O Movimento Brasil Livre (MBL) decidiu jogar a bomba no tabuleiro político de Curitiba. O alvo? O vereador João Bettega (União Brasil). Sob a acusação de quebra de decoro parlamentar, o grupo protocolou nesta segunda-feira (12) um pedido de cassação contra o parlamentar, transformando a Câmara Municipal em um campo minado.
O líder nacional do MBL, deputado federal Kim Kataguiri (União-SP), se manifestou publicamente nas redes sociais defendendo a cassação de Bettega. Em um vídeo contundente, Kataguiri afirmou: “Nosso compromisso com a ética não é negociável.” O deputado parabenizou os assessores de Bettega que pediram exoneração em protesto contra o silêncio do vereador.
Kataguiri explicou que os próprios assessores de Bettega, militantes do MBL, denunciaram o vereador após ele se recusar a expor a condenação de José Luiz Velloso. “João Bettega preferiu não se envolver porque tinha medo de se queimar com bolsonaristas”, disparou o deputado.
Tudo começou quando ex-funcionários de Bettega, em um movimento coletivo raro na política, pediram exoneração e denunciaram o vereador. O estopim? A suposta omissão de Bettega ao não denunciar a nomeação de José Luiz Velloso, indicado ao cargo pelo PL, condenado por improbidade administrativa, como presidente do Instituto Municipal de Turismo de Curitiba.
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De acordo com a denúncia apresentada pelos ex-assessores de Bettega, entre eles Willian Pedroso da Rocha, Luiz Felipe Martins França e outros, o vereador foi informado da nomeação de Velloso, mas optou por não comunicar o fato às autoridades. Em vez disso, teria guardado essa informação como “carta na manga” para uso político.
Segundo a denúncia, Bettega teria declarado em um áudio: “É interessante a gente ter essa carta na manga e a gente usa quando precisar”. A estratégia, no entanto, se voltou contra ele.
José Luiz Gonçalves Velloso foi condenado por improbidade administrativa em uma ação movida pelo Ministério Público do Paraná. Conforme o Acórdão da 5ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Paraná, Velloso recebeu R$ 29.300,00 em doações particulares que foram consideradas ilegais, resultando em enriquecimento ilícito (Processo nº 0000498-53.2017.8.16.0043).
O documento destaca que o ex-secretário de Saúde de Antonina recebeu valores de Waldir Gmach dos Prazeres, empresário do setor de transportes, em troca de benefícios fiscais indevidos. A sentença transitou em julgado em 2024.
Com a divulgação do caso, o prefeito de Curitiba, Eduardo Pimentel, exonerou José Luiz Velloso do cargo de presidente do Instituto Municipal de Turismo. A decisão foi tomada na semana passada, em um movimento para conter o desgaste político.
O pedido de cassação de Bettega é visto por muitos como uma tentativa do MBL de se distanciar do escândalo e reconstruir sua imagem pública. Nos bastidores, o primeiro suplente Alexandre Leprevost (União) aguarda como herdeiro natural da cadeira.
Leprevost, irmão do deputado Ney Leprevost (União), é uma figura conhecida no meio político de Curitiba e tem interesse direto na crise envolvendo Bettega.
Enquanto o MBL promete uma coletiva de imprensa para explicar os motivos do pedido de cassação, a pergunta que circula é outra: o movimento está mesmo preocupado com a ética ou apenas deseja eliminar um aliado incômodo?
O Blog do Esmael segue acompanhando o caso, trazendo as análises e os bastidores de quem conhece o poder por dentro.
Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.