Extremismo está matando o ex-jornal Gazeta do Povo, que respira por aparelhos

A Gazeta do Povo respira por aparelhos. O ex-jornal deixou de circular offline [impresso] em abril de 2017, antecipando o funeral dos demais jornalões impressos no país — especialistas nas fake news.

O alerta vem do antenadíssimo professor e jornalista Valdir Cruz, que ensinou gerações de profissionais da imprensa nos bancos de universidades de Curitiba.

O remédio para notícias falsas continua sendo pluralidade de fontes, o fim da ditadura da opinião única, proibição da propriedade cruzada, e neutralidade da rede com a universalização da internet.

Com o fim do impresso, o ex-jornal Gazeta do Povo saiu do armário de carona na Lava Jato para se assumir como um “portal de extrema direita” – embora ele já viesse sendo pilotado antes pela ultraconservadora e medieval Opus Dei.

[O site extremista O Antagonista, que também apostou no lavajatismo e no ódio, teve que afrouxar a tanga para o grupo Folha/UOL em nome da sobrevivência.]

Valdir Cruz diz que a Gazeta pode fechar enquanto o jornal de bairro Folha do Boqueirão, na capital paranaense, anuncia que voltará a circular nos próximos dias.

Economia

– A Gazeta prevê que não aguenta mais três meses. E, desesperadamente, pede apoio à comunidade. Está vendendo assinatura por um terço do valor original – anota o professor de jornalismo, para quem o desaparecimento do portal deixará triste muita gente.

– Uma grande pena. O caminho que a direção adotou, de forma totalmente equivocada, afastou anunciantes e leitores. Ao apostar em colunistas semianalfabetos, repetitivos, misóginos, machistas e anticiência, a Gazeta engatou a marcha-ré – observa o professor.

Valdir Cruz avalia que se tivesse investido no jornalismo local, em colunistas locais, não estaria no desespero que está. “O erro estratégico deu no que deu.”

– A morte de um jornal causa em nós, jornalistas, a dor mais dolorida que existe.

A seguir, leia a íntegra do apelo de um anúncio no site e carta enviada a possíveis assinantes da Gazeta do Povo:

Até quando iremos suportar?

Podemos fazer uma pergunta honesta a você que acompanha a Gazeta do Povo?

Você sabe se a Gazeta vai estar no ar em novembro? Ou em janeiro de 2023? Você está certo disso?

Nós não estamos.

Sendo sinceros, ainda operamos no vermelho e isso nos deixa em uma situação de vulnerabilidade.

Nossa grande aposta para reverter este quadro foi dar o maior desconto na assinatura: pague só R$ 10/mês até as eleições.

Muita gente decidiu nos apoiar, mas o ritmo ainda não é o suficiente.

E chegou a hora de encerrar esta promoção.

Iremos encerrar nossa promoção nas próximas horas.

Para um veículo que opera no prejuízo é complicado deixar uma super promoção no ar por muito tempo porque o custo de produzir conteúdo de qualidade é elevado.

São apenas R$ 10 por mês nos primeiros seis meses. Você cancela quando quiser.

Depois disso o valor continua baixo, só R$ 23,90/mês.

E, quer saber? Temos certeza de que você vai querer ficar conosco.

Não pense que estamos exagerando no nosso receio de sobrevivência.

Uma campanha de cancelamento, uma decisão judicial ou alguma nova regulação do governo pode rapidamente inviabilizar o negócio.

Você pode pensar que dificilmente o governo faria algo assim. Mas tem candidato falando em regulação da mídia. E o viés judicial e das campanhas de cancelamento você já conhece.

A única forma de você ter certeza de que vai poder contar com a postura corajosa da Gazeta depois das eleições é assinando.

Neste momento, estamos preparando a cobertura mais importante da nossa história.

Estamos fazendo um esforço enorme para dar a maior qualidade possível a essa cobertura essencial.

Um esforço também permeado pelo receio do que vai acontecer no dia seguinte à contagem dos votos.

Seria uma pena esse trabalho não ir adiante, não é mesmo?

Mas sabemos que podemos contar com você, um cidadão interessado no debate público e na construção de um país sem corrupção, próspero e livre.

Não espere alguém responder por você.

Podemos contar com o seu apoio?

Um abraço,
Equipe Gazeta do Povo