A escolha do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como candidato do bolsonarismo à Presidência em 2026 implodiu, de uma vez, o plano do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que vinha sendo preparado pelo centrão e pela elite financeira como sucessor natural de Jair Bolsonaro. A decisão foi fechada na prisão da PF, em Brasília, onde está o ex-presidente.
Flávio saiu do encontro com o pai com a “missão divina” de liderar a direita. Nas redes, assumiu o discurso messiânico, disse que não ficará de “braços cruzados” e atacou o governo do presidente Lula (PT). Reuniu a cúpula do PL, conversou com Tarcísio e disparou o recado: o sobrenome Bolsonaro continuará na cabeça de chapa.
A reação veio com força. Líderes do centrão afirmam que Bolsonaro priorizou a sobrevivência da própria família, não um projeto competitivo contra Lula. A leitura dominante nesse campo é que Flávio divide a direita, enfraquece Tarcísio e devolve o protagonismo eleitoral ao presidente petista.
Nos bastidores, siglas como PP, PSD, União Brasil e Republicanos avaliam lançar candidaturas próprias. A percepção comum é dura: Flávio carrega alta rejeição e passivos políticos, como o caso das rachadinhas, enquanto Tarcísio vinha sendo testado como alternativa viável entre governadores conservadores.
A escolha também atropela o alinhamento religioso que se formava em torno do governador paulista. Pastores influentes de grandes denominações vinham demonstrando preferência aberta por Tarcísio, visto como mais sólido para sustentar o espólio bolsonarista e mais “palatável” no eleitorado evangélico. A entrada de Flávio foi classificada por líderes religiosos como “tiro no pé”, além de evidenciar falta de coordenação política do clã.
Mesmo no mercado financeiro, o baque foi imediato. A disparada do dólar, que fechou a R$ 5,43, e a queda de mais de 4% na Bolsa reforçaram a percepção de que Tarcísio era o nome favorito da Faria Lima. A candidatura de Flávio é vista como fator de fragmentação, aumentando a probabilidade de reeleição de Lula.
Apesar das tensões, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro correu para legitimar a escolha do marido e de Flávio. Publicou nas redes apoio explícito ao senador em meio a disputas internas pelo comando do PL e por influência na militância conservadora.
Para completar o quadro, o centrão projeta isolamento político ao senador. A aposta de dirigentes é que o PL caminhará sozinho em 2026, com baixa capacidade de aglutinar apoios. A avaliação é direta: Bolsonaro resgata o patriarcado político, preserva a família, mas perde a eleição.
A candidatura de Flávio, porém, cumpre um objetivo simbólico do ex-presidente: manter o nome Bolsonaro circulando enquanto ele cumpre pena em regime fechado por tentativa de golpe de Estado.
No xadrez da direita, a mensagem é clara. O gesto do pai liquidou a novela da sucessão bolsonarista e encerrou, ao menos por ora, o projeto presidencial de Tarcísio.
Adeus, Tarcísio.
O movimento de Bolsonaro reforça o que este Blog vem mostrando: a direita vive um colapso de liderança e um conflito interno que a impede de apresentar um projeto robusto ao país. Flávio surge como escolha afetiva, não estratégica, e arrasta consigo o risco de uma derrota anunciada. Para Lula, 2026 começa com a oposição enfraquecida e dividida. Para o eleitorado conservador, começa a temporada dos desencontros.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.




