Nassif: lava jato vai destruir o Bolsonarismo

O jornalista Luis Nassif afirma em brilhante artigo que a lava jato, com R$ 2,5 bilhões em caixa [dois], vai destruir o bolsonarismo.

O alerta pegou os correligionários do presidente Jair Bolsonaro (PSL) de calças curtas durante o feriadão de Carnaval, período que veio à tona uma publicação do procurador Deltan Dallagnol sobre o bilionário “caixa dois” formado pela força-tarefa com dinheiro público da Petrobras.

“Seria importante que mídia, Judiciário, juristas, partidos políticos, se dessem conta, enquanto é tempo, do monstro político que estão criando”, advertiu Nassif, referindo-se à lava jato.

LEIA TAMBÉM
PT irá ao Supremo contra caixa dois da lava jato

A ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) classificou o “caixa dois” e a estratégia de eliminação do bolsonaranismo como uma atitude do PLJ (Partido da Lava Jato).

Já o ex-senador Roberto Requião (MDB-PR) denunciou em suas redes sociais o “achaque” da lava jato e pediu a prisão dos procuradores envolvidos na criação de fundo privado para gerir R$ 2,5 bilhões.

Economia

A seguir, leia a íntegra do artigo de Luis Nassif:

Com 2,5 bi em caixa, a Lava Jato se prepara para substituir o bolsonarismo

Ainda não caiu a ficha da mídia sobre o que significa essa jogada da Lava Jato, de administrar R$ 2,5 bilhões bancados pela Petrobras. Foi montada uma fundação de direito privado que será totalmente controlada pelos procuradores e juízes da 13ª Vara Federal de Curitiba, o núcleo da Lava Jato. Apenas com a aplicação dos recursos, serão gerados R$ 160 milhões anuais, segundo nota do Ministério Público Federal do Paraná.

A fundação terá um administrador escolhido pelo Procurador Chefe da Procuradoria da República de 1a instância. E selecionará as figuras da sociedade civil que comporão o conselho, compartilhando a supervisão com o juiz da 13ª Vara Federal, a de Sérgio Moro.

Todo esse dinheiro poderá ser aplicado em iniciativas de combate à corrupção. Ou seja, qualquer consultor, colega procurador, ONG amiga, palestrantes ou consultores indicados por Rosangela Moro ou Carlos Zucolotto, poderá apresentar projetos para serem financiados.

A ideia de que haverá fiscalização do TCU ou outros órgãos é ilusória. Qualquer projeto que tenha a capa da campanha anticorrupção terá cumprido os requisitos exigidos. Não haverá licitação para escolha dos projetos, nem a garantia da isenção partidária. Serão aqueles que forem selecionados pelo Conselho da Lava Jato. E serão aqueles com afinidades pessoais, profissionais ou políticas com a Lava Jato.

Lava Jato e a tomada do poder
E aí é necessário se aprofundar um pouco na gênese do bolsonarismo. O movimento de ultradireita recente nasceu no Paraná, em parte devido às pregações de Olavo de Carvalho, nos anos 90. Mas, principalmente, em torno da defesa da Lava Jato.

Há alguns anos, qualquer crítica à Lava Jato no YouTube ou Facebook atraia varejeiras de todos os quadrantes, com o discurso agressivo que marcaria posteriormente o bolsonarismo. A Lava Jato é a bandeira unificadora, filha dileta da mais conservadora sociedade brasileira, a paranaense. Bolsonaro é apenas uma marca fantasia, um acidente de percurso, o candidato à mão que mais se aproximava da personalidade Neandertal dos grupos gestados em torno das bandeiras da Lava Jato.

Os Bolsonaro estão longe do estereótipo de famílias ilustres como os Genovese, Gambino, Bonanno ou Colombo. Delas têm apenas a falta de limites morais e de qualquer noção de civilidade. Mas falta aos Bolsonaro capacidade mínima para exercer qualquer liderança que vá além da ofensa primária. Seu perfil familiar é muito mais próximo de Kate Baker e outras famílias desajustadas na depressão dos Estados Unidos.

Ao contrário da Lava Jato, que, além de usar e abusar do poder de Estado, tem entrada nas Forças Armadas, Judiciário, mídia, blogosfera de direita e grupos empresariais, os Bolsonaro não tem acesso ao sistema. Não se sabe até quando resistirão as fantasias em torno de Sérgio Moro, à vista de suas limitações, que se tornam mais nítidas a cada dia. Mas a bola continua com a Lava Jato.

Como a Lava Jato se tornou uma organização política, esse dinheiro servirá para financiar uma estrutura política de apoio por todo o país. As verbas estão garantidas e nem serão necessários laranjas, como os do PSL. Basta uma fundação, uma associação, um clube, uma consultoria em qualquer parte do país, empunhando as bandeiras da Lava Jato, de luta contra a corrupção, para se enquadrar nos estatutos da fundação e obter aportes financeiros.

O Movimento Brasil Livre foi financiado com R$ 5 milhões, com a missão grandiosa de defender a iniciativa privada. Gerou um batalhão de candidatos políticos.

Lava Jato e os negócios
Outros objetivos da fundação são menos letais, como estimular os programas de compliance. Ai visaria apenas consolidar o milionário mercado de palestras e consultorias para os maiores especialistas em processos contra empresas: os próprio lavajateiros, seguindo os passos do procurador Carlos Fernando Lima, que anunciou sua aposentadoria e sua futura carreira no mercado de compliance.

Com essas jogadas se está criando um partido político riquíssimo, com agentes do Estado exercendo poder de Estado se apropriando de verbas públicas, com autonomia em relação à Procuradoria Geral da República e aos poderes constituídos.

No Xadrez de ontem, lembrei casos narrados pelas obras sobre o fascismo, do início do ovo da serpente. Seria importante que mídia, Judiciário, juristas, partidos políticos, se dessem conta, enquanto é tempo, do monstro político que estão criando, permitindo que R$ 2,5 bilhões e meio sejam utilizados para financiamento dos propósitos políticos da Lava Jato.

Texto originalmente publicano no Jornal GGN.