Professores anunciam que não voltam com aulas presenciais no Paraná

  • Sindicato anuncia que professores e funcionários não retomarão atividades presenciais nas escolas públicas
  • Governo Ratinho convocou aulas presenciais para a próxima segunda-feira, dia 15.

A APP-Sindicato organiza uma coletiva de imprensa virtual com a participação do biólogo Lucas Ferrante, nesta quinta-feira (11), às 10 horas, pela gravidade de se iniciar as aulas presenciais nas escolas no estágio atual da pandemia. O Paraná vive o pior cenário de contaminação e óbitos desde o início da Covid-19.

Pelo decreto do governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), flexibilizando as regras de combate à doença, a rede estadual tem retorno previsto na próxima segunda-feira, dia 15. Segundo a decisão governamental, o modelo presencial será híbrido com revezamento de turmas.

O presidente do Sindicato, Hermes Silva Leão, com a coletiva, convida a imprensa para verificar a realidade das escolas públicas e suas condições, por isso, a greve que já havia sido definida em Assembleia da categoria volta a prevalecer. “É a greve em defesa da vida e da saúde!”, insiste.

“A APP-Sindicato vem se posicionando de forma bem objetiva na defesa da vida e da saúde da nossa nossa categoria, dos nossos estudantes, familiares e da sociedade paranaense. Entendemos que neste momento é necessário que o governo Ratinho Junior aprofunde as medidas de restrição para um lockdown total do estado do Paraná, imediatamente, para que assim o nível de contaminações e o alto índice de óbitos sejam barrados na gestão da pandemia”, reforça Hermes.

Os números mostram que Curitiba deve registrar 80 mortes diariamente no final deste mês de março, caso não sejam tomadas medidas para elevar o isolamento social. É o que aponta a Nota Técnica do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia sobre a epidemia na capital paranaense. Na contramão dos que ainda insistem na volta às aulas presenciais, o estudo recomenda mais restrições aos deslocamentos para impedir que o coronavírus continue se espalhando sem controle.

A educação presencial do Paraná movimentaria diariamente cerca de 1,6 milhão de pessoas em todo o estado do Paraná, entre educadores (120 mil), pais e responsáveis (400 mil) e alunos (1,1 milhão).

Economia

Segundo as autoridades sanitárias, o Paraná tem a maior taxa de contágio do País com 96,94 infecções por 100 mil habitantes.

Saiba quem é Lucas Ferrante

Biólogo, mestre em biologia, doutorando em biologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), que coordenou a nota técnica a pedido do Ministério Público do Estado do Amazonas e o trabalho também de classificação dos povos indígenas como grupo de risco da Covid-19.

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Curitiba deve registrar 80 mortes diariamente no final deste mês de março, caso não sejam tomadas medidas para elevar o isolamento social imediatamente. É o que aponta Nota Técnica do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia sobre a epidemia na capital paranaense. Na contramão dos que ainda insistem na volta às aulas presenciais, o estudo recomenda mais restrições aos deslocamentos para impedir que o coronavírus continue se espalhando sem controle. “A situação que se projeta para Curitiba por si só é grave, e o relaxamento do distanciamento social neste momento, além do retorno das aulas nas modalidades presencial ou híbrida deve agravar ainda mais a situação”, diz a Nota.

O documento reporta as conclusões de estudo adotando o modelo SEIR (Susceptíveis-Expostos-Infectados-Recuperados). Este modelo estatístico computacional constitui ferramenta primária para estudos epidemiológicos de resposta à Covid-19 a nível global. Os modelos SEIR têm predito com precisão o aumento de casos, internações, óbitos e a ocorrência de novas ondas no Brasil, a exemplo da segunda onda em Manaus. O texto alerta que “a negligência em ignorar estes resultados têm representado um alto custo de perda de vidas.”

O modelo SEIR projeta que Curitiba deve ter de 80 a 90 mortes diárias por Covid 19 no final de março e início de abril, podendo chegar a mais de 100 óbitos diários neste período, se não forem adotadas medidas mais rígidas de isolamento social. “A inviabilidade do retorno presencial ou híbrido para Curitiba neste momento é respaldada pelo modelo SEIR, onde estima-se que este retorno iria acelerar a transmissão da Covid-19, colocando em risco de infecção mais de 500 mil pessoas”, registra a Nota Técnica.

Curitiba teve duas ondas de Covid-19 em 2020, com picos de mais de 20 óbitos diários. A primeira onda teve seu auge em agosto e a segunda, em dezembro. A partir do final de fevereiro de 2021 ocorreu um aumento explosivo no número de casos e o modelo estatístico computacional SEIR projetou a curva de óbitos para 80 diários no final de março/início de abril. O modelo SEIR
prevê ainda que, com o agravante de não termos ainda um plano efetivo de vacinação, uma quarta onda de COVID-19 se forme a partir de julho.

O estudo reafirma a impossibilidade da volta segura às aulas presenciais nesse momento, também pela falta de condições mínimas de controle nas escolas. “A Organização Mundial da Saúde (OMS) é clara em definir que a retomada das aulas presenciais ou híbridas necessitam de um amplo programa de testagem, tendo como princípio diminuir o contágio de localidades em transmissão comunitária. Tal monitoramento e testagem não tem sido efetivado em proporções adequadas em nenhuma cidade brasileira, incluindo Curitiba”, aponta.

Aulas presenciais ou híbridas serão seguras, segundo o estudo científico, quando limiares de imunização de rebanho via vacinação forem adquiridos pela população, assegurando-se que a cidade em questão não esteja em níveis de transmissão comunitária.

O estudo cita o caso de Manaus como um alerta para os efeitos desastrosos de ignorar recomendações técnicas epidemiológicas. “O Brasil já possui exemplos claros que mostram as trágicas consequências de se negligenciar a aplicação de isolamento social e propiciar um retorno precoce das atividades não essenciais e aulas presenciais. A cidade de Manaus foi a primeira capital do Brasil a flexibilizar a abertura do comércio e retomar as aulas presenciais, ignorando recomendações técnicas que previam um aumento de casos. Após três semanas do retorno presencial do ensino fundamental, o número de casos de Covid 19 no município dobrou, resultando na segunda onda”, diz a Nota.

O fato de que a retomada das aulas presenciais em Manaus foi o gatilho que desencadeou a segunda onda de Covid 19 em Manaus foi reconhecido pela Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas, segundo o estudo. “A terrível experiência de Manaus deixa clara a inviabilidade de retorno presencial ou híbrida quando o município ainda está em estado de transmissão comunitária”, conclui.

A Nota Técnica Avaliação da Pandemia de Covid 19 em Curitiba no Estado do Paraná, Necessidade de Lockdown e Medidas Mais Restritivas foi elaborada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Impa), a pedido do Núcleo Sindical Curitiba Sul da APP. O Impa faz parte do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.