Parabéns, Brasília pelos 60 anos; obrigado pela audiência

Brasília, 60 anos, dá a terceira maior audiência do País para o Blog do Esmael. Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil.

Brasília completa hoje, 21 de abril, 60 anos. É a capital federal do Brasil e a sede de governo do Distrito Federal.

A terceira cidade mais populosa do país é, coincidentemente, a terceira cidade brasileira que mais dá audiência para o Blog do Esmael.

Muito obrigado aos brasilienses e aos “candangos” pela confiança e audiência, que elevam essa página sobre política à condição de uma das mais lidas no Brasil.

Inaugurada em 21 de abril de 1960, pelo então presidente da República Juscelino Kubitschek, Brasília tornou-se formalmente a terceira capital do Brasil, após Salvador e Rio de Janeiro.

Apesar de sua beleza, vocações múltiplas, os governantes insistem em manter a capital federal socialmente desigual. Mas ela se destaca pela qualidade de vida, baixa violência e atrai pela alta renda da classe média.

Obrigado, Brasília. Parabéns pelos 60 anos.

Economia

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A claridade de Brasília fechou a retina dos olhos verdes do garoto Will, com 14 anos incompletos. Era 13 de janeiro de 1959, ele fazia sua primeira viagem de avião, vindo de São Paulo para morar na nova capital federal. O voo era da Viação Aérea de São Paulo (Vasp), uma das seis companhias que mantinham rotas regulares para Brasília, como a Loide Aéreo Nacional, Real Aerovias, Paraense, Sadia, Cruzeiro do Sul, todas extintas.

De dentro do avião teve a primeira miragem da amplidão do cerrado, no qual Juscelino Kubistchek decidiu criar a cidade. Mesmo lugar onde, 60 anos mais tarde, Wilson Pereira Rodrigues, agora com 74 anos, ainda vive com sua família e trabalha. Ele tem três filhos (um homem e duas mulheres) e duas netas. Todos brasilienses.

Will ou Wilson tem memórias de Brasília do ar, da terra e da água. Quando menino, tomava banho no Córrego Guará e no Riacho Fundo. Andava de bicicleta, comia fruta do cerrado no pé e caçava passarinho em uma área de mata que ia da antiga Cidade Livre (hoje Núcleo Bandeirante) até próximo ao antigo aeroporto (hoje Base Aérea).

“A sensação era de estar de férias no meio do mato. Era o oposto de morar em São Paulo”, onde ficaram avós, tios e primos. Wilson se divertia, mas estudava – no Ginásio Brasília (GB) da rede La Salle (fundado em 1957) – e trabalhava, no Hotel e Churrascaria Presidente, na mesma Cidade Livre, de propriedade do seu pai – um pequeno empresário que depois teve outros negócios como uma distribuidora de gás (na Asa Norte), uma padaria e uma madeireira (em Sobradinho).

Wilson ajudou o pai nos negócios e depois serviu o Exército em 1964, no batalhão da Presidência da República. Mais tarde, concluiu estudos no colégio Elefante Branco, primeiro centro de ensino científico e para normalistas na cidade. Lá estudava a sua futura esposa, Walkiria Dunguel Pereira, por quem que se encantou numa festa do clube da Sociedade Desportiva Sobradinhense (Sodeso). Ele trabalhou na Companhia de Erradicação de Favelas (CEI), e fez curso de Geologia na Universidade de Brasília (UnB).

“Tudo aqui foi mais fácil. Não teria feito o curso que fiz se tivesse ficado em São Paulo. Também foi mais fácil criar meus filhos”, avalia após rever a vida. Trabalhou por quase 20 anos na estatal Siderúrgica (Siderbrás), onde se tornou um dos maiores especialistas em carvão do país. Hoje, anistiado entre os empregados públicos demitidos no governo Collor, trabalha no Ministério de Minas e Energia.

Outras vocações
A trajetória de Wilson, na Brasília que se inaugurava, foi bastante diferente dos rumos que os filhos tomaram quando Brasília se amadurecia, perdia a vegetação original e criava mais jeito de cidade. O filho mais velho, Alexandre Dunguel Pereira (49 anos), por exemplo, é formado em Publicidade. Chegou a trabalhar em repartição pública, mas há 20 anos é empresário, apesar das recomendações da mãe – que sempre o informa de concursos públicos que estão com inscrições abertas.

Junto com outros dois sócios na mesma faixa etária, também criados em Brasília, Dunguel abriu uma firma para soluções em comunicação e tecnologia. Com o tempo, se especializaram em monitoramento de mídia. Hoje a empresa mantém a sede em Brasília, dispõe de filiais no Rio e em São Paulo, tem cerca de 100 clientes – a maioria empresas privadas e 80% fora da capital federal – e emprega 90 pessoas nas três praças. “Acabou que esse percurso pela iniciativa privada foi se abrindo e se tornou um bom caminho”, diz o empresário.

As diferenças das jornadas do pai e do filho ilustram como Brasília, apesar de ser a sede da administração pública federal, com o tempo encontrou outras vocações econômicas. De acordo com estudo da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), no Distrito Federal, predomina o setor de serviços, e menos de um terço (27%) dos empregos estão nas repartições da administração pública, na defesa ou seguridade social.

O setor de serviços atende a empresas e famílias com alto poder aquisitivo. Segundo a Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rendimento médio real no 4º trimestre de 2019 em Brasília foi o maior do país: R$ 3.980, 43% acima da média nacional (R$ 2.261) e 28% acima de São Paulo (R$ 2.866), que concentra 31% da massa de rendimento do Brasil.

Fincando raízes
Dunguel, como o pai, acha Brasília “ótima para viver”. E apesar de ter um trabalho que pode ser feito remotamente de qualquer lugar, ainda mora, trabalha e cria a sua filha na cidade. “A gente vai fincando raízes. Eu sou filho de Brasília.” Segundo ele, o Plano Piloto de Lúcio Costa ficou preservado “em alguns aspectos” conforme pensou o urbanista. “Aqui tem muito verde e espaço aberto.” Nesses lugares, é comum ver animais silvestres.

Apesar do entusiasmo, Alexandre Dunguel, tem suas críticas. Acha que sua filha, Gabriela (12 anos), não desfruta da mesma autonomia e independência que ele tinha na mesma idade. “As gerações atuais não têm a mesma iniciativa que a gente tinha de pegar um ônibus. A gente sente um pouco sequestrado dessa liberdade, por conta da violência urbana, mas isso não é só Brasília.”

O professor de Sociologia da UnB Arthur Trindade, especializado em políticas de combate à criminalidade e ex-secretário de Segurança Pública no Distrito Federal, avalia que, apesar da preocupação da sociedade local, Brasília tem uma situação de crimes letais “semelhante a grandes cidades norte-americanas.”

Na comparação entre as unidades da Federação, o Distrito Federal está entre as cinco unidades com menor taxa de homicídio por 100 mil habitantes: 20,1 – quase a metade do Rio de Janeiro (38,4) e menos de um terço do Rio Grande do Norte (62,8), a pior situação do país como aponta o Atlas da Violência 2019, editado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Segundo Arthur Trindade, o maior problema de segurança em Brasília está nos crimes contra o patrimônio, como furtos e roubos de carro. O especialista alerta, no entanto, que a situação varia dentro do DF. O Plano Piloto, onde moram Alexandre e Wilson, tem situação de segurança melhor que outros lugares, como as antigamente chamadas cidades-satélites ou os novos assentamentos urbanos distritais. “São coisas bem diferentes. Cada região administrativa tem uma situação distinta.”

O problema da violência cresce nas proximidades do Distrito Federal, na região metropolitana de influência chamada de Entorno, formada por municípios de Goiás. Essas localidades funcionam como cidades dormitórios de Brasília, as pessoas moram lá e trabalham no centro da capital. O professor aponta que “o impacto da violência no Entorno é bem menor que o imaginário supõe. [No caso das estatísticas de homicídio,] as pessoas matam e morrem nos seus bairros.”

Desigualdade
As diferenças apontadas pelo sociólogo quanto à violência entre as regiões administrativas do Distrito Federal e entre o DF e o Entorno também podem ser medidas com relação à desigualdade.

Dados da Codeplan contabilizam que no Lago Sul, onde vive 1% da população do DF, a renda per capita é de R$ 8.317,19. Na Ceilândia, onde moram 15% da população local, a renda per capita é de R$ 1.120,02 – 7,42 vezes menor que a do Lago Sul.

No Setor Complementar de Indústria e Abastecimento (SCIA), a renda per capita é de R$ 569,97 – 14,59 vezes menor que a do Lago Sul. Na área, vive 1,2% da população do DF, inclusive os moradores que residiam próximos ao Lixão da Estrutural, o maior aterro sanitário da América Latina em funcionamento até dois anos atrás.

O professor e especialista em geografia urbana Telmo Amand Ribeiro, que mantém um canal no YouTube sobre Brasília, discorda dessa avaliação.

Ele ressalta que “as antigas cidades-satélites já estão virando novos redutos para a classe média”. O youtuber, no entanto, se preocupa com a exclusão das pessoas mais pobres do DF e sua retirada para o Entorno. “O Distrito Federal inteiro está gentrificando e expulsando gente para a região do Entorno”.

A situação socioeconômica de Brasília faz com que seus críticos a chamem de “ilha da fantasia”. Para Telmo Amand, o termo pode caber para o Plano Piloto, área central e mais rica da cidade, que “está fisicamente separada das demais regiões administrativas do Distrito Federal”.

A mesma avaliação faz o diretor do Instituto de Ciência Política da UnB, Lucio Rennó, que, em entrevista à Agência Brasil, destacou que “o conjunto do Distrito Federal e as adjacências não têm nada de ilha da fantasia”.

Em termos nacionais e até internacionais, a desigualdade de Brasília não a diferencia de outras partes do mundo. O sociólogo e economista Marcelo Medeiros, ex-morador da cidade, considera que “a desigualdade é alta em vários países e o que vemos em Brasília se repete na Argentina, na África do Sul, nos Estados Unidos e na China. A desigualdade é um problema global e se torna evidente nas metrópoles.”

As discrepâncias da capital federal não correspondem aos sonhos do primeiro brasileiro que quis trazer para o interior do Brasil a sede do poder: Tiradentes, cujo dia também é lembrado em 21 de abril. Duzentos e trinta anos depois dos inconfidentes, o país ainda não é a pátria imaginada.

Com informações da Agência Brasil

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Bolsonaro é uma ofensa à memória de Tiradentes, herói nacional

Neste feriado de 21 de abril, é momento de reflexão de todos os brasileiros de quão é ofensivo o presidente Jair Bolsonaro à memória de Joaquim José da Silva Xavier –o nosso Tiradentes, patrono cívico do Brasil e de várias polícias militares e civis nos estados.

Bolsonaro é o avesso de Tiradentes porque ele [o presidente] é da linhagem vira-lata, que se submete ao estrangeiro, vide a relação de submissão canina ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Essa dependência emocional do capitão brasileiro é motivo de chacota em cartoons aqui e alhures.

Tiradentes morreu enforcado no dia 21 de abril de 1792, qual seja, há 228 anos porque organizara uma revolta contra o excesso de impostos da Coroa de Portugal em Minas Gerais. O grupo também almejava uma revolução pela independência nacional.

Os Inconfidentes Mineiros foram delatados aos portugueses por Joaquim Silvério dos Reis, símbolo de traição nacional, em troca do perdão de suas dívidas com a Real Fazenda.

Bolsonaro tem sido comparado a Silvério dos Reis nesses tempos de coronavírus, e com razão.

O presidente da República tem feito gestões contra o confinamento social que podem levar à morte milhões de brasileiros. Além disso, Bolsonaro assegura que bancos e especuladores preservem seus bilionários e até trilionários rendimentos, às custas do orçamento público, enquanto deixa o povo passando fome e à própria sorte.

A grave crise econômica no Brasil atual é anterior à pandemia da Covid-19, fruto de escolhas políticas e ideológicas –submissas a Trump e aos EUA– contrárias aos interesses e à soberania nacional.

Bolsonaro faz um governo de traição nacional quando esmaga direitos sociais da sociedade e dos trabalhadores brasileiros, atenta contra o patrimônio público, se alia aos mais ricos para subjugar os mais pobres e desvalidos.

Desde a Proclamação da República no Brasil, em 1889, Tiradentes é considerado herói nacional. O mártir foi criado pelos republicanos com a intenção de ressignificar a identidade brasileira.

Portanto, Bolsonaro é uma ofensa à memória de Tiradentes e à tradição republicana do Brasil.

Repórteres Sem Fronteiras diz que liberdade de imprensa se deteriora com Bolsonaro

A chegada ao poder do presidente Jair Bolsonaro tensionou a relação do governo federal com a imprensa e contribuiu para o país caísse duas posições no Ranking 2020”, afirma a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) em seu relatório anual da liberdade de imprensa divulgado nesta terça-feira (21).

O Brasil ocupa agora o 107° lugar, entre 180 países listados, à frente do Mali e atrás de Angola (106°), Montenegro (105°) e Moçambique (104°). A primeira posição na lista é da Noruega, seguida por Finlândia, Dinamarca e Suécia, enquanto a Coreia do Norte está na última colocação, à frente do Turcomenistão.

No ano passado, o país já havia caído três posições em relação à edição anterior. A RSF alerta que essa queda deve continuar, “na medida em que o chefe do Executivo segue incentivando ataques a jornalistas e meios de comunicação”.

A ONG afirma a eleição de Bolsonaro “marcou a abertura de um período especialmente sombrio para a democracia e a liberdade de imprensa” e que o presidente “promove sistematicamente um clima de ódio e de desconfiança em relação à imprensa” e que, em meio à pandemia, “o governo federal redobrou os ataques, questionando quase que diariamente a cobertura da crise sanitária”.

A entidade também ressalta que “o ‘gabinete do ódio’ que cerca o presidente brasileiro publica ataques em larga escala a jornalistas que fazem revelações sobre políticas do governo” e sublinha que “desde o início da epidemia de coronavírus, Jair Bolsonaro redobrou seus ataques à imprensa, que ele considera responsável por uma ‘histeria’ destinada a gerar pânico no país”.

A concentração da mídia brasileira, “sobretudo nas mãos de grandes famílias, com frequência, próximas da classe política”, também foi abordado pela ONG, que apontou que “o sigilo das fontes é com frequência questionado e muitos jornalistas investigativos são alvo de processos judiciais abusivos” no Brasil.

Com informações da DW.