Partidos de esquerda repudiam comemoração do golpe de 1964 incentivada por Bolsonaro


Os partidos políticos de esquerda – PT, PSB, PSOL, PCdoB, PDT e PCB – condenaram a iniciativa do governo Bolsonaro de comemorar o golpe militar de 1964 que destituiu o presidente constitucional João Goulart.

Segundo a nota dos partidos, divulgada neste sábado (30), ele [Bolsonaro] afronta o país ao querer comemorar, ao arrepio da Constituição e da Lei, um regime ilegal e inconstitucional que por vinte e um anos perseguiu, torturou e matou opositores que defendiam a democracia.

Os partidos orientam também a mais ampla mobilização da sociedade para denunciar as tentativas do governo da extrema-direita de revisão histórica dos crimes e das violações da ditadura.

Leia a íntegra da nota dos partidos:

Um dia, 21 anos de ditadura

No dia 1º. de abril de 1964, tropas amotinadas do Exército Brasileiro depõem o presidente constitucional e democraticamente eleito do Brasil, João Goulart. O cargo presidencial foi declarado vago pelo Congresso Nacional ainda em presença do legítimo presidente em território Nacional.

Economia

Iniciava-se um regime autoritário que suprimiu liberdades e direitos civis e políticos, massacrou a oposição, perseguiu, sequestrou, torturou, matou e desapareceu com os corpos de militantes da resistência democrática.

Tal como hoje em que as liberdades democráticas estão sob ataque, o golpe militar contou com apoio da coalizão de todos os setores conservadores e reacionários do país.

Soube-se, anos depois, do papel absolutamente decisivo do imperialismo estadunidense, de lideranças políticas, empresariais, midiáticas e eclesiásticas que concorreram para que os setores militares que tomaram a frente do novo regime chegassem a essa intervenção militar que durou mais de 21 anos de autoritarismo.

Os partidos políticos abaixo signatários manifestam sua perplexidade com a desfaçatez com que o Presidente da República, Jair Bolsonaro, adota como chefe de Estado, ao arrepio da Constituição e da Lei, o discurso de louvação desse regime de exceção que marcou sua atuação como parlamentar e candidato. Repudiam a convocação pelo Presidente da República de atos de desagravo ao regime militar e aos piores algozes da democracia produzidos naquele período.

Não aceitam que qualquer instituição da República promovam o revisionismo histórico e negligenciem a verdade dos fatos que a sociedade brasileira pacientemente veio construindo nos anos de democracia que se sucederam ao regime de exceção, cujo ápice se encontra no relatório da Comissão Nacional da Verdade que concluiu seus trabalhos em 2014.

Assim, os partidos políticos que se expressam nessa nota apoiam os questionamentos formais feitos desses atos do novo Governo pelo Ministério Público Federal, no âmbito do Congresso Nacional e pela sociedade civil brasileira. Se associam aos atos convocados em todo o país pela democracia, pelo Estado Democrático de Direito, pelos Direitos Humanos e pelo Direito à Memória, à Verdade e a Justiça. Se irmanam às vítimas da ditadura, suas famílias e entidades representativas, na denúncia de seu sofrimento e na sua luta por reparação.

E reafirmam seu compromisso de continuar lutando contra os retrocessos sociais, econômicos e culturais que vêm sendo impostos ao povo brasileiro e à soberania da Nação por este novo Governo, cujas condições de governar vão desabando perante a população por desatinos e provocações como as que se anunciam para o 31 de março e o 1º. de abril de 2019.

Memória, Verdade, Justiça!

Ditadura Nunca Mais

Democracia Já

Brasília, 30 de março de 2019.

Carlos Luppi – Presidente nacional do PDT

Luciana Santos – Presidenta nacional do PCdoB

Carlos Siqueira – Presidente nacional do PSB

Edmilson Costa – Secretário-Geral nacional do PCB

Gleisi Hoffmann – Presidenta nacional do PT

Juliano Medeiros – Presidente nacional do PSOL