O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), rasgou o próprio calendário, cancelou a sabatina de Jorge Messias para o STF e acusou o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de cometer “omissão grave” ao não enviar ao Congresso a mensagem oficial da indicação. A ruptura expõe uma crise aberta entre Planalto e Senado, joga a disputa para 2026 e fragiliza ainda mais a relação com a Casa que mais sustentou o governo até aqui.
Na prática, Alcolumbre afrouxou a tanga ao cancelar sabatina de Messias. A arguição do AGU, no quadro de fervura política, mais atende ao governo do que ao próprio presidente do Senado. O congressista ficou contrariado porque desejava emplacar o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) no STF, embora a indicação seja uma prerrogativa do presidente da República.
A divulgação de uma pesquisa mostrando que Alcolumbre figura entre as imagens mais negativas do país pode ter contribuído para o recuo do senador, que deseja fritar Messias acelerando a sabatina em meio a um clima de conflagração política.
A decisão pelo cancelamento foi anunciada nesta terça, contrariando o cronograma que previa a leitura do relatório nesta quarta e a sabatina no dia 10. O gesto de Alcolumbre revela um recuo, embora ele tenha divulgado uma nota criticando o governo. Segundo o próprio presidente da Casa, sem a mensagem formal o Legislativo não pode deliberar sobre a indicação.
O senador afirmou que a falha do governo é “grave e sem precedentes” e relatou irritação com o que enxergou como interferência indevida do Executivo nas prerrogativas do Senado. A demora virou combustível para aliados interpretarem a conduta do Planalto como tentativa de manipular o calendário para dar fôlego adicional a Messias, que enfrenta resistência no plenário.
O senador Weverton Rocha (PDT-AM), relator da indicação, avaliou que o cancelamento reduz a temperatura e recolocou “o pino na granada”. O maranhense relatou a Lula que Alcolumbre ficou profundamente incomodado com rumores de negociação de cargos em troca de votos, o que “não é verdade”, segundo relato do líder do PSD, Omar Aziz.
A percepção predominante entre senadores é que Messias avançará quando Lula fizer afagos a Alcolumbre. O próprio Weverton afirmou que o presidente pretende procurar o chefe do Senado assim que retornar da viagem ao Nordeste, provavelmente entre quinta e segunda.
Nos bastidores, aliados de Alcolumbre admitem que a votação deve ser empurrada para depois das eleições de 2026. A avaliação é pragmática: quanto mais próximo do calendário eleitoral, mais difícil mobilizar votos e mais elevado o custo político de uma indicação vista como conflituosa.
O cancelamento também beneficia, paradoxalmente, Messias. Com o processo paralisado, o indicado de Lula ganha tempo para conversar com senadores, desconstruir resistências e tentar evitar a repetição de um cenário histórico. Nenhum nome para o STF é rejeitado desde o século 19. Uma derrota agora abriria uma crise institucional às vésperas do ano eleitoral.
No Planalto, prevalece o alívio estratégico. Integrantes admitem que seria temerário colocar a indicação em votação com risco real de derrota. “Melhor não votar do que perder”, reconheceu um auxiliar do governo.
A indicação de Messias foi anunciada no feriado da Consciência Negra, sem aviso prévio a Alcolumbre, que defendia o nome de Rodrigo Pacheco. Depois do anúncio, o governo não enviou de imediato a documentação ao Senado, o que ampliou a irritação na cúpula da Casa e gerou questionamentos sobre o procedimento.
O episódio ocorre em meio a outros atritos entre Executivo e Legislativo, como as tensões sobre emendas, investigações que alcançam o centrão e disputas com impacto direto na governabilidade. A AGU, ainda sob o comando de Messias, também enfrenta dilemas jurídicos envolvendo decisões do Congresso, o que adiciona complexidade ao tabuleiro.
O governo Lula busca retomar o diálogo com o Senado após o cancelamento da sabatina, enquanto avalia os próximos passos para viabilizar a indicação de Messias.
No lado oposto, a cúpula do Senado indica que pretende manter o controle do processo e não sinaliza disposição para acelerar o rito sem a formalização completa. O impasse permanece aberto e a disputa tende a continuar nas próximas semanas, porém com a tanga mais folgada.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.



