2022, livre e com o país em frangalhos, vai repetir a estratégia de 2018 emparedando o TSE.

Este projeto orienta as posições do PT.

No episódio do vazamento da “reunião dos palavrões”, o partido desmoralizou a narrativa de Moro. Bateu na tecla de que o ex-juiz não sabe o que são provas. Por que fez isso?

A forma de viabilizar o projeto é conseguir a absolvição de Lula no STF. Abalar a credibilidade de Moro é peça chave na estratégia. Taticamente, “Bolsonaro pode esperar”.

Outro elemento que aparece de forma subliminar é a visão de que existe uma superestimação da ameaça de autogolpe. A radicalização na frente do tablado nem sempre corresponde ao jogo que está sendo jogado atrás das cortinas. Uma máxima que vale para os dois lados.

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A recusa à Frente Democrática faz parte do mesmo cálculo político. Qual a maior força do país? Torcidas à parte, existem Bolsonaro, Lula e os outros. No tal #Somos70%, pelo menos 30% é de lulistas. Nos 40% restantes, quem é a segunda força? Existe alguma unidade?

Dependendo do objetivo, não faz sentido o Barcelona jogar o Brasileirão. Não lhe acrescenta nada e ainda pode acabar arranhando sua imagem ao desagradar alguns torcedores.

As eleições municipais irão medir as forças novamente. A situação não é nada boa para os companheiros. Em SP e no Rio, com Jilmar Tatto e Benedita, o partido deverá ter o pior resultado desde a sua fundação. Irrelevante diante da força pessoal do ex-presidente?

O PT é o maior partido do Brasil. Chegou ao poder vencendo quatro eleições nacionais consecutivas. Uma verdadeira epopeia. Mas ventos são ventos. E é justamente a mudança deles que torna a história tão interessante.

Se Nicolau II, o último Czar, tivesse aceitado perder poderes e instaurado uma verdadeira monarquia constitucional no Império Russo, teria perpetuado os 300 anos dos Romanov? Talvez. Quando se deu conta que os tempos haviam mudado e resolveu renunciar, já era tarde. Acabou fuzilado com sua família.

Cercado por Maomé II durante 53 dias, Constantino XI, o imperador Bizantino, tinha consciência de que a derrota era o desfecho mais provável. Recuar ou honrar o último suspiro da “Roma do Leste”? O emergente Império Otomano destroçou Constantinopla.

Impérios caem pela impossibilidade de parar o relógio dos acontecimentos, e pela incapacidade – mesmo tendo consciência da necessidade – dos líderes de fazerem manobras drásticas.

Na história, “cair de pé” costuma ser a escolha mais comum.

*Ricardo Cappelli é jornalista e secretário de estado do Maranhão, cujo governo representa em Brasília. Foi presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) na gestão 1997-1999.