Por que lembrar 29 de abril?

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Ao completar um ano do massacre promovido pelo governador Beto Richa (PSDB) e sua equipe, fica a pergunta: quais os motivos para se preservar na lembrança os fatos ocorridos no Centro Cívico em Curitiba, no dia 29 de abril de 2015? Leia a seguir na coluna de  Bruno Meirinho (PSOL). 

Por que lembrar 29 de abril?

Bruno Meirinho*

Hoje completa um ano do episódio de 29 de abril, quando ocorreu o massacre à manifestação dos professores que se reuniam em frente à Assembleia Legislativa do Estado do Paraná, no Centro Cívico de Curitiba.

Um dia para ser lembrado. Lembramos com lamento, com tristeza. Na verdade, poderia ser um dia para ser esquecido, mas escolhemos lembrar.

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Nesse dia, milhares de educadores protestavam contra a manobra do governo do Paraná para saquear os recursos reservados para as aposentadorias dos professores. Para ser possível, a medida precisava da aprovação dos deputados estaduais.

Inconformados com o “desprendimento” com que governo e deputados lidam com o recurso alheio, professores se reuniram para expressar sua insatisfação. Estavam dispostos a impedir que a medida fosse aprovada.

Com forte aparato policial, que incluiu carros blindados, helicópteros e cães, os líderes dos poderes executivo e legislativo prepararam a sessão de votação. Transportados em um camburão, deputados favoráveis ao governo mandaram serrar a grade lateral da Assembleia Legislativa e entraram por ali, desprezando a porta da frente, interditada pela manifestação.

O aparato policial montado em praça pública foi proporcional à mediocridade dos deputados estaduais governistas. Alheios à comoção geral, votaram a medida que atacaria os recursos reservados às aposentadorias dos servidores.

Do lado de fora, a polícia agredia os manifestantes com bombas e tiros. Centenas de feridos, das feridas que se vê pelo corte e pelo sangue, e incontáveis cicatrizes nas almas de todos aqueles que acreditaram que seria possível evitar o pior.

O Paraná ainda está ferido por essas agressões. A crise financeira não justifica o ataque aos recursos reservados para as aposentadorias, e para aqueles que ainda acreditam que os governos não são capazes de atacar a previdência, há algumas semanas o Estado do Rio de Janeiro resolveu exibir a prova e simplesmente deixou de pagar a aposentadoria de parte dos seus aposentados e pensionistas, com danos irreparáveis a essa população tão vulnerável.

Ninguém pode dar credibilidade aos cálculos do governo do Paraná que queriam convencer que a manobra não prejudicaria as futuras aposentadorias. Eis a ciência mais inexata: o futuro.

E o passado nos ajuda a não repetir os erros. Por isso é importante lembrar do 29 de abril, muito embora todos prefiram as lembranças felizes. Quando escolhemos lembrar desse episódio, nos preparamos para um futuro melhor: temos que ser capazes de eleger lideranças melhores, que possam nos orgulhar, e não nos envergonhar a toda vez que falam e agem.

Eis uma das marcas que nunca cicatrizam em nosso estado: o desrespeito dos governos aos professores. Em 1988 e 2015, governadores não se envergonharam de agredir os educadores, a mais nobre e ao mesmo tempo mais republicana das profissões.

E que boa lembrança podemos ter do passado de cada um de nós com nossos professores, que nos ajudam, com sua generosidade infinita, a construir nosso futuro, ontem, hoje e sempre. Por tudo isso, é preciso lembrar de 29 de abril. Pela memória dos nossos mestres. Para que pare de se repetir.

*Bruno Meirinho é advogado, foi candidato a prefeito de Curitiba. É o coordenador local da Fundação Lauro Campos, instituição de formação política do PSOL. Ele escreve no Blog do Esmael às sextas-feiras sobre “Luta e Esperança”.

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