Nos últimos dias, o estado do Paraná tem sido palco de intensas manifestações lideradas pelos policiais civis. Os profissionais têm realizado caminhadas em direção à sede da polícia estadual, com o intuito de reivindicar melhores condições de trabalho e expressar sua oposição à proposta de reestruturação da carreira. Em uma entrevista exclusiva concedida ao Blog do Esmael, Valquíria Tisque, presidente do Sindicato das Classes Policiais Civis do Estado do Paraná (Sinclapol), discutiu os motivos que levaram a essa mobilização e destacou as preocupações da categoria. Abaixo, assista a íntegra da entrevista.
As manifestações e paralisações promovidas pelos policiais civis refletem a insatisfação com um projeto de reestruturação que está em tramitação na Assembleia Legislativa do Paraná. Valquíria Tisque explicou que a revolta se origina principalmente dos policiais da base da polícia civil, como investigadores, escrivães, papiloscopistas e agentes de operações. Segundo ela, o projeto em questão foi proposto sem a devida consulta à categoria ou ao sindicato, que é responsável por representar os interesses dos policiais civis. Essa falta de diálogo prévio tem gerado um sentimento de injustiça entre os profissionais, uma vez que o projeto propõe a unificação dos cargos de escrivão e investigador, com acúmulo de funções, sem uma devida remuneração para a nova estrutura.
A isso podemos chamar de multifucionalidade, onde as classes policiais tomarão a função uma da outra sem que haja compensação salarial. Em perpectiva, isso aumentará ainda mais a carga de trabalho com a mesma remuneração atual. Ou seja, é nesse contexto que o Sinclapol denuncia o quadro de semiescravidão proposto pelo Palácio Iguaçu.
Um dos pontos que mais tem revoltado a categoria é a disparidade salarial entre os cargos da base e os delegados de polícia. Enquanto os policiais da base enfrentam a perspectiva de unificação com um aumento de responsabilidades sem uma devida compensação salarial, os delegados terão um significativo aumento em decorrência dessa reestruturação. Essa diferença salarial é vista como uma grande injustiça e tem contribuído para a indignação dos policiais civis.
A dirigente sindical aproveitou a entrevista exclusiva para denunciar casos de assédio moral na Polícia Civil e citou exemplos em que agentes foram assassinados, outros cometeram suicídio, devido à precariedade das condições de trabalho e à pressão dos delegados. Sem diagnosticar a doença, Valquíria Tisque descreveu casos de Síndrome de Burnout, também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional, que é um disturbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade. A principal causa da doença é justamente o excesso de trabalho.
Outros aspectos do projeto de reestruturação também têm gerado controvérsias, como a imposição de 160 horas de sobreaviso além da carga horária regular de trabalho, sem uma adequada remuneração. Essa condição é considerada análoga à escravidão pela presidente do Sinclapol, que ressalta que os policiais civis já enfrentam um ambiente de alta pressão e constantes perigos no exercício de suas funções. Essa realidade tem acarretado problemas de saúde e afastamentos, afetando a capacidade da categoria em desempenhar efetivamente suas atribuições de investigação e solução de crimes.
O objetivo das manifestações realizadas pelos policiais civis é chamar a atenção para a situação atual da categoria e para as consequências negativas que o projeto de reestruturação poderia acarretar. Valquíria Tisque enfatizou a importância do trabalho de investigação policial na solução de crimes e ressaltou que a categoria está perdendo a oportunidade de exercer plenamente essa função.
A proposta feita pelo governador Ratinho Jr. (PSD) no estado do Paraná tem enfrentado críticas de servidores públicos. A categoria defende que a diferença salarial acumulada desde 2016 supera a cifra de 42%. A solução proposta pelo governo estadual sugere um reajuste de 2,4% a ser implementado a partir de 1º de agosto. No entanto, os servidores argumentam que essa medida não é suficiente para compensar as perdas salariais acumuladas. Apontam também que outras categorias de servidores públicos, como servidores do Ministério Público, do Judiciário e da Assembleia Legislativa, tiveram aumentos salariais maiores, o que agrava ainda mais sua insatisfação.
Devido à falta de valorização e tratamento desigual por parte do governo, os servidores públicos têm questionado a competência administrativa de Ratinho Jr., que sonha voos maiores, como chegar a Presidência da República. Teria o mandatário estadual capacidade para tal audácia? A área da segurança pública sugere que não, que Ratinho Jr. não tem cacife para marchas mais longas.
Apesar de o governador enfatizar a crise econômica enfrentada pelo estado, os servidores públicos argumentam que, sendo a terceira ou quarta maior economia do país, o Paraná tem condições de honrar seus compromissos salariais com seus servidores públicos.
Nesta situação, os sindicatos de policiais têm desempenhado um papel crucial na defesa dos interesses dos servidores públicos. A presidente do sindicato, Valquíria, denuncia o tratamento desigual e a falta de valorização do governo. Valquíria e o sindicato têm se dedicado a representar os servidores públicos do Paraná, especialmente os policiais, na busca por melhores condições de trabalho, remuneração justa e igualdade salarial. Eles têm se envolvido ativamente nas negociações com o governo, levantando demandas dos servidores públicos e defendendo melhorias em suas carreiras.
Além disso, o sindicato tem sido um importante canal de mobilização e organização dos servidores públicos, promovendo manifestações, assembléias e outras ações em defesa de seus direitos. Valquíria tem utilizado sua posição de liderança para ampliar as vozes dos servidores públicos e pressionar o governo a atender suas demandas.
Nesta segunda-feira, por exemplo, a presidente do Sinclapol convocou todos os servidores públicos a comparecerem às 14 horas na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), que colocará em votação emendas parlamentares nas mensagens governamentais. E, na terça, após essa apreciação, os textos serão votados na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Assista a íntegra da entrevista com Valquíria Trisque, presidente do Sinclapol-PR:
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