Em seu editorial, a Folha de S.Paulo voltou a criticar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por sua deferência ao presidente russo Vladimir Putin, durante a celebração do Dia da Vitória em Moscou. Para o jornal, a presença de Lula ao lado de líderes de países não alinhados ao eixo Washington-Bruxelas seria um “constrangimento” para o Brasil.
Mas a crítica da Folha, longe de ser uma análise isenta, revela a velha postura da grande mídia brasileira de subserviência aos interesses dos Estados Unidos e da Europa Ocidental. É o mesmo viés que levou os principais jornais do país a reproduzirem mentiras sobre uma suposta operação militar americana de resgate na embaixada argentina na Venezuela — que nunca aconteceu.
A diplomacia brasileira, sob a liderança de Lula, retoma seu eixo histórico de independência e multilateralismo, afastando-se da visão de mundo estreita que relega o país ao papel de mero coadjuvante dos interesses ocidentais. O Brasil é parte essencial do BRICS, bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia e China, e que constitui um importante contraponto econômico às políticas protecionistas e belicosas de Donald Trump, personagem que, para a velha mídia brasileira, parece não ter defeitos.
Ao participar das celebrações em Moscou, Lula reafirma o compromisso do Brasil com uma política externa que dialoga com todos os países, sem se submeter a uma única potência. Diferente da narrativa vendida pela Folha, o encontro não é um “beijo-mão” em Putin, mas sim o reforço de uma aliança estratégica com nações que representam uma fatia considerável da economia global.
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A presença de Lula ao lado de líderes do BRICS é uma afirmação da soberania brasileira em sua política externa. Trata-se de uma posição que fortalece o Brasil no cenário internacional e lhe confere autonomia nas negociações globais, algo que incomoda profundamente aqueles que preferem ver o país como um satélite de Washington.
É revelador que o mesmo jornal que acusa Lula de “constranger” o Brasil ao dialogar com a Rússia não dedique uma única linha crítica às políticas de Donald Trump ou às ações belicosas de Washington ao redor do mundo. No passado, os mesmos veículos que hoje criticam Lula reproduziram sem questionar a versão americana sobre o golpe na Venezuela, inclusive inventando uma operação militar que jamais ocorreu na embaixada argentina.
A insistência em demonizar qualquer movimento diplomático que não se alinhe cegamente ao ocidente revela o verdadeiro constrangimento da velha mídia: o de ver o Brasil exercer sua soberania em um mundo multipolar.
Lula não está “beijando a mão” de Putin. Ele está reafirmando que o Brasil é um país independente, com uma diplomacia própria e que não se curva aos ditames de Washington.
Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.