por Milton Alves*
No último sábado (22) fui visitar amigos no Rebouças, bairro onde morei por quase cinco anos, ocasião que aproveitei para caminhar pelas ruas centrais da região e observar mudanças significativas na paisagem do antigo reduto industrial da cidade.
Um pouco de história!¦
O antigo bairro Rebouças, que até meados do século XX abrigava a zona industrial da cidade, atravessa um período de renovação, de mudança de perfil. A história do Rebouças está profundamente vinculada à construção da ferrovia que liga Curitiba a Paranaguá, obra comandada pelos irmãos e engenheiros Antonio Pereira Rebouças Filho e André Rebouças, daí originando o nome do bairro.
A estrada de ferro impulsionou na época a industrialização da cidade e no Rebouças foram instaladas plantas industriais que se tornaram marcas emblemáticas de Curitiba e do estado, tais como: Matte Leão (hoje propriedade da Coca Cola), Chá Mate Real, Fiat Lux (Fósforos Pinheiro), Brahma, entre outras dezenas de empresas. Com a criação da CIC, na zona sul da cidade, o bairro passou por um período de estagnação, gerando imensos espaços vazios com galpões industriais desativados, depósitos fechados e várias ruas semi-desertas.
O bairro também abriga a famosa Ponte Preta (antigo Viaduto João Negrão), que serviu a linha de trem e foi tombada pelo patrimônio histórico do estado em agosto de 1976 – com a extinção da linha férrea foi transformada num ponto de atração turística da cidade.
Especulação x preservação
Bairro localizado próxima a região central, com menos de 20 mil habitantes, o Rebouças tem um perfil de classe média. à‰ servido por uma satisfatória rede de equipamentos urbanos e de infraestrutura.
Lá funcionam 18 bancos, 22 centros de saúde, 11 farmácias, 09 supermercados, 04 panificadoras. Além de instituições de ensino médio e de nível universitário.
O bairro tem em média 3,9 habitantes por domicílio. A região teve crescimento negativo nas décadas de 80 e 90, quando sua população baixou em 15 mil habitantes. Hoje tem crescimento de 0,33% ao ano.
Os índices avançaram a partir de 2006, quando 1.117 unidades de construção foram autorizadas, sendo 977 residenciais e 140 comerciais.
O decreto municipal 223, de 2003, criou o chamado o projeto Novo Rebouças!, que dividiu o bairro em três zonas, abrindo espaços para implantação de casas noturnas, bares, centros comerciais e outros empreendimentos. Na verdade, a decisão da administração municipal foi o ponto de partida para ações de incorporadoras e negócios do setor imobiliário na região. Na fisionomia atual do Rebouças pululam as construções de altos prédios residenciais. Incorporadoras e construtoras como Rossi, Thá, entre outras, avançam nos espaços valorizados do velho Rebouças.
Fenômeno que ocorre em escala mundial e que desafia planejadores e urbanistas a re-ocupação das áreas centrais, antes degradadas, fabris ou portuárias das grandes cidades, exige uma visão renovada sobre a apropriação desses espaços urbanos combinando revitalização, funcionalidade e preservação – condições quase sempre contraditórias para a pressa e a voracidade da especulação imobiliária.
O consórcio político e econômico que controla a administração municipal de Curitiba é prisioneiro da lógica da especulação imobiliária. O esvaziamento dos espaços de criação e planejamento urbano, a fatiga de material, a ausência de um debate democrático sobre os rumos da cidade, demandam um novo modelo de gestão, radicalmente inclusivo e participativo.
*Milton Alves é militante político, filiado ao PT.
Jornalista e Advogado. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.