Dívida pública consome a maior fatia do orçamento federal em 2025 e explica por que o ajuste fiscal recai sobre políticas sociais. Os dados do Portal da Transparência mostram que, dos R$ 4,81 trilhões pagos até agora, quase metade está ligada direta ou indiretamente ao serviço e refinanciamento da dívida.
Quanto foi pago e onde está o peso
O orçamento atualizado de 2025 soma R$ 5,74 trilhões. O valor efetivamente pago chega a R$ 4,81 trilhões, com 96% referentes ao próprio exercício e apenas 4% a restos a pagar.
Dentro desse montante, duas rubricas concentram o problema estrutural das contas públicas.
Juros e amortizações
O programa Operações Especiais: Serviço da Dívida Interna (juros e amortizações) responde por 11,98% de tudo o que foi pago no ano. Já Operações Especiais: Refinanciamento da Dívida Interna absorve 28,19% adicionais.
Somadas, essas duas linhas alcançam 40,17% de toda a despesa executada em 2025. Em termos práticos, quatro em cada dez reais pagos pelo governo federal servem para rolar dívida ou remunerar credores.
Natureza da despesa revela a engrenagem
Quando o recorte é por natureza da despesa, o desenho fica ainda mais claro.
Amortização e refinanciamento da dívida representam 36,83% do total pago. Juros e encargos da dívida somam 7,56%. Juntas, essas categorias atingem 44,39% da execução orçamentária.
Ou seja, quase metade do dinheiro público não vira política pública direta, mas custo financeiro.
Quem recebe
O ranking dos favorecidos confirma a centralidade do sistema financeiro. Entre os maiores beneficiários aparecem Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES, além de bancos privados como Itaú, Santander, C6 e Agibank.
Não se trata de gasto social bancarizado, mas da engrenagem técnica da dívida administrada pelo Ministério da Fazenda, em articulação com o Banco Central do Brasil, que opera como mesa dos oligarcas do sistema financeiro.
Comparação com áreas sociais

A assimetria é evidente. Previdência social responde por 50,08% do gasto por função, mas saúde fica em 10,43%, educação em 7,88% e assistência social em 13,96%.
Mesmo somadas, saúde e educação não alcançam o volume destinado apenas ao refinanciamento da dívida interna.
Leitura política do dado
O discurso de contenção de despesas costuma mirar políticas sociais, servidores e investimentos. Os números de 2025 mostram que o verdadeiro centro de gravidade do orçamento está nos encargos financeiros herdados de uma estrutura de dívida cara, sensível a juros elevados e pouco debatida fora do jargão técnico.
Enquanto o ajuste incide sobre o gasto primário, o serviço da dívida segue como despesa intocável, blindada do debate público mais amplo.
A execução orçamentária de 2025 escancara um paradoxo. O Estado brasileiro existe, em larga medida, para pagar sua própria dívida. Sem enfrentar o custo estrutural dos juros e do refinanciamento, qualquer debate fiscal seguirá deslocando o conflito para o lado mais fraco da equação.
O que esperar em 2026
Esse quadro fica ainda mais explícito quando se observa o Orçamento da União para 2026, aprovado pelo Congresso Nacional em dezembro de 2025. Do total de R$ 6,5 trilhões em despesas, cerca de R$ 3,0 a R$ 3,2 trilhões estão reservados para juros e amortizações da dívida pública.
Em termos diretos, quase metade do Orçamento federal é capturada pelo serviço da dívida antes de qualquer escolha política. O que sobra precisa acomodar previdência, saúde, educação, assistência social, investimentos e o próprio funcionamento do Estado. É essa assimetria, mais do que qualquer gasto social, que explica por que o debate fiscal no Brasil segue distorcido.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.




